Porto do Rio Grande em 1908

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quinta-feira, 13 de julho de 2017

CAFÉ MOKA

Até o final do século 17, o café vinha da Árabia e era conhecido pelo nome da cidade em que teve origem: Moca. Da Árabia a comercialização avançou para a Holanda, desenvolvendo o hábito do consumo na Europa. Na Indonésia, ele foi cultivado na Ilha de Java. De Java, o café passou a ser cultivado nas Índias Ocidentais, América Central e na década de 1820 passou a ser plantado no Brasil: no Oeste Paulista e no Vale do Paraíba. A economia cafeeira vai se tornar, por mais de um século, a mais importante para as exportações brasileiras e criar a figura dos poderosos Barões do Café. O Porto de Santos se torna o principal exportador do produto em todo o planeta.
Os locais públicos para consumir o produto foram se sofisticando ao longo dos últimos três séculos. A partir do século 18, os cafés proliferaram na Europa criando uma nova sociabilidade que a partir do século 19, passou a ter um sabor bem brasileiro (o maior produtor mundial de café). No último século e meio, foram inúmeros os cafés que funcionaram em Rio Grande. Seus registros de existência ficaram perdidos ou esparsos fragmentos ainda podem ser pesquisados em jornais do século 19 ou 20. Numa cidade cosmopolita que atraiu muitos imigrantes e comerciantes, os espaços gastronômicos eram lugar indispensável para a sociabilidade. Os cafés faziam parte do cotidiano num cenário repleto de tavernas e botequins, muitas vezes tumultuados pelo excesso do consumo de álcool.
O café se destacava buscando um espaço mais seletivo para um público que buscava um ambiente mais calmo para conversas informais, profissionais ou a troca de ideias no campo da política. Um exemplo destes espaços que existiram na cidade é o Café Moka que funcionava no distante ano de 1887 e cuja memória pode ser visitada brevemente num anúncio do jornal “O Artista” (1887). O enfoque do anúncio é que além de servir o apreciado café, o estabelecimento também investia numa mania nacional dos séculos passados: a canja de galinha, que além de alimento era uma receita médica indispensável no século 19. Nos hospitais a canja se fazia presente assim como era muito conhecido no fogão a lenha das residências. Como o Café Moka estava estrategicamente instalado em frente ao Teatro Politeama Rio-grandense, o olhar estava no vasto público freqüentador das atividades teatrais e sociais naquele espaço. Muitos consumidores de cultura/sociabilidade do Politeama devem ter feito visitas ao tentador cardápio oferecido por Manuel, o proprietário do Moka:

“O Manuel [Português] previne aos povos (Sem orgulho e glória vã), que tem coisas nunca vistas, para hoje e amanhã;
Hoje – uma excelente canja, de galinha das Arábias, que são as aves mais sábias deste mundo sublunar;
Fiambres, caças e peixes, dos mais finos do mercado, e tudo o mais que contado, custa a gente a acreditar;
Amanhã – Oh! Isso é obra! Temos coisas papafina, surpreendente, divina, sexquipedal, imprevista.
Temos jantar suculento, petiscos extraordinários, acepipes novos, vários, jantar abolicionista.
Este jantar (novidade!), vai ser coisa de espavento, um verdadeiro portento, um verdadeiro prodígio.
Os gastrônomos da terra, a quem este anúncio toca, devem vir ao Café Moka, sustentar o seu prestígio.
Mas, não é tudo. O sublime é que à noite haverá canja, como somente se arranja, nesta casa especial.
Canja de antes nunca vista, suculenta petisqueira, canja sacarrolheira, canja fenomenal.
Notem bem que no domingo, os acepipes serão em vasilhas só de barro, feitos com perfeição, quem quiser experimentar é só pedir e pagar”.


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