Conforme
Claude Allègre (professor da Universidade de Paris) e Stephen Schneider
(professor da Universidade de Stanford) os continentes e oceanos, envoltos por
uma atmosfera rica em oxigênio, abrigam formas de vida familiares. Mas essa
constância é uma ilusão produzida pela experiência humana de tempo. A Terra e
sua atmosfera são frequentemente alteradas. Placas tectônicas deslocam
continentes, elevam montanhas e movem o fundo dos oceanos ao mesmo tempo que
processos ainda pouco compreendidos alteram o clima. Essa mudança constante
caracteriza a Terra desde os seus primórdios, há 4,55 bilhões de anos. A partir
de então, o calor e a gravidade tem ditado a evolução do planeta. Essas
manifestações foram gradualmente reforçadas pelos efeitos globais da existência
da vida. Explorar esse passado nos permite entender a origem da vida e, talvez,
seu futuro (A Intrincada Evolução da Terra. Biblioteca Scientific American
vol.1. São Paulo: Duetto Editorial, 2013).
A evolução
geológica do planeta Terra e a formação de sua atmosfera, possibilitam entender
o desenvolvimento da vida unicelular, o surgimento dos primeiros hominídeos há
4 milhões de anos e de formas complexas como a do Homo sapiens nos últimos 200
mil anos.
Foi um longo
processo geológico de mais de 4 bilhões de anos e com formação de matéria
orgânica a pelo menos 3,8 bilhões. No último bilhão de anos os continentes se
deslocaram apresentando diferentes posições. A cerca de 200 milhões de anos
atrás existia a Pangeia (superagrupamento dos continentes ancestrais) passando,
desde então, as placas tectônicas se afastarem e formarem os continentes como
os conhecemos atualmente. A formação da atmosfera foi fundamental para o
surgimento das inumeráveis formas de vida. Os gases que emergiram do interior
do planeta (ciclo geotermal) contribuíram para a constituição da atmosfera que
possibilitou que a vida se desenvolvesse na superfície do planeta e não apenas
nos oceanos.
A análise do
passado geológico é essencial para vislumbrar as alternativas de
desenvolvimento dos humanos no planeta. A composição da atmosfera e a alteração
na temperatura global tem sido fator de discussão científica que deve se
intensificar nas próximas décadas. A quantidade de gases poluentes aumentou na
atmosfera nos últimos dois séculos especialmente dióxido de carbono e metano.
Desde cerca de 1860 – com a expansão da Revolução Industrial -, os níveis de
dióxido de carbono na atmosfera aumentaram mais de 30%, em conseqüência da
industrialização e do desmatamento; os níveis de metano mais que duplicaram por
causa da agricultura, uso do solo e produção de energia. A habilidade de reter
calor que esses gases cada vez mais presentes possuem causa preocupações a
respeito das mudanças climáticas no século 21.
Na reflexão
de Allègre e Schneider, o impacto coletivo humano terá um papel coevolucionário
significativo no futuro do planeta. As tendências atuais de aumento da
população, as demandas por um nível de vida cada vez melhor e o uso de
tecnologia e organizações para alcançar metas de crescimento contribuem para a
poluição. Enquanto o preço de poluir for baixo e a atmosfera for usada como um
esgoto gratuito, dióxido de carbono, metano, clorofuorcarbono, óxidos nitrosos,
óxidos de enxofre e outras substâncias tóxicas devem se acumular.
Segundo os
autores, no Relatório Climate Change 2001, especialistas em clima do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) estimaram que o mundo vai
esquentar entre 1,4 e 5,8° C até 2100. O lado mais suave deste intervalo – um
índice de aquecimento de 1,4°C por mil anos que, historicamente, tem sido a
taxa média de mudanças naturais em uma escala global. Se a previsão mais
pessimista se tornar realidade, poderemos testemunhar índices de mudança
climática aproximadamente 60 vezes mais rápidos que as condições naturais, o
que pode levar às mudanças que muitos consideram perigosas. Elas certamente
forçariam muitas espécies a migrar, como fizeram na transição da era do gelo
para a interglacial, entre 10 mil e 15 mil anos atrás. Não apenas as espécies
teriam de reagir às mudanças climáticas de 14 a 60 vezes mais rápido, como
poucas teriam rotas de migração abertas e intocadas, como aconteceu no fim da
era do gelo. Os efeitos negativos desse aquecimento significativo – na saúde,
na agricultura, na geografia costeira e nos sítios arqueológicos, para citar
alguns fatores – também poderiam ser severos. Para fazer as projeções críticas
necessárias sobre o futuro climático e compreender o destino dos ecossistemas
na Terra, devemos estudar profundamente o solo, os mares e o gelo a fim de
aprender o máximo possível com os registros geológicos, paleoclimáticos e
paleoecológicos. Esses registros são o pano de fundo para calibrarmos nossos
instrumentos grosseiros e observamos mais atentamente nosso nebuloso futuro
ambiental, cada vez mais influenciado por nós, conclui os cientistas.
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