Porto do Rio Grande em 1908

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segunda-feira, 17 de julho de 2017

HISTÓRIA GEOLÓGICA E CLIMA

Conforme Claude Allègre (professor da Universidade de Paris) e Stephen Schneider (professor da Universidade de Stanford) os continentes e oceanos, envoltos por uma atmosfera rica em oxigênio, abrigam formas de vida familiares. Mas essa constância é uma ilusão produzida pela experiência humana de tempo. A Terra e sua atmosfera são frequentemente alteradas. Placas tectônicas deslocam continentes, elevam montanhas e movem o fundo dos oceanos ao mesmo tempo que processos ainda pouco compreendidos alteram o clima. Essa mudança constante caracteriza a Terra desde os seus primórdios, há 4,55 bilhões de anos. A partir de então, o calor e a gravidade tem ditado a evolução do planeta. Essas manifestações foram gradualmente reforçadas pelos efeitos globais da existência da vida. Explorar esse passado nos permite entender a origem da vida e, talvez, seu futuro (A Intrincada Evolução da Terra. Biblioteca Scientific American vol.1. São Paulo: Duetto Editorial, 2013).
A evolução geológica do planeta Terra e a formação de sua atmosfera, possibilitam entender o desenvolvimento da vida unicelular, o surgimento dos primeiros hominídeos há 4 milhões de anos e de formas complexas como a do Homo sapiens nos últimos 200 mil anos.
Foi um longo processo geológico de mais de 4 bilhões de anos e com formação de matéria orgânica a pelo menos 3,8 bilhões. No último bilhão de anos os continentes se deslocaram apresentando diferentes posições. A cerca de 200 milhões de anos atrás existia a Pangeia (superagrupamento dos continentes ancestrais) passando, desde então, as placas tectônicas se afastarem e formarem os continentes como os conhecemos atualmente. A formação da atmosfera foi fundamental para o surgimento das inumeráveis formas de vida. Os gases que emergiram do interior do planeta (ciclo geotermal) contribuíram para a constituição da atmosfera que possibilitou que a vida se desenvolvesse na superfície do planeta e não apenas nos oceanos.
A análise do passado geológico é essencial para vislumbrar as alternativas de desenvolvimento dos humanos no planeta. A composição da atmosfera e a alteração na temperatura global tem sido fator de discussão científica que deve se intensificar nas próximas décadas. A quantidade de gases poluentes aumentou na atmosfera nos últimos dois séculos especialmente dióxido de carbono e metano. Desde cerca de 1860 – com a expansão da Revolução Industrial -, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera aumentaram mais de 30%, em conseqüência da industrialização e do desmatamento; os níveis de metano mais que duplicaram por causa da agricultura, uso do solo e produção de energia. A habilidade de reter calor que esses gases cada vez mais presentes possuem causa preocupações a respeito das mudanças climáticas no século 21.
Na reflexão de Allègre e Schneider, o impacto coletivo humano terá um papel coevolucionário significativo no futuro do planeta. As tendências atuais de aumento da população, as demandas por um nível de vida cada vez melhor e o uso de tecnologia e organizações para alcançar metas de crescimento contribuem para a poluição. Enquanto o preço de poluir for baixo e a atmosfera for usada como um esgoto gratuito, dióxido de carbono, metano, clorofuorcarbono, óxidos nitrosos, óxidos de enxofre e outras substâncias tóxicas devem se acumular.

Segundo os autores, no Relatório Climate Change 2001, especialistas em clima do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) estimaram que o mundo vai esquentar entre 1,4 e 5,8° C até 2100. O lado mais suave deste intervalo – um índice de aquecimento de 1,4°C por mil anos que, historicamente, tem sido a taxa média de mudanças naturais em uma escala global. Se a previsão mais pessimista se tornar realidade, poderemos testemunhar índices de mudança climática aproximadamente 60 vezes mais rápidos que as condições naturais, o que pode levar às mudanças que muitos consideram perigosas. Elas certamente forçariam muitas espécies a migrar, como fizeram na transição da era do gelo para a interglacial, entre 10 mil e 15 mil anos atrás. Não apenas as espécies teriam de reagir às mudanças climáticas de 14 a 60 vezes mais rápido, como poucas teriam rotas de migração abertas e intocadas, como aconteceu no fim da era do gelo. Os efeitos negativos desse aquecimento significativo – na saúde, na agricultura, na geografia costeira e nos sítios arqueológicos, para citar alguns fatores – também poderiam ser severos. Para fazer as projeções críticas necessárias sobre o futuro climático e compreender o destino dos ecossistemas na Terra, devemos estudar profundamente o solo, os mares e o gelo a fim de aprender o máximo possível com os registros geológicos, paleoclimáticos e paleoecológicos. Esses registros são o pano de fundo para calibrarmos nossos instrumentos grosseiros e observamos mais atentamente nosso nebuloso futuro ambiental, cada vez mais influenciado por nós, conclui os cientistas. 

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