Nome de
destaque no jornal O Povo é a
presença de José da Costa Azevedo, mais tarde barão de Ladário que nasceu no
Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1825 e faleceu na mesma cidade em 24 de
setembro de 1904. Este polêmico personagem era filho do coronel engenheiro em
matemática, José da Costa Azevedo e irmão do religioso franciscano frei José da
costa Azevedo. Foi nomeado Guarda Marinha em 1839, com apenas 14 anos, indo
servir na Marinha Norte-Americana. Sua presença em Rio Grande está ligada a sua
participação na Comissão de Limites do Brasil com o Uruguai. Posteriormente
lutou na Guerra do Paraguai recebendo por bravura o posto de Capitão de Mar e
Guerra. Quando da queda da Monarquia, ele era o Ministro da Marinha no último
ministério imperial chefiado pelo Visconde de Ouro Preto. Quando militares
comandados por Benjamin Constant lhe dão voz de prisão ele teria disparado
alguns tiros tentando acertar Deodoro da Fonseca. O resultado é que foi
alvejado por dois tiros, mas sobreviveu. Deodoro teria gritado: não matem este
homem! Foi à única vítima no dia do golpe que derrubou a Monarquia e implantou
a República no Brasil! Ladário não desistiu da vida pública e ainda foi Senador
nos anos seguintes além de atacar duramente a figura de Floriano Peixoto e suas
perseguições políticas. Até novas pesquisas, sua iniciação a linguagem
virulenta e radical teve início no jornal O
Povo da cidade do Rio Grande.
O início
desta caminhada no jornalismo como instrumento político foi o contexto da
eclosão do cólera morbus, a mais grave epidemia que até então atingira Rio
Grande e a que causou o maior número de mortes na história da cidade. O jornal
surgiu exatamente nos momentos dramáticos da epidemia e buscava questionar as
relações de poder das autoridades em nível local e estadual.
A epidemia
de cólera teve como epicentro do debate o cemitério do BonFim, daí a
insistência no tema da higienização e fechamento deste campo santo nos artigos
incisivos do redator Azevedo: “O que exigia o povo? O cemitério dentro da
cidade, cheio de cadáveres, quando uma epidemia devastadora flagela a
população; - os miasmas de cólera que se desprendem de suas covas,
infeccionando a atmosfera que alimenta a vida” (O Povo. 29 de dezembro de 1855). A pressão da imprensa local e as
manifestações populares levaram ao abandono do cemitério do BonFim e o início
dos enterramentos no cemitério extramuros, além das trincheiras, afastando os
mortos dos vivos num processo inexorável em nível de mentalidades.
As posturas
políticas de denunciar negligencias tráfico de influências, corrupção,
mandonismo ou má administração pública de importante nomes da Câmara de
Vereadores, acarretou em perseguições aos redatores do jornal. Até a impressão
do jornal tentou ser suspensa com pressões ao dono da tipografia. Azevedo foi
tirado do posto e partiu para o Rio de Janeiro para prestar esclarecimentos
sobre sua participação na convulsão social que teria levado a ameaças ao
presidente da Câmara o Sr. Mesquita. Um dos redatores que atuava como
funcionário na Alfândega do Rio Grande foi “exilado” para Jaguarão e outro
também foi afastado de suas atividades profissionais. No jogo de influências
políticas, a articulação dos conservadores garantiu o inferno astral para o
grupo, mas o direito de livre expressão jornalística continuava a ser uma
garantia do governo de D. Pedro II. Ao menos para os que conseguiam sobreviver
a tantas dificuldades! E uma das maiores foi o afastamento de Azevedo da
redação do jornal: “Retirada para a corte do digno primeiro tenente da armada
Sr. José da Costa Azevedo! Segue para a corte no vapor Guanabara, o nosso
distinto amigo e patrício, que (...) se tem conservado longo tempo nesta
província como membro da comissão de demarcação de limites entre o império e o
estado vizinho. (...) A retirada para a corte do nosso bom amigo, segundo fomos
informados, foi instada pela presidência da província a empenho do Sr. Dr.
Bello, que sabemos por cartas de membros do ministério, que este se propunha a
deputação geral por este círculo nas próximas eleições, teve o arrojo de
concertar mil inventos em desabono do nosso amigo, e fazer constar ao governo
imperial que a sua estada aqui era assaz perigosa a tranqüilidade pública (...)
seguiu para a corte a fim de justificar-se perante ele das acusações que lhe
eram feitas como cabeça dos revoltosos na cidade do Rio Grande!” (O Povo,
25-02-1856).
Estes
embates eram apenas o início da carreira militar e política deste personagem
que nos anos seguintes participou com a esquadra brasileira na Guerra do
Paraguai. Sua atuação lhe valeu o título nobiliárquico de Barão de Ladário.
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