No dia 27 de junho Rio Grande completa 180
anos de sua elevação administrativa a “cidade”. Tendo começado como uma
Comandância Militar e depois Vila, Rio
Grande apresenta uma história que consiste numa longa duração temporal que ruma
para três séculos. Por ter sido o primeiro povoamento luso-brasileiro,
experiências sociais e políticas dos períodos colonial, imperial e republicano,
muitas vezes aqui se expressaram pela primeira vez: planificação urbana,
organização militar e administração civil, relações sociais, vida
intelectual/artística (primeiro teatro com estrutura no Rio Grande do Sul,
imprensa mais antiga do interior do Estado, primeira Biblioteca do Rio Grande
do Sul etc).
Para buscarmos uma primeira e ampla reflexão,
podemos pensar este longo período de eventos históricos constituídos por
práticas relativamente sólidas e duradouras. Neste sentido, podemos interpretar
de 1737 até o final da década de 1780 como uma cidade voltada ao controle
militar e aos confrontos com os espanhóis. A partir da década de 1790 o
comércio se consolida com a exportação de charque para outros portos
brasileiros. Especialmente a partir da década de 1820, o comércio de exportação
e importação controlado por alemães, ingleses, franceses, portugueses vai
remodelar urbanisticamente a localidade e interligar o porto do Rio Grande com
os principais portos europeus, da costa leste dos Estados Unidos e do Rio da
Prata. Com a Revolução Industrial, Rio Grande vai sediar em 1873 a primeira grande
indústria gaúcha e que consolidará até a década de 1950, o apelido de “cidade
das chaminés”. É nesta década de 1950 que a industrialização difusa regional
onde não havia um mercado nacional integrado (permitindo a sobrevivência de
indústrias regionais e locais) perde competitividade e provoca a falência de
grande parte do empresariado que estava fora do eixo São Paulo e Rio de
Janeiro. A cidade entra em fase de maior dependência dos influxos do processo
industrial brasileiro e as políticas de incentivo do governo federal, como no
caso da indústria pesqueira que torna Rio Grande, nas décadas de 1960-80, no
maior centro pesqueiro do Brasil.
A sazonalidade dos processos econômicos de
cima para baixo começa a se intensificar com a construção do Super Porto do Rio
Grande na década de 1970 e a consolidação/expansão das indústrias de
fertilizantes naquela área portuária. A cada mega-projeto, como o do Distrito
Industrial dos anos 1970, aumenta a demanda pelos serviços urbanos e a
historicamente frágil infra-estrutura de serviços entra em crise. A última
demanda de cima para baixo foi o do Polo Naval que atraiu muita mão-de-obra de
fora da cidade e também empregou muitos trabalhadores locais, mas que não gerou
riqueza suficiente para aportes em qualidade de vida urbana deixando um rastro
de problemas sociais de difícil enfrentamento e o colapso da precária estrutura
viária. São desafios para as próximas décadas buscar a salubridade em meio a um
caos urbano onde o poder público se apresenta cada vez mais cerceado de
recursos financeiros na esfera estadual e municipal.
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