Porto do Rio Grande em 1908

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domingo, 6 de agosto de 2017

DESCOBRIMENTO, DESCOBRIMENTOS

A contagem regressiva para os 500 anos da descoberta do Brasil vem suscitando reflexões e novas versões sobre os acontecimentos e o sentido da colonização lusitana no Brasil. Uma reflexão sobre os desdobramentos da expansão ultramarina portuguesa no Atlântico no século XV e o sentido do sistema colonial mercantilista do Antigo Regime é de maior interesse para os historiadores, porém não se deve ignorar as divergências ligadas às versões da sucessão dos eventos relacionados ao descobrimento. A herança de cinco séculos de inserção no processo histórico europeu no binômio colônia/dependência persiste até o presente em relação ao desenvolvimento histórico do capitalismo mercantilista/ industrial/ monopolista/ liberal/ estatista/ neoliberal. Essas discussões em nível do processo histórico e dos imaginários voltados à colonização devem polarizar o interesse dos pesquisadores.
         Uma revisão dos eventos relacionados à chegada de Pedro Alvares Cabral ao Brasil vem acrescentando outras versões não oficiais ao descobrimento. A principal destas versões refere-se à expedição do português Duarte Pacheco Pereira que chegou ao Brasil aproximadamente um ano e meio antes de Cabral. Sendo verídica esta interpretação, os festejos dos 500 anos do descobrimento deveriam ser realizados entre novembro e dezembro do ano em curso e não em 22 de abril do ano 2000.
         O navegador e astrônomo português Duarte Pacheco Pereira relata em manuscrito  “Esmeraldo de situ orbis” (1505-1508) a respeito de uma viagem secreta ao Brasil em 1498. O rei de Portugal D. Manoel I, envia uma expedição para descobrir terras no Novo Mundo que vinha sendo colonizado pela Espanha desde a chegada de Cristóvão Colombo em ilhas da América Central em 1492. A frente da expedição está Duarte Pacheco Pereira considerado um exímio navegador e militar enviado por D. Manoel I que entre novembro e dezembro de 1498, chegou em algum ponto do litoral brasileiro na fronteira entre o Maranhão e o Pará, percorrendo a Ilha do Marajó e a foz do Rio Amazonas. A expedição e o retorno a Portugal foram mantidos em sigilo devido aos problemas políticos que poderiam desencadear com os espanhóis. O descobridor ainda envolveu-se em atividades militares na Índia e África, sendo decantado suas façanhas  por Luís de Camões no canto X de Os Lusíadas como o “Aquiles lusitano”.
         Diferenciado da descoberta oficial por Cabral e com a documentação produzida no momento dos acontecimentos através do diário de Pero Vaz de Caminha, que tiveram o papel de oficializar a descoberta, a interpretação relacionada com Duarte Pacheco Pereira está envolta nas atividades secretas de sua missão pois as terras pertenciam à Espanha conforme o Tratado de Tordesilhas. Os manuscritos ficaram quase 400 anos sem o conhecimento público, reaparecendo no final do século passado. Outras “possíveis” viagens até o Brasil podem ter ocorrido antes de 1498, e pelo caráter secreto das missões não deixaram registros ou os documentos ainda não foram divulgados. Um exemplo que indica possíveis expedições secretas é um mapa português de 1502 com a topografia do litoral brasileiro do Amazonas até o Cabo Frio. Os portugueses, oficialmente  não haviam percorrido o litoral brasileiro para descrevê-lo.
Como os historiadores trabalham e dialogam, ou deveriam, com fontes documentais, possíveis viagens anteriores de navegadores da Europa ou de outros continentes não devem ser descartadas a prióri mas necessitam de vestígios materiais ou documentais para o estabelecimento de interpretações científicas. Os estudos históricos e arqueológicos poderão em breve, lançar novas luzes sobre o processo de “descobrimento europeu” do Brasil, no qual Cabral não foi o marco primevo mas o marco oficial de uma descoberta não casual e sim planejada pela monarquia lusitana e pelos templários da Ordem de Cristo. 

Em meio à discussão e polêmica dos descobrimentos europeus, não devemos esquecer que a origem do descobrimento está relacionada às populações indígenas que há milênios iniciaram o povoamento das terras hoje denominadas de Brasil (matéria publicada em março de 2000).  


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