O atual Teatro
Municipal construído junto ao canalete da Major Carlos Pinto nasceu na
fronteira entre a cidade antiga e a Cidade Nova, nas proximidades dos muros das
trincheiras que isolavam a cidade do mundo externo (ou também chamada cidade
extra-muros). Num período em que as obras de construção do canalete estavam
adiantadas e o boulevar era aformoseado para se tornar mais um espaço público a
ser freqüentado pela população, surgiu mais uma casa cinematográfica e teatral.
Seu nome (estampado até o presente na fachada ainda original do prédio) é Cine
Avenida.
Matéria do jornal Rio
Grande de 26 de abril de 1929, ressaltou o novo empreendimento que a cidade
estava recebendo: “Cresce diariamente no seio de nossa sociedade, o interesse
para a inauguração a dar-se em três de maio próximo, do novo e confortável Cine-Teatro
Avenida, sito no boulevar Carlos Pinto e de propriedade dos operosos srs.
Capitão João Pereira de Andrade e Antonio Marques de Figueiredo. Justa é essa
ansiedade com que é aguardada a estréia da nova casa de diversões, a qual nada
falta, não só no belo edifício especialmente construído, como na amplitude,
luxo e conforto para agradar em cheio a nossa população. Apesar disso e de
abrirem a concorrência pública uma casa de primeira ordem, os infatigáveis
proprietários do Cine Avenida resolveram num gesto muito louvável, manter ali
preços populares, vindo assim ao encontro dos desejos do nosso povo. Como
dissemos a inauguração do Cine Avenida far-se-á com um filme cinematográfico
verdadeiramente majestoso, fadada a um ruidoso sucesso. É o finíssimo lavor, a
superprodução da afamada Fox Film, denominada Minha Mãe, que tem um enredo simplesmente admirável e um desempenho
empolgante, a cargo de artistas gloriosos como Belle Bennett, Neil Hamilton,
Victor Mc Laglen e outros da cena muda. Por todos esses motivos, pode-se
afirmar que a inauguração do Cine-Theatro Avenida vai constituir um verdadeiro
acontecimento”. Os preços populares será uma característica do novo espaço:
“uma das principais vantagens que este novo centro de diversões oferece ao
público, são os preços das suas localidades, relativamente baixos, tais sejam:
poltronas 1$500, meia entrada 1$000 e balcões $800.”
No ano de 1929 as manchetes do jornal Rio Grande estão ligadas a vitória eleitoral
republicana que levou Getúlio Vargas ao governo do Rio Grande do Sul, iniciando
a trajetória política de Vargas que se prolongaria até a sua morte em 1954.
Entre as propagandas está a da VARIG, cujo agente Carlos Albrecht Jr, informava
as datas das próximas malas postais que saindo de Rio Grande chegariam a várias
cidades como Santos e Rio de Janeiro. O jornal dava destacado espaço em suas
colunas para as atividades cinematográficas do Carlos Gomes, Polytheama e Cine
Guarany, num período de grande freqüência as casas de espetáculo. Um dos mais
antigos espaços teatrais do Rio Grande do Sul, o Sete de Setembro, onde ocorreu
a primeira exibição do cinematógrafo Edison na cidade no ano de 1897, não foi
citado pelo jornal neste período.
No dia 29 de abril o jornal repete a
informação da inauguração e divulga a apresentação de um trio espanhol: “No
palco, emprestando maior brilho à noitada, estrear-se-ão, o notável dueto
cômico, Les Marocc e a bailarina
internacional Luiza de Lerma, constituindo um trio admirável fadado a um
ruidoso sucesso”. A expectativa para a grande estréia foi enfatizada na edição
de 30 de abril: “...começando a primeira sessão as 19 horas, uma verdadeira
jóia da cinematografia moderna que é o lindíssimo filme Minha Mãe extraordinária produção de John Ford (...) é um filme que
enternece todos os corações. É o relicário do amor maternal, o poema de uma
afeição sublime e a história magnâmica de um sentimento”.
No dia 3 de maio de 1929, a inauguração transcorreu
em grande estilo, estando ocupadas as 1.500 poltronas e 500 gerais: “Consistiu
o ruidoso sucesso que prevíramos a inauguração ontem do Cine Theatro Avenida (...)
A magnífica instalação do Cine-avenida, que por todos os motivos, inclusive
pelo conforto que oferece, está realmente fadado a ser um dos pontos de reunião
preferidos pela sociedade rio-grandense, que ontem bem demonstrou a ansiedade
com que aguardava a estréia da nova casa de diversão. A excelente orquestra,
dirigida pela maestrina exma. Sra. d. Lili Schimitt Tavares, deu início a
noitada, com a execução do Hino Nacional, e da sinfonia do Guarany, ambos muito
aplaudidos pela extraordinária assistência, seguindo-se a passagem do formoso
filme cinematográfico Minha Mãe, de
enredo sublime e desempenho admirável. Após ocupou o palco o dueto cômico Les Marocc e a bailarina Internacional
Luiza de Lerma, que formam um trio de primeira ordem, e que confirmaram
amplamente o renome de que vinha precedidos, assegurando que a sua temporada no
Avenida vai ser de constantes e ruidosos triunfos. Foi, enfim, uma estréia que
não podia ser mais auspiciosa, pelo que não regateamos os nossos cumprimentos
aos infatigáveis proprietários. Hoje, novamente, será focado o filme Minha Mãe, em 8 atos e novos números
pelo trio. Amanhã matiné chic. Na
tela fitas de sucesso e no palco belos números pelo trio. A noite, a
super-máxima dos programa Matarazo Rainha
do Pacífico, em 10 atos...” (Rio
Grande, 4 de maio).
Neste período, era intensa a concorrência entre os quatro
espaços cinematográficos que passavam a existir na cidade, os quais somados possuíam
mais de cinco mil lugares para uma população de 50.000 habitantes. Ja nos
primeiros dias de nascimento do novel Cine-Teatro Avenida, a disputa pelos
cinéfilos e freqüentadores de teatro era acentuada. No dia 9 de maio nos
tradicionais Cine-Teatro Polytheama e Carlos Gomes (propriedades da empresa
Gáudio & Comp.) estreou Fascinação da
Volúpia em nove atos (no Carlos Gomes) e ao vivo, no palco do Polythema, a Troupe Csudor “composta de seis
bailarinas esplendidas ao mesmo tempo que são seis mulheres belíssimas na sua
perfeição corpórea, a qual se constata com a quase nudez absoluta em elas
aparecem” (Rio Grande, 8 de maio de 1929).
O Cine Avenida funcionou até 1983
quando fechou as portas. Foi restaurado e reaberto ao público como Teatro
Municipal do Rio Grande em 1997. Dos cine-teatros que existiram na cidade, o Teatro
Municipal é o único que continua em atividade. Recentemente
sofreu nova reforma e continua sendo modernizado, apresentando uma sala de
memória onde está sendo resgatada a história de décadas de cultura e
sociabilidade em Rio
Grande.
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