O ‘Rio Grande de São Pedro’ que aparece
assinalado na cartografia desde 1534 (planta de Gaspar Viegas) nada mais é que o
afunilamento da Lagoa dos Patos quando do seu escoamento no Oceano Atlântico. Esta
denominação dada a um ‘suposto rio’, acabou por ser o nome geográfico que
caracteriza todo o Rio Grande do Sul e não apenas ao atual Município do Rio
Grande.
Aos viajantes estrangeiros que conheceram a
cidade e publicaram livros sobre o Rio Grande do Sul no século passado, a
travessia da Barra constituiu um momento de ansiedade antes do desembarque na
cidade. Registros da passagem pela “barra diabólica” e suas dificuldades são um
lugar comum nos escritos que edificam um imaginário de proeminência da natureza
sobre a civilização.
Os viajantes ressaltam as dificuldades que a Barra
oferecia para a navegação. Inclusive a profundidade tornava-se cada vez menor,
inviabilizando a entrada de navios com maior calado. Enquanto no final do
século 18 a profundidade chegava a 4,40 metros, ao longo do século 19 foi
diminuindo até chegar a críticos 2,75 metros em 1883.
A BARRA E OS MOLHES
Vários engenheiros analisaram a situação da Barra
do Rio Grande na segunda metade do século passado, esbarrando os projetos
propostos em dificuldades técnicas e financeiras. Em 1875, o engenheiro inglês
Sir Clarke Hawkshau, emitiu um relatório em que propõe a construção de dois
quebra-mares. Apesar de pessimista em sua viabilidade técnica, a idéia de
Hawkshau foi utilizada em 1883 pelo engenheiro Honório Bicalho que previu a
construção do molhe leste e molhe oeste.
Em 1906 foi criada a Cia.
Port of Rio Grande do Sul, com sede em Portland, Estado Unidos. A obra foi
orçada em 20.000 contos de réis. Como o engenheiro Corthell não conseguiu entre
empresários norte-americanos o capital, buscou em Paris os recursos para
iniciar as obras, sendo criada a Cie. Française du Porto de Rio Grande do
Sul, que foi autorizada a funcionar em 9 de julho de 1908. O capital da
companhia foi constituído de vinte milhões de francos em ações ordinárias e dez
milhões de francos em ações preferenciais. Engenheiros, mestres de obras e
operários especializados vieram da França chegando a cidade até o final de
1908.
AS ROCHAS DO CAPÃO DO LEÃO
O problema inicial para
a construção dos Molhes da Barra foi à falta de pedreiras no Município do Rio
Grande, cuja formação geomorfológica é a planície costeira do Rio Grande do
Sul, constituída predominantemente por formação arenosa. No município de Pelotas,
foram adquiridas duas pedreiras: Capão do Leão, para fornecer material ao Molhe
Oeste e Monte Bonito, para o Molhe Leste. O Porto Novo do Rio Grande recebeu
material das duas pedreiras, sendo inaugurado em 1915. Foram construídas linhas
férreas para transportar as pedras num total de 128 quilômetros. Mais de 3,4
milhões de toneladas de rochas foram utilizadas.
A Pedreira do Capão do Leão hoje denominada
de Pedreira do Cerro do Estado constitui, com quatro quilômetros de extensão, o
segundo maior bloco granito basáltico do planeta. Em novembro de 1910 foi
adquirida parte desta área pela Companhia Francesa do Porto do Rio Grande. A
pedreira de Monte Bonito (Distrito de Pelotas) não dava conta do volume de
rochas necessárias para a construção dos Molhes. Neste sentido, a pedreira do
Capão do Leão (na época era Distrito de Pelotas) foi essencial para que os
Molhes se tornassem uma realidade. Até o final das operações da Companhia
Francesa em 1919, a pedreira continuou a fornecer pedras para a manutenção do
complexo portuário. Na recente ampliação dos Molhes da Barra, a Pedreira do
Cerro do Estado foi novamente escolhida para fornecer as rochas para o
prolongamento dos Molhes.
Todos os visitantes dos Molhes, que hoje
visitarem este local que é de grande circulação no período de veraneio, podem
contemplar uma parte fundamental identitária da comunidade do Capão do Leão: as
pedras graníticas oriundas de sua mais famosa pedreira! A segurança da
navegação que tornou a circulação marítima segura no Rio Grande do Sul e
potencializou o seu potencial econômico, foram viabilizadas por estas rochas
que um século depois, asseguram o funcionamento do Porto do Rio Grande.
Bom dia professor fazendo leituras e intrigado querendo saber onde era o cais onde carregaram as pedras para os Molhes de Rio Grande, oriundas da Cia Francesa no Arroio Pelotas?
ResponderExcluirTinha alguma malha que.derivava dos trilhos de Canguçú, pela atual Vila Peres e antigo Leito da Via Férrea Francesa/Trilhos Velhos/atual Vila Francesa...Corredor do Obelisco até as margens do Arroio Pelotas?
Tem essa memória? Sou morador do Monte Bonito e quero resgatar essa história...pfv?!