No livro A
Presença dos Imigrantes Alemães e sua Contribuição para a Economia e Cultura na
Cidade do Rio Grande (Pelotas: Editora Universitária/UFPEL, 2010), Wagner
Heinz pesquisou a trajetória da presença alemã e sua contribuição para o
desenvolvimento econômico e cultural da cidade.
O comércio e posteriormente a indústria,
foram fatores de atração para os alemães que se estabeleceram na cidade.
Diferente da imigração realizada por agricultores que utilizaram a mão-de-obra
familiar voltada ao plantio de várias culturas em minifúndio, os alemães em Rio Grande vieram para
exercer atividades ligadas ao comércio dinamizado pela condição portuária. O
Porto do Rio Grande permitiu o escoamento da produção rio-grandense e a conexão
com portos de várias partes do mundo, inclusive, com a Alemanha. Para termos
uma ideia, no ano de 1874, já existiam 63 estabelecimentos comerciais de
propriedade de alemães na cidade, sendo que 18 estavam ligados ao comércio de
exportação e importação, o segmento mais capitalizador. A amplidão desta
participação nas atividades econômicas locais foi muito significativa através
de empresas de exportação e importação como é o caso da mais antiga aqui
fundada, a Fraeb & Cia, de 1829. Em 1887 foi fundada a Livraria
Rio-Grandense por R. Strauch, que manteve produção gráfica até os primórdios da
década de 1940. Os contatos com Hamburgo eram expressivos. Um exemplo foi à
instalação da empresa hamburguesa Bromberg, que tinha várias casas comerciais
na cidade. A presença destes comerciantes foi marcante nas associações de
classe ou recreativas como a Câmara do Comércio (1844), Associação dos
Empregados no Comércio do Rio Grande (1901), Clube de Regatas Rio Grande
(1897), Sociedade Musical Alemã (1907), Clube Germânia (1863) e Escola Alemã. A
fundação do Sport Club Rio Grande, em reunião no Clube Germânia no dia 19 de
julho de 1900, marcou a história do futebol brasileiro. O fundador do Clube foi
o hamburguês Johannes Minnemann.
No ramo industrial a Rheingantz & Vater e
a charutos Poock & Cia, destacaram em nível de Brasil os comendadores
Carlos Rheingantz e Gustavo Poock.
Conforme Wagner Heinz, na cidade do Rio
Grande um pequeno núcleo Alemão foi atraído pela posição favorável ao comércio,
visto que nesta cidade tinha o único porto marítimo do Estado. Os alemães que
se instalaram em Rio Grande
em sua grande maioria já possuíam uma experiência comercial trazida de seu
país. Alguns deles foram capazes de enriquecer. Foram responsáveis pela
formação das primeiras indústrias do Estado, entre elas se destacou a
Rheingantz & Vater, que chegou a ter mais de 1.200 funcionários, introduziu
vários benefícios aos seus trabalhadores como, previdência, educação, saúde e
uma das primeiras empresas no país a construir uma vila operária contribuindo
para a formação de um proletariado urbano. Este movimento comercial e
industrial trouxe para Rio Grande marcas de uma sociedade urbano-industrial,
com elevado número de mão-de-obra e de capital.
Atrelado
a esta sociedade urbano-industrial, novas necessidades foram surgindo, não só
econômicas, mas também educacionais e culturais. Com a participação do pequeno
núcleo de alemães de Rio Grande foram formados clubes, escolas e associações.
Nomes como dos alemães Carlos Von Koseritz, Valeska Inah Martesen e Hermann Von
Hering, tiveram participação marcante na cidade, na fundação de escolas, nas
artes e nas ciências.
Os
imigrantes alemães e seus descendentes adotaram este país como sua pátria e Rio
Grande mesmo não sendo uma colônia foi foco de imigrantes que desempenhavam
atividades econômicas, com relativo destaque financeiro. Um dos principais
parceiros comerciais do Brasil era a Alemanha, num mercado internacional
disputado pelos Estados Unidos. Este relacionamento cordial foi abalado no ano
de 1942 com a declaração da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial que os
países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) são declarados inimigos. No mês de
agosto de 1942, ocorreu o saque e apedrejamento de sociedades, escolas,
empresas e igrejas. Estes movimentos foram responsáveis pelo arrasamento da
participação econômica e cultural germânica na cidade. Ao término da II Guerra
Mundial foram devolvidos todos os estabelecimentos aos alemães, boa parte já
não possuía mais condições de funcionamento. Desta sociedade alemã de Rio
Grande pouco restou, ficando somente alguns prédios de clubes, associações e de
antigas empresas.
Operários na Fábrica de Charutos Poock. Aproximadamente 1920. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário