A Guerra do Paraguai, iniciada em dezembro de
1864 com o ataque paraguaio a Província do Mato Grosso assumia contornos de
extrema preocupação para o Império Brasileiro. A invasão de Uruguaiana e São
Borja evidenciou que os paraguaios estavam decididos a promover ataques
incisivos em território brasileiro. O próprio Imperador, veste a roupa militar
e se desloca a frente de batalha em Uruguaiana. A passagem obrigatória era pela
porta de entrada na Província do Rio Grande de São Pedro: a cidade do Rio
Grande. Visitou São José do Norte e desembarcou em Rio Grande em 16 de julho de
1865.
Uma fonte que narrou esta
viagem foi escrita pelo Oficial da Secretaria de Estado Gervásio José da Cruz “Uma
Página Memorável da História do Reinado do Senhor D. Pedro II. Rio de Janeiro:
Tipografia Perseverança, 1865. É uma “ode exacerbada” aos feitos do monarca no
contexto de uma guerra que estava apenas tendo início e que se buscava
construir a noção de unidade nacional frente às diversidades provinciais. O
monarca seria o personagem unificador do esforço de guerra contra a República
do Paraguai.
O trecho relacionado à
vinda até Rio Grande será destacado a seguir:
“Raiou o dia 10 de Julho... Ainda bem não
eram 8 horas da manhã, já o Imperador se achava no arsenal de marinha a passar
com a maior solicitude revista a mais de 2.000 praças, que tinham de acompanhá-lo
ao teatro da guerra. Assim se passou a manhã do dia 10 de julho até que soou o
momento da partida. Há uma hora embarcou Sua Majestade Imperial em companhia de
seu Augusto Genro, o Senhor Duque de Saxe e de sua comitiva no vapor Santa
Maria, que, garboso, começou a sulcar as águas da formosa Guanabara! (...) O
Imperador faz um desembarque em Santa Catarina. As 3/4 horas da tarde do dia
14, desaferrou do porto do Desterro o vapor Santa Maria em demanda do Rio Grande
do Sul, aonde chegou no dia 16, desembarcando o Imperador pelas 11 1/2 horas da
manhã. Não consentiu Sua Majestade o Imperador, mau grado as mais instantes súplicas
das autoridades, e de notáveis cidadãos da província, que se lhe fizesse
ruidosa recepção, como, aliás, era desejo dos Rio-grandenses. Ao desembarcar na
cidade do Rio-Grande, foi seu primeiro cuidado dirigir-se à igreja, onde, em
face do Deus Vivo, dirigiu fervorosas orações, em ação de graças à feliz viagem
que fizera. E naquele momento em que o grande espírito do Imperador se
comunicava com o Altíssimo, por certo não se esquecera ele de endereçar-lhe uma
prece pelo triunfo da guerra em que estamos empenhados! (...)
Em
Rio Grande ele foi recebido por mais de seis mil pessoas que se apinhavam no
Cais da Boa Vista e seguiam o cortejo pela rua da Praia (Marechal Floriano) e
pela rua Direita (General Bacelar). Apesar de o inverno estar em seu auge, o
Imperador compareceu a atividades sociais e foi até o Teatro Sete de Setembro
(atual Bacelar) para assistir peças patrióticas e escutar discursos otimistas
de uma vitória militar). A administração do Império passava a ser feita em Rio
Grande e D. Pedro II fez o seguinte pronunciamento. “Rio-Grandenses! Sem a
menor provocação, é por ordem do governo do Paraguai invadiu segunda vez o
território de nossa pátria. Seja vosso único pensamento o vingardes tamanha
afronta, e todos nos ufanaremos cada vez mais dos brios e denodo dos
Brasileiros. A rapidez das comunicações entre a capital do Império e a vossa
província permite a mim e a meus genros, meu novo filho, presenciar vossos
nobres feitos. Rio-Grandenses! Falo-vos como pai que zela a honra da Família
Brasileira, estou certo de que procedereis como irmãos, que se amam ainda mais
quando qualquer deles sofre. Palácio do Rio Grande, 16 de Julho de 1865. D. Pedro
II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil”.
D.
Pedro II permaneceu em Rio Grande até o dia 18 de julho quando embarcou para
Porto Alegre às 10 horas da manhã. Sua missão era de ser um exemplo de
patriotismo e politicamente conclamar a união de esforços contra os invasores.
Uma longa e desgastante viagem o aguardava no transcurso da Lagoa dos Patos e
Rio Jacuí. A partir de Rio Pardo o trajeto foi feito de charrete ao longo de
centenas de quilômetros até a frente de combate. O Imperador não presenciou um
brutal derramamento de sangue, pois os cinco mil paraguaios se renderam frente
ao cerco das tropas da tríplice aliança. A rendição ocorreu em 18 de setembro e
teve início o longo trajeto de retorno que traria novamente ao Porto do Rio
Grande.
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