Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 18 de julho de 2017

TEIXEIRA NUNES E OS LANCEIROS NEGROS

Durante a Revolução Farroupilha (1835-1845) a cavalaria se fez presente e caracterizou militarmente o conflito. A cavalaria farroupilha tornou-se lendária e na sua época foi um pesadelo para as tropas imperiais. O italiano Giuseppe Garibaldi eternizou em seu diário a admiração e respeito pela bravura do coronel Joaquim Teixeira Nunes, líder do I Corpo de Lanceiros Negros (corpo de cavalaria formado por negros livres ou libertos durante a Revolução): “Eu vi batalhas disputadas mas nunca e em nenhuma parte homens mais valentes nem lanceiros mais brilhantes do que os da cavalaria rio-grandense, em cujas fileiras comecei a desprezar o perigo e a combater pela causa sagrada dos povos”. Garibaldi, que muito aprendeu militarmente nestes combates e levou esta experiência para as guerras de libertação italiana, deixou um registro emotivo daquilo que vivenciou no Rio Grande do Sul e do papel da cavalaria de lanceiros: "E repassando na memória as vicissitudes da minha vida no vosso meio, em 6 anos de atividade de guerra, de constante prática de ações magnânimas como que em delírio exclamo! Onde estão agora esses belicosos filhos do Continente, tão majestosamente intrépidos nos combates? Onde Bento Gonçalves, Netto, Canabarro, Teixeira Nunes e tantos valorosos lanceiros que não me lembro! Que o Rio Grande ateste com uma modesta lápide o sítio em que descansam os seus ossos; e que vossas belíssimas patrícias cubram de flores esses santuários das vossas glórias."
Teixeira Nunes foi um dos comandantes dos Lanceiros Negros e já tinha uma experiência nos combates platinos desde sua participação na Guerra da Cisplatina (1825-1828). Sua atuação na Revolução Farroupilha foi ressaltada por Assis Brasil que o indicou como “o maior herói da Revolução” e do historiador Tasso Fragoso que viu nele “a maior lança farrapa”. Ele participou da expedição a Laguna (Santa Catarina) e na vitória farroupilha sobre a Divisão Paulista em Bom Jesus. Teve como companheiros de combate Giuseppe e Anita Garibaldi. Em 1840, participou do malogrado combate de São José do Norte. Ele também é lembrado por ter sido o primeiro combatente a desfilar com a recém-criada bandeira da República Rio-grandense em 1836.
Conforme Cláudio Moreira Bento, Teixeira Nunes “foi um dos oficiais de maior nomeada que possuiu a Revolução. Era uma lança das primeiras. Com o Corpo de Lanceiros Negros a seu mando, alongava do exército, para operar com seus próprios meios, em qualquer parte que o inimigo aparecesse. Era o terror dos seus inimigos. Onde carregava o Corpo de Lanceiros Negros ao seu comando surgia a vitória. Teixeira era humano. Durante a peleja matava por ser contingência da luta, e depois da vitória não morria um só prisioneiro. Era um oficial que sabia fazer a guerra de recursos (a guerra à gaúcha de guerrilha)”.
Num dos episódios mais polêmicos da Revolução, no combate de Porongos (atual Pinheiro Machado), Nunes perdeu cerca de 80 combatentes negros no enfrentamento com as tropas de Caxias, numa proporção de um farroupilha para 20 imperiais. Após a derrota, o comandante dos lanceiros foi acampar no arroio Chasqueiro com o restante dos lanceiros negros. No dia 26 de novembro, no combate de Arroio Grande, foi alcançado por tropas imperiais do coronel Chico Pedro. Tendo o seu cavalo boleado (derrubado por boleadeiras) recebeu um golpe de lança e na sequência foi degolado. Um trágico fim para alguém que, humanitariamente, libertava os prisioneiros após o combate...

Teixeira Nunes, o ‘coronel Gavião’, é um personagem cultuado em Canguçu (sua terra natal), a qual, no ano de seu nascimento em 1802, estava subordinada a Paróquia do Rio Grande. Ilustração: Lanceiro Negro. Quadro no Museu de Bolonha-Itália.

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