Porto do Rio Grande em 1908

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domingo, 6 de agosto de 2017

BANDA MUSICAL ROSSINI

Banda Rossini. 

Em 30 de novembro de 1890, um grupo de italianos fundaram na cidade do Rio Grande a Banda Musical Gioachino Rossini. O patrono da banda o compositor Giochino Rossini, nasceu em 29 de fevereiro de 1792 na cidade de Pessaro e faleceu em 13 de novembro de 1869 em Passy, ambas cidades da Itália.
A primeira apresentação ocorreu em 20 de setembro de 1891 quando das festividades da Revolução Farroupilha. Desde 1882 com a fundação do Clube Vinte de Setembro, o movimento farroupilha e o republicanismo sofreram um resgate histórico por intelectuais e políticos. Em 1889, com a queda da monarquia, a república foi instaurada no Brasil e em nível regional, o Partido Republicano Rio-Grandense começou a impor sua modalidade de prática administrativa. A banda nasceu num momento político tumultuado de transição da monarquia para a república com enfrentamentos entre monarquistas, liberais e conservadores.

AS BANDAS

Em sua origem, a banda era um grupo de instrumentistas, de sopro e percussão, que marchava à frente das formações militares ou dos cortejos festivos, remontando o seu uso aos povos orientais, gregos e romanos. Mais tarde, esses conjuntos foram-se aprimorando com a adoção de instrumentos mais aperfeiçoados (trompas, trombetas, tubas, flautas, tambores, etc), e nos exércitos são constituídos  por soldados destinados unicamente à música. A banda militar ou marcial desenvolveu-se sempre dentro do princípio de conduzir a tropa, e ainda hoje se destina a estabelecer o ritmo da marcha. Num sentido genérico a banda consiste num conjunto de músicos em que predominam os executantes de instrumentos de metal e tambores, destinados tanto ao uso militar quanto ao civil.
Conforme José Ramos Tinhorão, uma das poucas oportunidades que a maioria da população das principais cidades brasileiras tinha de ouvir qualquer espécie de música instrumental, na segunda metade do século 19, era a música domingueira dos coretos e praças, proporcionada pelas bandas marciais. Foi desta necessidade de entremear as marchas militares com músicas do agrado do público de gosto eminentemente popular, que as bandas de corporações militares começaram a incluir em seus repertórios os gêneros mais em voga do tempo: as valsas, as polcas, as mazurcas e o maxixe. Eram esses ritmos populares, que algumas dessas bandas já estavam tocando nos bailes de máscaras realizados nos teatros, durante o carnaval, e logo passariam a tocar também nas sedes das chamadas Sociedades – os clubes formados por foliões que disputavam a primazia carnavalesca em desfiles com carros alegóricos.
Empregadas como conjuntos instrumentais para animar bailes carnavalescos e tocar em coretos, procissões e festas de adro de igreja, as bandas de corporações fardadas iam encontrar em 1896, o mais duradouro núcleo de formação de instrumentistas já criado no Brasil: a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.
A popularização do gênero musical se deu com as bandas militares, porém paulatinamente surgem as bandas sem esta vinculação como é o caso da Banda Rossini.

A CIDADE E A BANDA

A Banda Rossini há 109 anos participa de acontecimentos ligados à história da cidade do Rio Grande. Quando do acidente com o navio Araçatuba no molhe leste, no ano de 1933, a Banda percorreu as ruas de São José do Norte acompanhando o entusiasmo da população pelo sucesso no salvamento dos passageiros. Segundo informações de Antonio Baldez Ávila (presidente da Banda), inúmeros acontecimentos são comentados ou relembrados pelos atuais membros. Quando do cinqüentenário da Rossini, o Jornal Rio Grande (19/11/1940) divulgou a programação das comemorações com apresentação da Banda no Club-Teatro Leão XIII, missa na Igreja Nossa Senhora Auxiliadora, retreta na Praça Xavier Ferreira e desfile pelas ruas da cidade com as músicas que embalavam aquele tumultuado período marcado pela Segunda Guerra Mundial. Uma curiosidade deste período é que entre os festejos do cinqüentenário ocorreu uma atividade que foi encerrada ao som do Hino Nacional, sendo posteriormente servido um copo d’água aos participantes. Na época, “copo d’água” significava refrigerante e/ou cerveja.
A festa dos Navegantes de São José do Norte, uma devoção popular que remonta a primeira metade do século 19, teve uma sistemática participação da Banda. No Jornal Eco do Norte (15/02/1951) há uma referência a Rossini a qual apesar de “muito procurada na cidade fronteira veio abrilhantar as solenidades da festa dos Navegantes”. Numa destas passagens por São José do Norte um dos músicos, devido ao forte frio que fazia na cidade vizinha, pediu uma sopa quente “para restabelecer o ânimo”. No desdobramento do episódio a corporação passou a ser conhecida, até a atualidade, como banda da sopa quente.

         Dada a longevidade de mais de um século, a Banda apresenta uma historicidade que precisa ser pesquisada e cujo trabalho deve ser conhecido pela comunidade local. Quando falamos em patrimônio não devemos pensar apenas nos bens materiais dos períodos colonial, imperial ou republicano. A cultura acumulada na trajetória musical da Banda Rossini não consiste apenas em fragmentos do passado mas faz parte da historicidade atual. É parte do patrimônio Rio-grandino, o qual não se restringe a prédios, ruas ou documentos, mas também a notas e sons, a musicalidade no presente.
Banda Rossini. Década de 1920. 

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