Porto do Rio Grande em 1908

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segunda-feira, 17 de julho de 2017

UM MONSTRO NO ATLÂNTICO

Em 2004 ocorreu um raro fenômeno que hoje faz parte da meteorologia mundial. Um ciclone tropical atingiu o litoral norte do Rio Grande do Sul e o litoral sul de Santa Catarina, provocando grandes prejuízos.
A formação de ciclone extra-tropical é um fenômeno normal no Atlântico Sul e está associado ao ingresso de frentes frias, mas não o de um ciclone tropical, sendo o primeiro registro deste tipo de ocorrência.
O ciclone tropical se caracteriza por ser um sistema constituído por grandes tempestades constituindo uma região de baixa pressão atmosférica apresentando um núcleo quente (o olho do furacão). Os grandes ciclones podem produzir ventos de 300 km/h. Chuvas torrenciais e elevação de marés com altas ondas estão associadas a esta ocorrência. Este fenômeno atmosférico pode receber diferentes denominações: furacão, tufão, tempestade tropical, depressão tropical ou ciclone.    
Sua formação ocorre nas proximidades da Linha do Equador onde a temperatura da água do mar e da atmosfera é mais elevada. Sua ocorrência no sul do Brasil ainda não está elucidada mas pode estar associada, como hipótese, as mudanças climáticas que se intensificaram nas últimas décadas. A maioria dos ciclones se forma no noroeste do Oceano Pacífico. Nos últimos duzentos anos, cerca de 2 milhões de pessoas morreram vítimas deste fenômeno, sendo que 90% das mortes são causadas pela elevação do nível do mar. O furacão Katrina que atingiu a costa sul dos Estados Unidos em 1985, provocou prejuízos de 100 bilhões de dólares.
O furacão Catarina iniciou sua formação no Oceano Atlântico no dia 19 de março de 2004. Estava a cerca de 1.000 km de distância da costa entre o litoral de Santa Catarina e o norte do Rio Grande do Sul. Na manhã do dia 27 os ventos alcançaram a velocidade máxima de 180 km/h o que o tornou um furacão na categoria 2 da escala de Saffir-Simpson. Na parte da noite deste dia 27, o furacão tocou a costa causando devastação. Nas últimas horas, a população foi orientada pelas autoridades a abandonar as residências mas a maioria permaneceu e assistiu os efeitos do estranho monstro que se formou no Atlântico Sul.  
No caso do furacão Catarina, os danos que ele causou trouxeram prejuízos de cerca de 350 milhões de dólares. Cerca de 5 mil residências foram danificadas no litoral norte do RS, especialmente em Torres. Em Santa Catarina, mais de 40 mil casas foram danificadas ou destruídas. Outras fontes indicam prejuízos conjuntos em mais de 100.000 imóveis. Três pessoas morreram e 75 ficaram feridas.
Uma década atrás, a MetSul Meteorologia fez a cobertura do evento e realizou uma consulta ao Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos. A resposta foi que a formação no Atlântico era um ‘furacão’. Como a literatura especializada afirmava da impossibilidade desta ocorrência, a resposta foi assustadora e instigante. Com esta informação, o meteorologista da MetSul Luiz Fernando Nachtigall assinou o primeiro alerta de furacão para a nossa região. Intenso trabalho de divulgação da gravidade do evento que se aproximava foi realizada pela MetSul, Climerh, Simepar e Climaterra, frente a uma ampla descrença na severidade do fenômeno.
Conforme Nachtigall, talvez nenhum dia tenha sido tão tenso, nervoso e dramático para os meteorologistas do Sul do Brasil como o 27 de março de 2004. Foi quando o já formado furacão Catarina ganhou muita força e se organizou de forma bastante simétrica no litoral à medida que ficava mais próxima da costa. A tempestade a cada hora era mais intensa no mar e inexistiam dados confiáveis sobre velocidade de vento pela ausência de bóias. Havia um monstro no oceano, porém não se sabia qual era a sua real força.

No amanhecer do dia 28 de março a real força do fenômeno foi conhecida. E frente a descrença e incredulidade da maioria da mídia, ficou evidente que o impensável acontecerá: um furacão passou por aqui!.

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