Porto do Rio Grande em 1908

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quarta-feira, 12 de julho de 2017

D. PEDRO II EM RIO GRANDE: O HOLOCAUSTO SUL-AMERICANO

Polêmicas entre conservadores e liberais na defesa da instituição monárquica bragantina, são deixadas de lado na passagem de D. Pedro II pela cidade rumo a Uruguaiana. O inimigo paraguaio e a segurança do território Rio-grandense são as preocupações centrais dos discursos, como se constata nas boas vindas ao Imperador que o jornal liberal O Comercial enuncia: “Bem vindo, pois seja S.M.I. nesta Província que tanto ama e por quem é tão querido! Seja sua presença um sinal da maior concórdia, a extinção de mesquinhas suscetibilidades, o sinal de renhidos combates, de seguras vitórias, precursoras de uma gloriosa paz! Em torno de sua imperial pessoa, todos reunidos, tenham os Rio-grandenses, um só pensamento, uma única vontade, um sagrado dever a cumprir: DEBELAR E EXPELIR O INIMIGO”.
O jornal ainda indica uma conciliação entre o centralismo do Império e as propostas liberais, quando está em jogo uma guerra contra os vândalos paraguaios: “Forte e invencível é o povo livre, quando compreende o alto valor dos bens de que goza sob a influência de instituições liberais sabiamente dispensadas, porém, o mesmo povo redobra sua coragem sua energia quando na presença e sob as ordens imediatas de seu Imperador combate”. (O Comercial, 17/07/1865)
Manifestações populares, com a presença de mais de 6.000 pessoas, marcaram a chegada do Imperador que veio expor-se ao perigo da guerra na defesa da pátria atacada “por essa horda vil de vândalos, escravos de um déspota ainda mais vil, assim como partilhará de suas glórias, vendo-as pulverizadas e desfeitas como brevemente o será, pagando caro o arrojo de acometer-nos”. O Comercial conclama: “Honra ao Monarca ingente, liberal e grande! Honra ao povo que o compreende e aplaude!”.

GAÚCHOS PARAGUAIOS
Os discursos inflamados de salvação da pátria são a tônica das manifestações orais, como assinala o pronunciamento do advogado Dr. Francioni, na noite de 16 de julho, na presença do Imperador: “Nossos batalhões sagrados, desafrontando na antena dos combates, a soberania nacional ultrajada pelo vil e asqueroso gaúcho paraguaio, punindo estes vândalos, oriundos de plagas barbarescas...”. (O Comercial, 17/07/1865). Se hoje a palavra gaúcho expressa o habitante do Rio Grande do Sul, no ano de 1865 gaúcho ainda tem um sentido pejorativo relacionado com homens desregrados de uma vida civilizada e afeitos a pilhagens e roubos. Ainda não ocorrera a desconstrução do sentido primitivo presente nas fontes dos séculos 17 a 19, e a edificação do mito do gaúcho através da literatura e da história. Daí, a construção do inimigo paraguaio associado aos gaúchos.

ATOS BENEMÉRICOS DO MONARCA
            A base de sustentação da mão-de-obra no Império está na reprodução das relações escravistas. D. Pedro II numa postura paternalista, acentuada pelo jornal Diário do Rio Grande, “não podia deixar de selar sua passagem por esta cidade com um ato de acrisolado patriotismo e verdadeira caridade”. A caridade foi à doação de dinheiro ao vigário da freguesia para ser distribuído junto à pobreza indigente, além de conceder uma carta de liberdade a uma “africana que servia à Santa Casa”. O monarca também comprou “a liberdade de uma pardinha quase branca, que teve a acertada e para ela feliz lembrança, de ir ter com o Imperador”. O jornal destaca que “estes atos de filantropia são tão grandiosos que por si só dizem tudo em abono do magnânimo monarca brasileiro”. (Diário do Rio Grande, 17-18/07/1865)

O RETORNO
D. Pedro II acompanhou as atividades militares brasileiras em Uruguaiana até a rendição paraguaia. Apesar de expulsos da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul, o teatro da guerra até 1870, passa a ser o território paraguaio. No final de outubro de 1865, o monarca retorna a cidade do Rio Grande sendo novamente conclamado pela população por ter participado da expulsão dos invasores da Província. Ao patriotismo do imperador, “nem o inverno, nem as chuvas, nem as cheias dos rios caudalosos, nem as noites tempestuosas, nem o sibilar do áspero minuano foram obstáculos...”. (Diário do Rio Grande, 1 e 2/11/1865)
Segundo o jornal, as privações e sofrimentos da frente de batalha eram perceptíveis na fisionomia do monarca que apresentava “o rosto descarnado” pelos sacrifícios enfrentados.

Após o conflito, o Império brasileiro, sairia fragilizado pelo avanço dos republicanos, pelo questionamento do escravismo e da sociedade estamental e pela participação política do Exército na vida nacional. Além disso, os laços de dependência financeira com o sistema bancário inglês, um dos mecanismos de financiamento do conflito com o Paraguai, endivida ainda mais a economia sustentada pelo Império. Exemplo disso é a oferta do Union Bank de Londres ao governo Imperial: “o empréstimo de 4.000.000 de libras a juros de 5% e emissão de 97%. Ficará desde já a disposição do governo 1.000.000 de libras e o restante da quantia será entregue nos prazos de costume”. (Diário do Rio Grande, 16/07/1865). 

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