O jornal ‘O Peixeiro’, surgido em
dezembro de 1962, superou a condição de um periódico semanal voltado à
divulgação da programação de cinema. Acabou se firmando como um referencial de
crítica e do debate dos problemas que a cidade vivenciava no ano de 1964.
Portanto, -a meio século no passado-, carências de infra-estrutura e questões
ligadas a segurança, cortes de energia, violência urbana e críticas a forma de
se fazer política, eram repostas com veemência nas páginas do semanário. E a
maioria parecem muito atuais, evidenciando a persistência de problemas
históricos de longa duração temporal! Quando o jornal Agora surge em 1975, uma
longa caminhada já havia sido trilhada no debate de questões ligadas a urbe e
‘O Peixeiro’ vira o seu suplemento cultural.
Vejamos alguns temas tratados no ano de 1964 e que
continuam tão presentes meio século depois:
Saudade do trem para o Cassino: “A estrada rodoviária que
demanda para o Cassino, construída que foi a mais de 20 anos para atender a um
volume de aproximadamente 500 veículos por dia no grosso da temporada
balneária, vê-se hoje obrigada a atender (sem que se tenha feito qualquer
conservação ou renovação a não ser a de tapar-buracos de quando em quando),
mais de 5.000 veículos nos seus diversos trajetos, durante um período igual de
24 horas, incluindo nos mesmos, os moderníssimos caminhões-monstros que
acomodam sobre seus dorsos, cargas por vezes superiores a 20 toneladas. Como se
não bastasse o abandono a que relegaram a faixa Rio Grande-Cassino, sem que ao
menos fosse evidenciada a boa vontade de um projeto, quer de alargamento, quer
de construção de outra paralela para atender o fluxo do movimento atual,
resolveram os nossos Cabeças, eliminar o único meio suavizante, que bem ou mal
transportava até aquele logradouro, milhares de pessoas, bem como materiais
diversos, quer para construção, quer para consumo. Eliminaram o trenzinho do
Cassino...” (19-01-1964).
Rua D. Pedro II e seus buracos no passado e seus buracos (trincheiras)
no presente: “Para mudar de assunto nada melhor do que retornar ao mesmo
assunto. Longos anos são passados, longas verbas são dotadas e longos buracos
são conservados na Pedro II, como um desafio ou num castigo, aqueles que mais
contribuem aos cofres municipais, como sejam, a Indústria, o Alto Comércio e os
transportadores” (11-10-1964).
Críticas a vereança remunerada: “Castelo tem razão. O
governo executivo da União elaborou um projeto de lei sustando os honorários
dos senhores vereadores de todo o País. Concordamos plenamente com o Sr.
Castelo Branco. Apoiamos o pensamento daqueles que consideram o desempenho de
suas funções um ato de civismo, trabalho e dedicação espontâneos, para o bem e
o desenvolvimento municipal. Acreditamos que tais cargos devam ser confiados
única e exclusivamente a líderes autênticos, a cidadãos que por si sós souberam vencer na vida, que realizaram
algo de digno e de que se possam orgulhar. Pessoas assim não necessitam de
honorários ora pagos aos legisladores municipais” (01-11-1964).
Alcoolismo no passado e as drogas no presente: “A
Tristeza da Miséria. Para quem está acostumado a caminhar por nossa cidade,
independente da hora e do local, é freqüente e triste o espetáculo
proporcionado por indigentes e miseráveis, caídos aqui e acolá. Um triste
espetáculo, ocasionado pelo descuro dos poderes públicos e das pessoas
encarregadas dos mesmos. Não passa dia sem que, ao lado da bebida, esteja o
bêbado estirado na rua” (07-06-1964).
Freqüentes cortes no fornecimento de energia elétrica.
Meio século depois, além dos cortes, nos aguarda um tarifaço na energia para este
e os próximos anos. Interessante pelo número de descontentes com a conta de luz
pela cidade, que o aumento parece que já chegou antes da hora...: “Mais uma vez
vemo-nos as voltas com o problema da energia elétrica, problema de ontem, de
hoje e de amanhã, se continuar este descuro da CEEE para com nossa cidade, a
alterosa Noiva do Mar” (12-07-1964).
Inúmeros cães abandonados pelas ruas! Uma realidade que
continua a ser problemática e que está sendo enfrentada de forma tímida. Porém,
enquanto não forem conscientizados os donos (o difícil é eles quererem...) que
permitem a reprodução irresponsável e que depois jogam os animais pela rua, a problema
é de difícil solução: “Estória canina. É espetáculo comum as ruas centrais ou
de bairros, estarem ocupadas por uma matilha de animais a rosnarem e latirem em
assustadores avisos” (13-9-1964).
Falta de policiamento e carros para a delegacia de
polícia! Parece incontestável que hoje, esta questão continua como um grande
problema evidenciado pelos índices de violência e pela rara presença da Brigada
Militar em pontos essenciais ou no atendimento de chamadas. O motivo óbvio mas
deprimente é que nas últimas décadas ocorreu o encolhimento ou falta de efetivo
(1) ou viaturas (2) (ao ligar, você receberá a opção ‘1’ ou ‘2’ para justificar
a não vinda do socorro!): “Alerta cidadãos. Os amigos do alheio entram e saem a
vontade, como se estivessem em sua própria casa. Tal pode ser comprovado
facilmente pelos dados policiais, e pela experiência do cotidiano absurdo e infindável”
(26-07-1964). A situação esta tão séria que vou reproduzir uma piadinha que
escutei recentemente sobre como testar o ramal 190: ligue dizendo que um
meliante esta arrobando a porta da sua casa e está com uma arma na mão! A
resposta será: estamos sem viatura! Aguarde 60 segundos e ligue novamente e
diga: recorda do meliante com a arma? Ele invadiu a casa e o meu truculento
rolo de macarrão fulminou com o elemento! Resposta: duas viaturas já estão se
deslocando, o senhor não saia do local do crime e estaremos lavrando o homicídio!
Em síntese: o cidadão no último meio século foi promovido a um potencial bandido
desarmado e acuado dentro de sua casa.
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