Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

domingo, 6 de agosto de 2017

O INTELECTUAL ALFREDO FERREIRA RODRIGUES


       Alfredo Ferreira Rodrigues “iniciou a revisão do processo histórico dos Farrapos. Durante mais de trinta anos, levantou amorosamente, com exemplar honestidade e lúcida inteligência, vasta documentação sobre o decênio revolucionário, retificando pontos essenciais e esclarecendo definitivamente outros até ali obscuros ou desconhecidos. A sua figura vai encher um largo período de nossa historiografia, no século XX.” Guilhermino Cesar – História da Literatura do Rio Grande do Sul. 

     Nasceu a 12 de setembro de 1865 no distrito do Povo, desenvolvendo suas atividades profissionais e intelectuais em na cidade do Rio Grande e em Pelotas. Casou-se em 1893 com Honorina Silveira Rodrigues gerando treze filhos. Para sustentar a numerosa prole exerceu várias atividades: professor, comerciante, viajante comercial, redator e diretor de jornais etc. Trabalhou como revisor da Livraria Americana, em Pelotas, tornando-se gerente deste estabelecimento gráfico em Rio Grande, no período de 1891 a 1910. Em 1914, junto com o fundador do primeiro Tiro de Guerra no Brasil, Antônio Carlos Lopes, estabelecem a Drogaria Unicum. 

    Intelectual que desenvolveu atividades de ensaísta, historiador, cronista, poeta, crítico literário, jornalista, biógrafo, tradutor, folclorista, charadista e poeta, nas palavras de Hélio Moro Mariante, o patrono da cadeira vinte e um da Academia Rio-grandense de Letras “legou à posteridade uma extraordinária obra de alto valor cultural”. 

      O Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul foi editado entre 1889 e 1917 consistindo num importante acervo de divulgação de material historiográfico. Diferente de outros almanaques que existiram neste período no Rio Grande do Sul, a orientação de Ferreira Rodrigues centrou-se na história regional com divulgação de documentos, biografias, estatísticas, estudos críticos, com a presença de dezenas dos principais pesquisadores da história regional e platina durante a República Velha. A literatura e a poesia estão presentes, assim como charadas e enigmas. Para além de meras curiosidades, o editor buscou a divulgação de uma história regional fundada nos exemplos cívicos do passado condutores e mobilizadores dos homens no presente, buscando a legitimação e continuidade da República edificada a partir de 1889. A valorização das especificidades da história regional e local também são difundidas num período de acentuado federalismo e valorização da historicidade inerente à formação histórica gaúcha. 

     O historiador Otelo Rosa, num discurso proferido em 1935, enalteceu a atuação intelectual de Alfredo Ferreira Rodrigues com estas palavras: “A velha freguesia do Povo Novo, no município de Rio Grande, deu à Revolução Farroupilha duas figuras preclaras. Ali nasceu o general Antônio de Souza Neto, aquele galhardo rebelde que, em 12 de setembro de 1836, nos campos de Seival, proclamaria a República Rio-grandense (...) Muitos anos depois, ali nasceria Alfredo Ferreira Rodrigues, o homem a quem o destino reservaria a tarefa de mergulhar no passado do Rio Grande para trazer de lá, aos olhos deslumbrados da sua e de gerações seguintes, o reconto maravilhoso da pugna memorável...”. Otelo Rosa refere-se ao estudos sobre a Revolução Farroupilha que conduziram a vida intelectual de Ferreira Rodrigues. 

     Resgatar o projeto republicano farroupilha através do conhecimento daquele decênio repleto de acontecimentos, foi o objetivo que norteou os estudos deste pesquisador. Num documento assinado em Rio Grande no dia 16 de agosto de 1896, ele afirmou que “a Revolução de 1835, o mais belo padrão de glórias para o povo Rio-grandense, que, em dez anos de lutas, acentuou vigorosamente o seu valor, o seu patriotismo, a sua abnegação, morrendo pela República com uma heroicidade digna dos tempos antigos, ainda não tem história escrita”. Exatamente para elaborar esta história e dar prosseguimento ao trabalho de reunir documentos e aumentar o arquivo que já possuía, é que Ferreira Rodrigues faz um apelo: “Peço-lhes a remessa dos papéis relativos à revolução, comprometendo-me a devolvê-los, sem a menor falta, depois de copiar deles as informações que me parecerem aproveitáveis”. O resultado desta coleta e transcrição de documentos e jornais foi à formação de um arquivo com milhares de unidades que atualmente fazem parte do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. 

     A veneração a Bento Gonçalves da Silva, foi concretizada quando da realização de um concurso e posterior edificação na cidade do Rio Grande de um monumento dedicado ao líder farroupilha. A obra de arte que encontra-se na Praça Tamandaré e que guarda os restos mortais do mais popular general farroupilha, é de autoria do mestre português Antônio Teixeira Lopes. De certa forma, muito da atividade de redescoberta e difusão da Revolução Farroupilha promovida por Alfredo Ferreira Rodrigues está perpetuada neste monumento que ele tanto empenhou-se para ver erguido. 

      Alfredo Ferreira Rodrigues faleceu em Pelotas em 1942. Em homenagem ao centenário de seu nascimento em 12 de setembro de 1965, foi erguido um busto na praça Xavier Ferreira a poucos metros da entrada da Biblioteca Rio-grandense, um espaço cultural que por décadas ele frequentou e ajudou a difundir em todo o país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário