Porto do Rio Grande em 1908

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quinta-feira, 13 de julho de 2017

PROF. ELIÉZER RIOS E OS ESTUDOS OCEANOGRÁFICOS

O trabalho incansável e a persistência é uma marca de grandes homens que fazem a história: podem ser operários que eticamente dedicam a sua vida a construir a riqueza social através do seu labor ou de um intelectual que projetou a cidade no âmbito internacional dedicando a sua vida a ampliar o conhecimento dos oceanos. Hoje quero escrever algumas linhas enaltecendo o trabalho e a capacidade criativa humana em fazer ciência: quero enfatizar a trajetória do prof. Eliézer de Carvalho Rios afirmando que ele ajudou a construir um capítulo fundamental dos estudos oceanográficos em Rio Grande e no Brasil.
A sua contribuição para a constituição de um museu oceanográfico e para a criação do primeiro curso de Oceanologia do Brasil são marcos de uma caminhada ainda que foi ainda mais rica. Afinal, além de passos institucionais ele foi um respeitado pesquisador/autor de livros além de um competente professor que ensinou gerações.
 Recuando mais de seis décadas no passado, no ano de 1952, alguns profissionais se reuniram para conversar sobre a criação da Sociedade de Estudos Oceanográficos do Rio Grande (SEORGS): eram Eliezer Carvalho Rios, Boaventura Barcellos, Nicolas Vilhar. A sociedade foi fundada em 20 de março de 1953, tendo como primeiro presidente Geraldo Leite Serrano e vice-presidente Cícero Vassão. Para o estabelecimento de um Museu Oceanográfico, a Prefeitura Municipal cedeu um prédio na praça Tamandaré. Neste local eram realizadas as pesquisas de laboratório e também a exposição do acervo para os visitantes. A dimensão de pesquisar de Eliezer Rios já era divulgada em matérias do jornal Rio Grande de 29 de julho de 1952, espaço em que ele deixou relatos de sua participação no Congresso Brasileiro de Química, onde apresentou suas pesquisas sobre a “Composição química das algas utilizadas como adubo em Rio Grande” e um “Estudo analítico dos óvulos do Bagre”, o qual obteve a colaboração Serviço Oceanográfico e de Pesca de Montevidéu. Também fez uso de um “fotocolorímetro gentilmente cedido pela Indústria Brasileira de Peixe, desta cidade”.
O contexto de surgimento da SEORGS e a busca de pesquisas oceanográficas é o desenvolvimento do potencial pesqueiro de Rio Grande e a ênfase no espaço estratégico da cidade localizada no estuário da Lagoa dos Patos no seu encontro com o Oceano Atlântico.
Em setembro de 1953 ocorreu à inauguração do Museu Oceanográfico e ocorreu a I Semana Oceanográfica composta por um ciclo de palestras que buscava levar a sociedade local os problema ligados ao mar e a pesca. A Semana Oceanográfica propiciou um convênio com o Departamento Estadual de Portos, Rios e Canais (DEPREC). Através deste convênio a SEORG realizaria pesquisas oceanográficas no litoral rio-grandense em contrapartida, este órgão forneceria material e embarcação para a pesquisa em alto-mar.
O Museu Oceanográfico funcionou na praça Tamandaré de 1953 a 1972. A SEORG a partir de 21 de novembro de 1969 passa a ser administrada pela Fundação Cidade do Rio Grande, instituição que coordena o levantamento de aporte financeiro para a construção das novas instalações do Museu, com 770 m², cujos recursos foram obtidos, em sua maioria, junto a empresas de captura e beneficiamento de pescado. O novo museu foi inaugurado em 1973 sendo doado para a Universidade Federal do Rio Grande em 1975. A pesquisa oceanográfica realizada no Museu priorizou as áreas de malacologia, mamíferos marinhos e museologia. A coleção malacológica organizada pelo prof. Eliézer de Carvalho Rios e sua equipe constitui-se na mais completa coleção de moluscos marinhos da América do Sul, utilizada para inúmeros estudos científicos realizados por cientistas, estudantes e interessados na ecologia e sistemática desse grande grupo de invertebrados.
A participação do prof. Rios na difusão de cursos superiores em Rio Grande também foi exemplar. Ele atuou no curso de Engenharia Industrial, e foi indicado para assumir o cargo de diretor do curso de Oceanologia e coordenar as medidas administrativas para seu funcionamento. A primeira turma era constituída em sua maioria por acadêmicos da cidade ou do Rio Grande do Sul. As aulas tiveram início no dia 1 de março de 1971, dando início a uma trajetória pioneira no Brasil neste campo do conhecimento. A aula inaugural do curso foi proferida pelo prof. Rios no auditório da Biblioteca Rio-Grandense.

Velhos tempos em que a parceria com homens abnegados da comunidade, organizados em sociedades voltadas ao crescimento científico-intelectual local (como a SEORG e a Biblioteca Rio-grandense) abriam janelas para o conhecimento e alavancavam novas vocações científicas.    

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