Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 18 de julho de 2017

A CAIXA D’ÁGUA DA HIDRÁULICA

O recente (2013) tombamento pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da caixa d’água da hidráulica é uma relevante notícia no sentido de valorização da arte em ferro em Rio Grande. 
A Companhia Hidráulica Rio-grandense, criada em 1872 por Higino Corrêa Durão e João Frick, legou a cidade do Rio Grande um precioso acervo de arte em ferro do século 19. São peças oriundas de fundições francesas que constituem os 4 chafarizes instalados na cidade entre 1874-1878. A fundição responsável foi a Antoine Durrene da região francesa do Marne. Três destas peças típicas da arte em ferro industrial que fizeram/fazem parte dos espaços públicos de diversas cidades do planeta, ainda estão preservados em Rio Grande. O chafariz das Três Graças na praça Xavier Ferreira, o chafariz dos anjinhos na praça Tamandaré e o também chafariz dos anjinhos na praça Barão de São José do Norte, compõem o cenário do espaço urbano local. Existiu ainda mais um chafariz que foi instalado na Praça Sete de Setembro e que foi removido na década de 1910 desaparecendo do cenário urbano e ficando apenas na memória de mais uma lenda urbana (esta lenda concretamente existiu...). Também integrando os chafarizes foram instaladas várias colunas em ferro cuja função era de luminárias.
A Companhia também instalou uma estátua em ferro na praça Julio de Castilhos. A peça foi colocada na parte superior de uma estrutura em que a água jorrava pela boca de anjos barrocos. A preciosa obra em ferro, pesando 340 quilos, foi produzida pela fundição francesa Val D’osne, sendo transferida para um lago da praça Tamandaré em 1903. A sedutora figura que reproduz em ferro uma das representações femininas mais bonitas já esculpidas e que compõe o acervo do Museu do Louvre (Paris), pode ser observada próxima a esquina das ruas Luiz Lorea e General Netto.
O objetivo da importação destas obras de arte em ferro foi o fornecimento de água para Rio Grande, cujas obras, tiveram início em julho de 1873 (140 anos atrás...). O local centralizador dos vários pontos de captação de água para distribuição em direção a cidade foi na área do hoje denominado ‘bairro hidráulica’, local de grande importância estratégica onde em 1737 foi construído a Fortificação de Sant’Ana do Estreito. Nesta área foi instalada a caixa d’água com capacidade para 1.500.000 litros. Seu fabricante foi a fundição Abbey Works, em Paisley, Escócia e o projeto foi da Hanna Donald & Wilson, com sede também em Paisley. Conforme a magristal pesquisa de José Francisco Alves (‘Fontes d’Arte no Rio Grande do Sul’. Porto Alegre: Artfolio, 2009), em Rio Grande, em 1873, já estavam sendo instalados os alicerces da área que receberia o reservatório, obra que ficou pronta em fevereiro de 1874. Em 28 de julho de 1876, saíram da Escócia os navios Ocean Queen e Favor com materiais da caixa d’água de Rio Grande, em 19 de outubro, o Favor. Em fins de janeiro de 1877, o reservatório já estava quase todo em seu lugar. A Cia Hidráulica Rio-Grandense, em 31 de julho, deu por concluída a sua construção. Em ‘Saneamento do Rio Grande’, de Saturnino Rodrigues de Brito, consta sobre esse depósito a seguinte descrição: ‘as bombas elevam a água para o reservatório de distribuição, que é metálico, apoiado sobre 45 colunas de ferro fundido. O fundo fica na cota de 12,80; o bordo na cota de 16,65 ou 13,60 metros acima de superfície do terreno [...] o reservatório da chapas de ferro é também em coroa, tendo o cilindro externo 22m de diâmetro, e o interno, de 3,75. A altura total é de 3,85. Sua capacidade útil é de cerca de 1.500.000 litros, fica cheio em 14 horas de trabalho normal das bombas’ conclui Alves.
A caixa d’água instalada em Pelotas em setembro de 1875, localizada nas imediações da Santa Casa de Misericórdia, tem a mesma origem escocesa (fundição Abbey Works) e é idêntica a de Rio Grande.  Higino Durão também era o administrador da Companhia Hidráulica Pelotense, o que ajuda a explicar a existência de duas estruturas tão sofisticadas construídas, em cidades vizinhas, pela mesma fundição.  

