Banda Rossini. |
Em 30 de novembro de 1890, um grupo de italianos fundaram na cidade do Rio Grande a Banda Musical Gioachino Rossini. O patrono da banda o compositor Giochino Rossini, nasceu em 29 de fevereiro de 1792 na cidade de Pessaro e faleceu em 13 de novembro de 1869 em Passy, ambas cidades da Itália.
A primeira apresentação ocorreu em 20 de
setembro de 1891 quando das festividades da Revolução Farroupilha. Desde 1882
com a fundação do Clube Vinte de Setembro, o movimento farroupilha e o republicanismo
sofreram um resgate histórico por intelectuais e políticos. Em 1889, com a
queda da monarquia, a república foi instaurada no Brasil e em nível regional, o
Partido Republicano Rio-Grandense começou a impor sua modalidade de prática
administrativa. A banda nasceu num momento político tumultuado de transição da
monarquia para a república com enfrentamentos entre monarquistas, liberais e
conservadores.
AS BANDAS
Em sua origem, a banda era um grupo de
instrumentistas, de sopro e percussão, que marchava à frente das formações
militares ou dos cortejos festivos, remontando o seu uso aos povos orientais,
gregos e romanos. Mais tarde, esses conjuntos foram-se aprimorando com a adoção
de instrumentos mais aperfeiçoados (trompas, trombetas, tubas, flautas,
tambores, etc), e nos exércitos são constituídos por soldados destinados unicamente à música.
A banda militar ou marcial desenvolveu-se sempre dentro do princípio de
conduzir a tropa, e ainda hoje se destina a estabelecer o ritmo da marcha. Num
sentido genérico a banda consiste num conjunto de músicos em que predominam os
executantes de instrumentos de metal e tambores, destinados tanto ao uso
militar quanto ao civil.
Conforme José Ramos Tinhorão, uma das poucas
oportunidades que a maioria da população das principais cidades brasileiras
tinha de ouvir qualquer espécie de música instrumental, na segunda metade do
século 19, era a música domingueira dos coretos e praças, proporcionada pelas
bandas marciais. Foi desta necessidade de entremear as marchas militares com
músicas do agrado do público de gosto eminentemente popular, que as bandas de
corporações militares começaram a incluir em seus repertórios os gêneros mais
em voga do tempo: as valsas, as polcas, as mazurcas e o maxixe. Eram esses
ritmos populares, que algumas dessas bandas já estavam tocando nos bailes de
máscaras realizados nos teatros, durante o carnaval, e logo passariam a tocar
também nas sedes das chamadas Sociedades – os clubes formados por foliões que
disputavam a primazia carnavalesca em desfiles com carros alegóricos.
Empregadas como conjuntos instrumentais para
animar bailes carnavalescos e tocar em coretos, procissões e festas de adro de
igreja, as bandas de corporações fardadas iam encontrar em 1896, o mais
duradouro núcleo de formação de instrumentistas já criado no Brasil: a Banda do
Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.
A popularização do gênero musical se deu com
as bandas militares, porém paulatinamente surgem as bandas sem esta vinculação
como é o caso da Banda Rossini.
A CIDADE E A
BANDA
A Banda Rossini há 109 anos participa de
acontecimentos ligados à história da cidade do Rio Grande. Quando do acidente
com o navio Araçatuba no molhe leste, no ano de 1933, a Banda percorreu as ruas
de São José do Norte acompanhando o entusiasmo da população pelo sucesso no
salvamento dos passageiros. Segundo informações de Antonio Baldez Ávila
(presidente da Banda), inúmeros acontecimentos são comentados ou relembrados
pelos atuais membros. Quando do cinqüentenário da Rossini, o Jornal Rio Grande (19/11/1940) divulgou a
programação das comemorações com apresentação da Banda no Club-Teatro Leão
XIII, missa na Igreja Nossa Senhora Auxiliadora, retreta na Praça Xavier
Ferreira e desfile pelas ruas da cidade com as músicas que embalavam aquele
tumultuado período marcado pela Segunda Guerra Mundial. Uma curiosidade deste
período é que entre os festejos do cinqüentenário ocorreu uma atividade que foi
encerrada ao som do Hino Nacional, sendo posteriormente servido um copo d’água
aos participantes. Na época, “copo d’água” significava refrigerante e/ou
cerveja.
A festa dos Navegantes de São José do Norte,
uma devoção popular que remonta a primeira metade do século 19, teve uma
sistemática participação da Banda. No Jornal Eco do Norte (15/02/1951) há uma referência a Rossini a qual apesar
de “muito procurada na cidade fronteira veio abrilhantar as solenidades da
festa dos Navegantes”. Numa destas passagens por São José do Norte um dos
músicos, devido ao forte frio que fazia na cidade vizinha, pediu uma sopa quente
“para restabelecer o ânimo”. No desdobramento do episódio a corporação passou a
ser conhecida, até a atualidade, como banda
da sopa quente.
Dada a longevidade de mais de um
século, a Banda apresenta uma historicidade que precisa ser pesquisada e cujo
trabalho deve ser conhecido pela comunidade local. Quando falamos em patrimônio
não devemos pensar apenas nos bens materiais dos períodos colonial, imperial ou
republicano. A cultura acumulada na trajetória musical da Banda Rossini não
consiste apenas em fragmentos do passado mas faz parte da historicidade atual.
É parte do patrimônio Rio-grandino, o qual não se restringe a prédios, ruas ou
documentos, mas também a notas e sons, a musicalidade no presente.
Banda Rossini. Década de 1920. |
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