Um dos
principais enfoques dos jornais no século 19 eram as denúncias sobre o mau uso
do dinheiro público e o aumento dos preços nos serviços privados ou públicos
prestados à população. O elevado aumento do valor da água recebida nas penas
(torneiras em residências) foi o motivo para a elaboração das caricaturas
ácidas do jornal O Marui de 1882, associando os empresários e a Câmara
Municipal a ‘ratos’ e outras representações pejorativas enquanto a população é
relacionada a ‘patos’ e ‘sapos’. O alvo das críticas era a Companhia Hidráulica
Rio-grandense criada na década de 1870 e que até hoje deixou evidências
materiais de sua existência em obras de arte em ferro: os chafarizes franceses
em três praças e o reservatório escocês na Vila Hidráulica.
O ‘Povo’,
para o jornal, é sempre a vítima a ser defendida pelos escritores públicos e
caricaturistas frente aos interesses gananciosos e sem escrúpulos. A indignação
diz respeito ao fornecimento de água potável para a população, um problema
histórico que mesmo com a municipalização da Hidráulica no início do século XX,
ainda se estendeu por muito tempo como um campo de conflito.
Conforme o
Marui, “tem causado geral e justa indignação o inesperado aumento de VINTE POR
CENTO no pagamento dos possuidores de pena d’água! Esta desagradável realidade,
que, soubemos a última hora, foi o resultado da reunião da Hidráulica
Rio-grandense que teve lugar na quarta-feira da semana passada. (...) Pobre povo... sempre o escolhido para
ser o mártir! Onde está a moralidade desta deliberação vexatória e revoltante?
Senhores da
Hidráulica, lembrai-vos da pobreza desprotegida, lembraivos que ela também tem
sede e não pode prescindir de água, e que este vosso procedimento além de ser
vexatório e revoltante, é indigno de quem deve sentir no peito pulsar-lhe um
coração humanitário (...) extorquir publicamente a esta paupérrima humanidade,
impossibilitando-a de beber água, todas as vezes que tem sede, é ser egoísta
desumanitário e somente digno da maldição de todos”.
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