A contagem regressiva para os 500 anos da
descoberta do Brasil vem suscitando reflexões e novas versões sobre os
acontecimentos e o sentido da colonização lusitana no Brasil. Uma reflexão
sobre os desdobramentos da expansão ultramarina portuguesa no Atlântico no
século XV e o sentido do sistema colonial mercantilista do Antigo Regime é de
maior interesse para os historiadores, porém não se deve ignorar as
divergências ligadas às versões da sucessão dos eventos relacionados ao
descobrimento. A herança de cinco séculos de inserção no processo histórico
europeu no binômio colônia/dependência persiste até o presente em relação ao
desenvolvimento histórico do capitalismo mercantilista/ industrial/
monopolista/ liberal/ estatista/ neoliberal. Essas discussões em nível do
processo histórico e dos imaginários voltados à colonização devem polarizar o
interesse dos pesquisadores.
Uma
revisão dos eventos relacionados à chegada de Pedro Alvares Cabral ao Brasil
vem acrescentando outras versões não oficiais ao descobrimento. A principal
destas versões refere-se à expedição do português Duarte Pacheco Pereira que
chegou ao Brasil aproximadamente um ano e meio antes de Cabral. Sendo verídica
esta interpretação, os festejos dos 500 anos do descobrimento deveriam ser
realizados entre novembro e dezembro do ano em curso e não em 22 de abril do
ano 2000.
O
navegador e astrônomo português Duarte Pacheco Pereira relata em
manuscrito “Esmeraldo de situ orbis”
(1505-1508) a respeito de uma viagem secreta ao Brasil em 1498. O rei de
Portugal D. Manoel I, envia uma expedição para descobrir terras no Novo Mundo
que vinha sendo colonizado pela Espanha desde a chegada de Cristóvão Colombo em
ilhas da América Central em 1492.
A frente da expedição está Duarte Pacheco Pereira
considerado um exímio navegador e militar enviado por D. Manoel I que entre
novembro e dezembro de 1498, chegou em algum ponto do litoral brasileiro na
fronteira entre o Maranhão e o Pará, percorrendo a Ilha do Marajó e a foz do Rio
Amazonas. A expedição e o retorno a Portugal foram mantidos em sigilo devido
aos problemas políticos que poderiam desencadear com os espanhóis. O
descobridor ainda envolveu-se em atividades militares na Índia e África, sendo
decantado suas façanhas por Luís de
Camões no canto X de Os Lusíadas como o “Aquiles lusitano”.
Diferenciado
da descoberta oficial por Cabral e com a documentação produzida no momento dos
acontecimentos através do diário de Pero Vaz de Caminha, que tiveram o papel de
oficializar a descoberta, a interpretação relacionada com Duarte Pacheco
Pereira está envolta nas atividades secretas de sua missão pois as terras
pertenciam à Espanha conforme o Tratado de Tordesilhas. Os manuscritos ficaram
quase 400 anos sem o conhecimento público, reaparecendo no final do século
passado. Outras “possíveis” viagens até o Brasil podem ter ocorrido antes de
1498, e pelo caráter secreto das missões não deixaram registros ou os
documentos ainda não foram divulgados. Um exemplo que indica possíveis expedições
secretas é um mapa português de 1502 com a topografia do litoral brasileiro do
Amazonas até o Cabo Frio. Os portugueses, oficialmente não haviam percorrido o litoral brasileiro
para descrevê-lo.
Como os historiadores trabalham e dialogam,
ou deveriam, com fontes documentais, possíveis viagens anteriores de
navegadores da Europa ou de outros continentes não devem ser descartadas a
prióri mas necessitam de vestígios materiais ou documentais para o
estabelecimento de interpretações científicas. Os estudos históricos e
arqueológicos poderão em breve, lançar novas luzes sobre o processo de
“descobrimento europeu” do Brasil, no qual Cabral não foi o marco primevo mas o
marco oficial de uma descoberta não casual e sim planejada pela monarquia
lusitana e pelos templários da Ordem de Cristo.
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