Polêmicas entre conservadores e
liberais na defesa da instituição monárquica bragantina, são deixadas de lado
na passagem de D. Pedro II pela cidade rumo a Uruguaiana. O inimigo paraguaio e
a segurança do território Rio-grandense são as preocupações centrais dos
discursos, como se constata nas boas vindas ao Imperador que o jornal liberal O Comercial enuncia: “Bem vindo, pois
seja S.M.I. nesta Província que tanto ama e por quem é tão querido! Seja sua presença
um sinal da maior concórdia, a extinção de mesquinhas suscetibilidades, o sinal
de renhidos combates, de seguras vitórias, precursoras de uma gloriosa paz! Em
torno de sua imperial pessoa, todos reunidos, tenham os Rio-grandenses, um só
pensamento, uma única vontade, um sagrado dever a cumprir: DEBELAR E EXPELIR O
INIMIGO”.
O jornal
ainda indica uma conciliação entre o centralismo do Império e as propostas
liberais, quando está em jogo uma guerra contra os vândalos paraguaios: “Forte e invencível é o povo livre, quando
compreende o alto valor dos bens de que goza sob a influência de instituições
liberais sabiamente dispensadas, porém, o mesmo povo redobra sua coragem sua
energia quando na presença e sob as ordens imediatas de seu Imperador combate”.
(O Comercial, 17/07/1865)
Manifestações
populares, com a presença de mais de 6.000 pessoas, marcaram a chegada do
Imperador que veio expor-se ao perigo da guerra na defesa da pátria atacada
“por essa horda vil de vândalos, escravos de um déspota ainda mais vil, assim
como partilhará de suas glórias, vendo-as pulverizadas e desfeitas como
brevemente o será, pagando caro o arrojo de acometer-nos”. O Comercial conclama: “Honra ao Monarca ingente, liberal e grande!
Honra ao povo que o compreende e aplaude!”.
GAÚCHOS PARAGUAIOS
Os
discursos inflamados de salvação da pátria são a tônica das manifestações
orais, como assinala o pronunciamento do advogado Dr. Francioni, na noite de 16
de julho, na presença do Imperador: “Nossos batalhões sagrados, desafrontando na
antena dos combates, a soberania nacional ultrajada pelo vil e asqueroso gaúcho paraguaio, punindo estes vândalos, oriundos
de plagas barbarescas...”. (O Comercial,
17/07/1865). Se hoje a palavra gaúcho
expressa o habitante do Rio Grande do Sul, no ano de 1865 gaúcho ainda tem um sentido pejorativo relacionado com homens
desregrados de uma vida civilizada e afeitos a pilhagens e roubos. Ainda não
ocorrera a desconstrução do sentido primitivo presente nas fontes dos séculos
17 a 19, e a edificação do mito do gaúcho
através da literatura e da história. Daí, a construção do inimigo paraguaio
associado aos gaúchos.
ATOS BENEMÉRICOS DO MONARCA
A
base de sustentação da mão-de-obra no Império está na reprodução das relações
escravistas. D. Pedro II numa postura paternalista, acentuada pelo jornal Diário do Rio Grande, “não podia deixar
de selar sua passagem por esta cidade com um ato de acrisolado patriotismo e
verdadeira caridade”. A caridade foi à doação de dinheiro ao vigário da
freguesia para ser distribuído junto à pobreza
indigente, além de conceder uma carta de liberdade a uma “africana que
servia à Santa Casa”. O monarca também comprou “a liberdade de uma pardinha quase branca, que teve a
acertada e para ela feliz lembrança, de ir ter com o Imperador”. O jornal
destaca que “estes atos de filantropia são tão grandiosos que por si só dizem
tudo em abono do magnânimo monarca brasileiro”. (Diário do Rio Grande, 17-18/07/1865)
O RETORNO
D. Pedro
II acompanhou as atividades militares brasileiras em Uruguaiana até a rendição
paraguaia. Apesar de expulsos da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul, o
teatro da guerra até 1870, passa a ser o território paraguaio. No final de
outubro de 1865, o monarca retorna a cidade do Rio Grande sendo novamente
conclamado pela população por ter participado da expulsão dos invasores da
Província. Ao patriotismo do imperador, “nem o inverno, nem as chuvas, nem as
cheias dos rios caudalosos, nem as noites tempestuosas, nem o sibilar do áspero
minuano foram obstáculos...”. (Diário do
Rio Grande, 1 e 2/11/1865)
Segundo o
jornal, as privações e sofrimentos da frente de batalha eram perceptíveis na
fisionomia do monarca que apresentava “o rosto descarnado” pelos sacrifícios
enfrentados.
Após o
conflito, o Império brasileiro, sairia fragilizado pelo avanço dos
republicanos, pelo questionamento do escravismo e da sociedade estamental e
pela participação política do Exército na vida nacional. Além disso, os laços
de dependência financeira com o sistema bancário inglês, um dos mecanismos de
financiamento do conflito com o Paraguai, endivida ainda mais a economia
sustentada pelo Império. Exemplo disso é a oferta do Union Bank de Londres ao
governo Imperial: “o empréstimo de 4.000.000 de libras a juros de 5% e emissão
de 97%. Ficará desde já a disposição do governo 1.000.000 de libras e o
restante da quantia será entregue nos prazos de costume”. (Diário do Rio Grande, 16/07/1865).
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