Este
gênero literário, o romance histórico, nasceu ha duzentos anos. Caracteriza-se
pela utilização de dados verídicos fundados em pesquisa histórica para
construir o ambiente em que os personagens se moverão. A narração parte de um
tema histórico datado no tempo e no espaço. É claro que o objetivo é trazer uma
visão do passado com veracidade mas com a liberdade de criar personagens ou
modificar fatos documentais. O ambiente
histórico é reconstruído e o enredo se passa no passado, buscando uma
fidelidade no detalhamento de pessoas e lugares. O objetivo é que o leitor
acredite na veracidade histórica daquela imagem construída do passado, sendo
esta imagem criada por um suposto narrador isento e que usa referências
documentais.
O romance histórico também é usado como um olhar para o passado buscando
ressaltar a ética e a moral pretérita e criticar os valores do presente. Estas
variáveis caracterizam, genericamente, o romance histórico tradicional.
Nos últimos 50 anos, o debate foi intenso e o olhar hoje é voltado ao
romance histórico pós-moderno ou a metaficção historiográfica que segundo Linda
Hutcheon são “romances famosos e populares que, ao mesmo tempo, são
intensamente auto-reflexivos e mesmo assim, de maneira paradoxal, também se
apropriam de acontecimentos e personagens históricos”. Se no romance histórico
tradicional o objetivo era, muitas vezes, trazer respostas fidedignas do
passado como lição moralizadora do presente, a metaficção buscar questionar e
problematizar o passado e levar o leitor junto nesta construção intelectual
imperfeita de um tempo que não mais existe.
George Lukács enfatiza que foi o escritor escocês Walter Scott (1771-1832)
o fundador do gênero com o livro ‘Waverley’ publicado em 1814. A história do livro
se passa na Escócia durante a revolta jacobita (1745-46) que buscou a
restauração da dinastia Stuart. O soldado inglês Edward Waverley é enviado
neste ano para o centro da rebelião. Simpático aos jacobitas ele acaba sendo
preso por deserção mas libertado pelos rebeldes tendo a trama continuidade com
confrontos militares e vida pessoal com duas personagens femininas. O sucesso
da publicação permitiu a publicação de livros posteriores (cerca de trinta) como o clássico Ivanhoé (1820) e vários outros
romances voltados a oito séculos de história dos tempos da cavalaria.
Scott, filho de um procurador de justiça de Edimburgo (Escócia) enfatizava,
nostalgicamente, que o passado era constituído de grande realizações e que a
história da sociedade era dirigida ao progresso. Porém, constata-se o
saudosismo do passado quando descreve a honra dos clãs escoces (highlanders) e
a necessidade de adaptação ao futuro com o vínculo político com a Inglaterra e
seu poder econômico. A atualidade do tema foi testada no plebiscito pela
separação da Escócia do Reino Unido ocorrido no mês de setembro último:
venceram os votantes da manutenção do vínculo com a Inglaterra!
A técnica de narrador onisciente e o profundo
conhecimento da tradição escocesa, legaram passagens consistentes e que lhe
trouxeram grande reconhecimento em sua época. A ação heróica individual era
inserida no processo civilizatório mais amplo. Nos últimos anos de vida, devido
a más transações comerciais e dívidas, lutou até a morte para tentar saldar os
devedores, morrendo num clima de indigência financeira.
É preciso ressaltar que o lugar de Scott neste
gênero não é tranquilo pois vários autores consideram que o verdadeiro romance
histórico só veio a tona em 1844 com ‘Os Três Mosqueteiros’ de Alexandre
Dumas.
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