De fato são duas obras de arte ao ar livre (a de Rio Grande com acesso restrito) que precisam ser preservadas e, especialmente, conhecidas pela população. Ilustração: Cartão-postal da década de 1930. 

2 comentários:

  1. Professor Torres, quero cumprimentá-lo pela matéria acima e principalmente pela citação referente a Caixa de Água de ferro instalada nas proximidades da Santa Casa de Misericórdia pelotense ter origem escocesa. Meu nome é Oscar Fernando Dias WOTHER, pelotense de origem britânica por parte de pai e graduado em História pela ULBRA. Por ter ascendência de britânico imigrado em meio a Revolução Farroupilha para Pelotas tenho uma especial dedicação a pesquisa de tudo que se refere as imigrações britânicas, a projetos e monumentos instalados no estado gaúcho. Estou até escrevendo um livro sobre tudo que se refere a presença britânica no RS. Vou citar como exemplo a Tese de doutorado de Aline Montagna da Silveira (FAUUSP)- De fontes e aguadeiros a penas d’água: reflexões sobre o sistema de abastecimento de água e as transformações da arquitetura residencial do final do século XIX em Pelotas/RS, onde a referida doutora e professora fala neste trabalho detalhes da origem de fabricação da Caixa de Água e afirma que a mesma é escocesa. Aline diz o nome do homem que em 1892 criava artigos com conteúdo errado dizendo que a famosa caixa de água pelotense havia vindo da França. Estes artigos tem influência a mais de um século, permitindo estudiosos e pesquisadores em história continuarem a perpetuar o ERRO de um tal de Henrique Carlos de Moraes. Desculpe se falo tanto, mas quando vejo professores em história como o senhor e a doutora Aline Montagna da Silveira falarem a verdade através de seus trabalhos mostrados na internet, eu tenho de elogiar e a agradecer a Deus que vocês dois existem aqui na terra. Antes de encerrar, eu gostaria de dizer que sempre considerei Pelotas e inclusive a cidade de Rio Grande, dois municípios com uma ótima influência britânica, tanto como imigração como em instalação de grandes monumentos históricos. Eu até aproveito para falar do arquiteto Roberto OFFER, responsável por projetos da Cúpula da Igreja Catedral e da arquitetura do Mercado Público de Pelotas, pois como pesquiso muito, tive a sorte de receber uma informação de historiador de Rio Grande me informando que o mesmo era britânico. O pessoal sei lá porque sem saber aludem que Roberto OFFER era alemão. Perdi o contato com referido historiador, mas tenho o documento que ele me enviou falando da origem de Roberto OFFER ser britânica. Só para que o professor TORRES me conheça melhor, indico ao mestre olhar o meu BLOG - oscarwotherblogspot.com - onde falo de minha família pelotense Dias Wother de origem anglo-lusitana. ABRAÇÃO

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  2. Sr. Oscar, boa noite:
    Agradeço o acesso ao meu blog. Jornais da cidade do Rio Grande faziam referência aos chafarizes serem ingleses. Cheguei a publicar de forma incorreta a informação. De fato são franceses, assim como a Caixa de Água de Pelotas e de Rio Grande são do mesmo fornecedor Escocês!
    O melhor trabalho que já li sobre o assunto, além da Tese da Aline, é o livro Fontes Dart no Rio Grande do Sul de José Francisco Alves. Editora Artfolio. Trabalho espetacular e criterioso que vale a pena ser conhecido ou adquirido. Percebi que a Livraria Vanguarda está com o livro disponível em sua página da internet por R@100,00. Olhei a Estante Virtual e está entre R$145-194,00. Sempre recomendo o livro pela sua relevância para quem trabalha com arte pública e bens culturais em arte em ferro. Claro, isto é apenas para ampliar os conhecimentos e respaldar bibliograficamente o que o sr. já conhece. Afinal, até o IPHAN em sua página da internet, apresenta dados incorretos sobre a procedência da Caixa de Água.
    Visitarei o seu blog.
    Um abraço
    prof. Torres

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