O trabalho
incansável e a persistência é uma marca de grandes homens que fazem a história:
podem ser operários que eticamente dedicam a sua vida a construir a riqueza
social através do seu labor ou de um intelectual que projetou a cidade no âmbito
internacional dedicando a sua vida a ampliar o conhecimento dos oceanos. Hoje
quero escrever algumas linhas enaltecendo o trabalho e a capacidade criativa
humana em fazer ciência: quero enfatizar a trajetória do prof. Eliézer de
Carvalho Rios afirmando que ele ajudou a construir um capítulo fundamental dos
estudos oceanográficos em Rio Grande e no Brasil.
A sua
contribuição para a constituição de um museu oceanográfico e para a criação do
primeiro curso de Oceanologia do Brasil são marcos de uma caminhada ainda que
foi ainda mais rica. Afinal, além de passos institucionais ele foi um
respeitado pesquisador/autor de livros além de um competente professor que
ensinou gerações.
Recuando mais de
seis décadas no passado, no ano de 1952, alguns profissionais se reuniram para
conversar sobre a criação da Sociedade de Estudos Oceanográficos do Rio Grande
(SEORGS): eram Eliezer Carvalho Rios, Boaventura Barcellos, Nicolas Vilhar. A
sociedade foi fundada em 20 de março de 1953, tendo como primeiro presidente
Geraldo Leite Serrano e vice-presidente Cícero Vassão. Para o estabelecimento
de um Museu Oceanográfico, a Prefeitura Municipal cedeu um prédio na praça
Tamandaré. Neste local eram realizadas as pesquisas de laboratório e também a
exposição do acervo para os visitantes. A dimensão de pesquisar de Eliezer Rios
já era divulgada em matérias do jornal Rio
Grande de 29 de julho de 1952, espaço em que ele deixou relatos de sua
participação no Congresso Brasileiro de Química, onde apresentou suas pesquisas
sobre a “Composição química das algas utilizadas como adubo em Rio Grande” e um
“Estudo analítico dos óvulos do Bagre”, o qual obteve a colaboração Serviço Oceanográfico e de Pesca de
Montevidéu. Também fez uso de um “fotocolorímetro gentilmente cedido pela Indústria Brasileira de Peixe, desta
cidade”.
O contexto de surgimento da SEORGS e a busca de pesquisas
oceanográficas é o desenvolvimento do potencial pesqueiro de Rio Grande e a
ênfase no espaço estratégico da cidade localizada no estuário da Lagoa dos
Patos no seu encontro com o Oceano Atlântico.
Em setembro
de 1953 ocorreu à inauguração do Museu Oceanográfico e ocorreu a I Semana
Oceanográfica composta por um ciclo de palestras que buscava levar a sociedade
local os problema ligados ao mar e a pesca. A Semana Oceanográfica propiciou um
convênio com o Departamento Estadual de Portos, Rios e Canais (DEPREC). Através
deste convênio a SEORG realizaria pesquisas oceanográficas no litoral
rio-grandense em contrapartida, este órgão forneceria material e embarcação
para a pesquisa em alto-mar.
O Museu
Oceanográfico funcionou na praça Tamandaré de 1953 a 1972. A SEORG a partir de
21 de novembro de 1969 passa a ser administrada pela Fundação Cidade do Rio
Grande, instituição que coordena o levantamento de aporte financeiro para a
construção das novas instalações do Museu, com 770 m², cujos recursos foram
obtidos, em sua maioria, junto a empresas de captura e beneficiamento de
pescado. O novo museu foi inaugurado em 1973 sendo doado para a Universidade
Federal do Rio Grande em 1975. A pesquisa oceanográfica realizada no Museu
priorizou as áreas de malacologia, mamíferos marinhos e museologia. A coleção
malacológica organizada pelo prof. Eliézer de Carvalho Rios e sua equipe
constitui-se na mais completa coleção de moluscos marinhos da América do Sul,
utilizada para inúmeros estudos científicos realizados por cientistas,
estudantes e interessados na ecologia e sistemática desse grande grupo de
invertebrados.
A
participação do prof. Rios na difusão de cursos superiores em Rio Grande também
foi exemplar. Ele atuou no curso de Engenharia Industrial, e foi indicado para
assumir o cargo de diretor do curso de Oceanologia e coordenar as medidas
administrativas para seu funcionamento. A primeira turma era constituída em sua
maioria por acadêmicos da cidade ou do Rio Grande do Sul. As aulas tiveram
início no dia 1 de março de 1971, dando início a uma trajetória pioneira no
Brasil neste campo do conhecimento. A aula inaugural do curso foi proferida pelo
prof. Rios no auditório da Biblioteca Rio-Grandense.
Velhos
tempos em que a parceria com homens abnegados da comunidade, organizados em
sociedades voltadas ao crescimento científico-intelectual local (como a SEORG e
a Biblioteca Rio-grandense) abriam janelas para o conhecimento e alavancavam
novas vocações científicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário