Durante a Revolução Farroupilha (1835-1845) a cavalaria
se fez presente e caracterizou militarmente o conflito. A cavalaria farroupilha
tornou-se lendária e na sua época foi um pesadelo para as tropas imperiais. O
italiano Giuseppe Garibaldi eternizou em seu diário a admiração e respeito pela
bravura do coronel Joaquim Teixeira Nunes, líder do I Corpo de Lanceiros Negros
(corpo de cavalaria formado por negros livres ou libertos durante a Revolução): “Eu vi batalhas disputadas mas
nunca e em nenhuma parte homens mais valentes nem lanceiros mais brilhantes do que
os da cavalaria rio-grandense, em cujas fileiras comecei a desprezar o perigo e
a combater pela causa sagrada dos povos”. Garibaldi, que muito aprendeu
militarmente nestes combates e levou esta experiência para as guerras de
libertação italiana, deixou um registro emotivo daquilo que vivenciou no Rio
Grande do Sul e do papel da cavalaria de lanceiros: "E repassando na memória as vicissitudes da minha
vida no vosso meio, em 6 anos de atividade de guerra, de constante prática de
ações magnânimas como que em delírio exclamo! Onde estão agora esses belicosos
filhos do Continente, tão majestosamente intrépidos nos combates? Onde Bento
Gonçalves, Netto, Canabarro, Teixeira Nunes e tantos valorosos lanceiros que
não me lembro! Que o Rio Grande ateste com uma modesta lápide o sítio em que
descansam os seus ossos; e que vossas belíssimas patrícias cubram de flores
esses santuários das vossas glórias."
Teixeira Nunes foi um dos comandantes dos Lanceiros
Negros e já tinha uma experiência nos combates platinos desde sua participação
na Guerra da Cisplatina (1825-1828). Sua atuação na Revolução Farroupilha foi
ressaltada por Assis Brasil que o indicou como “o maior herói da Revolução” e
do historiador Tasso Fragoso que viu nele “a maior lança farrapa”. Ele
participou da expedição a Laguna (Santa Catarina) e na vitória farroupilha sobre
a Divisão Paulista em Bom Jesus. Teve como companheiros de combate Giuseppe e
Anita Garibaldi. Em 1840, participou do malogrado combate de São José do Norte.
Ele também é lembrado por ter sido o primeiro combatente a desfilar com a
recém-criada bandeira da República Rio-grandense em 1836.
Conforme Cláudio Moreira Bento, Teixeira Nunes “foi um
dos oficiais de maior nomeada que possuiu a Revolução. Era uma lança das
primeiras. Com o Corpo de Lanceiros Negros a seu mando, alongava do exército,
para operar com seus próprios meios, em qualquer parte que o inimigo
aparecesse. Era o terror dos seus inimigos. Onde carregava o Corpo de Lanceiros
Negros ao seu comando surgia a vitória. Teixeira era humano. Durante a peleja
matava por ser contingência da luta, e depois da vitória não morria um só
prisioneiro. Era um oficial que sabia fazer a guerra de recursos (a guerra à
gaúcha de guerrilha)”.
Num dos episódios mais polêmicos da Revolução, no combate
de Porongos (atual Pinheiro Machado), Nunes perdeu cerca de 80 combatentes
negros no enfrentamento com as tropas de Caxias, numa proporção de um
farroupilha para 20 imperiais. Após a derrota, o comandante dos lanceiros foi
acampar no arroio Chasqueiro com o restante dos lanceiros negros. No dia 26 de
novembro, no combate de Arroio Grande, foi alcançado por tropas imperiais do
coronel Chico Pedro. Tendo o seu cavalo boleado (derrubado por boleadeiras)
recebeu um golpe de lança e na sequência foi degolado. Um trágico fim para
alguém que, humanitariamente, libertava os prisioneiros após o combate...
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