Um personagem que se destacou na cartografia
do Rio Grande do Sul no século 18 foi José Custódio de Sá e Faria. Ele elaborou
algumas das mais detalhadas plantas que registram a geografia e as localidades
luso-brasileiras num período de formação no extremo-sul do Brasil. O contexto
geopolítico foi o confronto entre Portugal e Espanha pelo controle da Colônia
do Sacramento e da Vila do Rio Grande de São Pedro.
Seu nascimento foi em Portugal e sua morte
ocorreu na Argentina, numa trajetória brilhante e tortuosa. Formou-se em
engenharia e arquitetura na Academia Militar das Fortificações de Portugal em
1745. Quando do Tratado de Madri de 1750, ele chega ao Brasil no ano seguinte
para participar da Comissão Demarcadora dos limites entre Portugal e Espanha.
Acabou por participar dos períodos mais dramáticos da história do atual Rio
Grande do Sul: a Guerra Guaranítica e a ocupação militar dos 7 Povos das
Missões; a ocupação da Vila do Rio Grande por tropas espanholas.
O cartógrafo elaborou plantas fundamentais
para entender o espaço em que transcorreram estes eventos, recebendo em 1756,
de Gomes Freire de Andrade, a patente de Tenente-Coronel. Foi um projetista
renomado de fortificações no Rio Grande do Sul, Ilha de Santa Catarina e Mato
Grosso, fazendo também projetos de igrejas no Rio de Janeiro, São Paulo, Rio
Grande do Sul, Buenos Aires, Maldonado e Montevidéu.
Com a invasão espanhola da Vila do Rio
Grande, Sá e Faria foi nomeado
Governador do Governo do Rio Grande (em fevereiro de 1764) com o objetivo de
administrar e garantir a permanência lusitana no Rio Grande do Sul. Em São José
do Norte, projeta o forte de São Caetano da Barranca, reconquista o norte da
Barra do Rio Grande. Em 1767, tenta retomar militarmente Rio Grande sem obter
sucesso. Em 1769, regressa ao Rio de Janeiro onde projeta a Fortaleza da Ilha
das Cobras. Promovido a Brigadeiro ele é enviado a Ilha de Santa Catarina para
ampliar a defesa das fortificações. A poderosa esquadra espanhola invadiu a
Ilha e Sá e Faria negocia a rendição das tropas. O retorno a Portugal poderia
lhe valer a pena de morte no julgamento do Marques de Pombal. O General
Cevallos leva o cartógrafo junto em seu retorno para o Prata. Sá e Faria
residiu em Montevidéu e em Buenos Aires. Cevallos deixou relatado que que
ninguém tinha maior conhecimento dos confins dos domínios de Portugal e Espanha
do que Sá e Faria. Em Buenos Aires, tornou-se o mais famoso urbanista e
arquiteto, realizando projetos como a cúpula da Catedral. Em outras cidades,
foi o projetista da Catedral de Montevidéu e da Igreja de Maldonado.
Um dos homens que mais conheceu o Prata e o
sul do Brasil no século 18, faleceu em 1792 na localidade de Luján na
Argentina. É um personagem que deveria
ter uma carga de conhecimentos extraordinários sobre a sociedade platina quando
as fronteiras entre o Brasil e o mundo espanhol ainda estavam sendo
delimitadas. Um conversa com ele, antes de seu falecimento, poderiam valer por
mil livros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário