Até o final do século 17, o café vinha da Árabia e era
conhecido pelo nome da cidade em que teve origem: Moca. Da Árabia a
comercialização avançou para a Holanda, desenvolvendo o hábito do consumo na
Europa. Na Indonésia, ele foi cultivado na Ilha de Java. De Java, o café passou
a ser cultivado nas Índias Ocidentais, América Central e na década de 1820
passou a ser plantado no Brasil: no Oeste Paulista e no Vale do Paraíba. A
economia cafeeira vai se tornar, por mais de um século, a mais importante para
as exportações brasileiras e criar a figura dos poderosos Barões do Café. O
Porto de Santos se torna o principal exportador do produto em todo o planeta.
Os locais
públicos para consumir o produto foram se sofisticando ao longo dos últimos
três séculos. A partir do século 18, os cafés proliferaram na Europa criando
uma nova sociabilidade que a partir do século 19, passou a ter um sabor bem
brasileiro (o maior produtor mundial de café). No último século e meio, foram
inúmeros os cafés que funcionaram em Rio Grande. Seus registros de existência ficaram
perdidos ou esparsos fragmentos ainda podem ser pesquisados em jornais do
século 19 ou 20. Numa cidade cosmopolita que atraiu muitos imigrantes e
comerciantes, os espaços gastronômicos eram lugar indispensável para a
sociabilidade. Os cafés faziam parte do cotidiano num cenário repleto de
tavernas e botequins, muitas vezes tumultuados pelo excesso do consumo de
álcool.
O café se
destacava buscando um espaço mais seletivo para um público que buscava um
ambiente mais calmo para conversas informais, profissionais ou a troca de
ideias no campo da política. Um exemplo destes espaços que existiram na cidade
é o Café Moka que funcionava no distante ano de 1887 e cuja memória pode ser
visitada brevemente num anúncio do jornal “O Artista” (1887). O enfoque do
anúncio é que além de servir o apreciado café, o estabelecimento também
investia numa mania nacional dos séculos passados: a canja de galinha, que além
de alimento era uma receita médica indispensável no século 19. Nos hospitais a
canja se fazia presente assim como era muito conhecido no fogão a lenha das
residências. Como o Café Moka estava estrategicamente instalado em frente ao
Teatro Politeama Rio-grandense, o olhar estava no vasto público freqüentador
das atividades teatrais e sociais naquele espaço. Muitos consumidores de
cultura/sociabilidade do Politeama devem ter feito visitas ao tentador cardápio
oferecido por Manuel, o proprietário do Moka:
“O Manuel [Português] previne aos povos (Sem
orgulho e glória vã), que tem coisas nunca vistas, para hoje e amanhã;
Hoje – uma excelente canja, de galinha das
Arábias, que são as aves mais sábias deste mundo sublunar;
Fiambres, caças e peixes, dos mais finos do
mercado, e tudo o mais que contado, custa a gente a acreditar;
Amanhã – Oh! Isso é obra! Temos coisas
papafina, surpreendente, divina, sexquipedal, imprevista.
Temos jantar suculento, petiscos
extraordinários, acepipes novos, vários, jantar abolicionista.
Este jantar (novidade!), vai ser coisa de
espavento, um verdadeiro portento, um verdadeiro prodígio.
Os gastrônomos da terra, a quem este anúncio
toca, devem vir ao Café Moka, sustentar o seu prestígio.
Mas, não é tudo. O sublime é que à noite
haverá canja, como somente se arranja, nesta casa especial.
Canja de antes nunca vista, suculenta
petisqueira, canja sacarrolheira, canja fenomenal.
Notem bem que no domingo, os acepipes serão em
vasilhas só de barro, feitos com perfeição, quem quiser experimentar é só pedir
e pagar”.
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