No mês de
outubro de 1833, notícias veiculadas pelo jornal O Noticiador permitem captar
alguns dos problemas que faziam parte do dia-a-dia da Vila do Rio Grande (que
só passaria, dois anos depois, a denominar-se de Cidade do Rio Grande).
Questões políticas na luta entre
liberais e conservadores, entre nacionalistas e restauradores portugueses, era
a tônica principal que orientava o jornal redigido por Francisco Xavier
Ferreira. Foi um dos períodos mais decisivos da história do Brasil em termos de
integridade territorial e nacional. Neste contexto, o assassinato do padre
Bernardo Viegas (liberal radical) é uma referência paradigmática para entender
o período e seus confrontos. O crime jamais foi solucionado, evidenciando o
enraizamento dos grupos conservadores que eram denunciados avidamente,
inclusive pelo próprio padre Viegas.
Questões sociais também preocupavam,
como a falta de recursos financeiros para continuar a receber crianças
recém-nascidas abandonadas pelas mães e que eram recolhidas na roda dos
expostos da Santa Casa.
Eventos climáticos extremos já
aconteciam: a população contabilizava os prejuízos com o intenso temporal que
ocorreu neste mês e cuja sensação é que a Vila ficaria soterrada pela areia
levantada pelo forte vento.
Um outubro agitado e marcante para
aqueles que aqui viviam a 180 anos no passado...
“Grande
Temporal. No dia 2 do corrente, pelas 4 e meia da tarde, tendo precedido um
calor excessivo, ausência de sol, ar sombrio e vento brando do noroeste,
repentinamente se levantou uma ventania tão forte que, se durasse mais tempo,
teria esta vila de ser destruída na maior parte de seus edifícios, ou de todo
submergida. Aquela coluna de vento julgamos que subsistiu 5 minutos, e a areia
que circunda a vila por uma parte, voou por toda ela de tal modo que nuvens de
semelhante terra movediça a circularam a uma distância incrível que parecia
noite. De todas as casas , altas e baixas, destruiu mais ou menos os telhados e
lançou por terra grande número de muros, algumas de parede dobrada feita a cal,
arrancou arvoredos, quebrou vidraças
grande parte das telhas arremessadas do vento sobre as que estavam fronteiras,
derrubou algumas pequenas casas, arremessou ao mar próximo e cobriu de areia
grande quantidade de roupa que estava estendida no lugar onde se costuma lavar,
e só neste gênero causou considerável prejuízo. No mar, dizem que se viraram
algumas pequenas embarcações, que morreram algumas pessoas, o que ainda não
está bem averiguado. Abrandou muito, e com a mesma rapidez o vento. Segui-se
uma grossa chuva de grande pedras, algumas de peso de uma onça, que também
concorreu para a quebra das vidraças, e passando algum espaço cessou,
continuando toda a noite a chuva ordinária e vento”. O Noticiador 7 de outubro
de 1833.
“Roda de
Expostos. A Câmara Municipal desta vila faz saber que, falecendo-lhe os meios
para criação dos expostos, por não ter rendimentos que possam fazer face as
despesas de pagamento as amas e outras indispensáveis, resolveu, na sessão de
hoje, mandar pregar a roda e não aceitar mais expostos. Rio Grande, 9 de
outubro de 1833”. O Noticiador, 14 de outubro de 1833.
“É quase
impossível descrevermos aos nossos leitores o sentimento geral, que tem
patenteado esta Vila pelo cruelíssimo assassínio perpetrado ao Patriótico
Cidadão o Sr. Bernando José Viegas. Ao terror pânico, sucedeu a mais furiosa
indignação, tendo esta crescido não só pelo boato que se tem espalhado de que
do mesmo modo serão sacrificados mais dezenove patriotas, como pela lentidão e
frieza com que o público tem visto proceder no exame deste insidiosa homicida:
se ele ficar impune, e se a Justiça, como rigorosamente lhe cumpre, não
descobrir o vil monstro e seus infames sectários, então era melhor irmos encerrar-nos
nas mais obscuras cavernas e fazer companhia as mais embravecidas e sangüinosas
feras”. O Noticiador, 10 de outubro de 1833.
Nenhum comentário:
Postar um comentário