Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sexta-feira, 14 de julho de 2017

BICENTENÁRIO DO ROMANCE HISTÓRICO

Este gênero literário, o romance histórico, nasceu ha duzentos anos. Caracteriza-se pela utilização de dados verídicos fundados em pesquisa histórica para construir o ambiente em que os personagens se moverão. A narração parte de um tema histórico datado no tempo e no espaço. É claro que o objetivo é trazer uma visão do passado com veracidade mas com a liberdade de criar personagens ou modificar fatos documentais.  O ambiente histórico é reconstruído e o enredo se passa no passado, buscando uma fidelidade no detalhamento de pessoas e lugares. O objetivo é que o leitor acredite na veracidade histórica daquela imagem construída do passado, sendo esta imagem criada por um suposto narrador isento e que usa referências documentais.
O romance histórico também é usado como um olhar para o passado buscando ressaltar a ética e a moral pretérita e criticar os valores do presente. Estas variáveis caracterizam, genericamente, o romance histórico tradicional.
Nos últimos 50 anos, o debate foi intenso e o olhar hoje é voltado ao romance histórico pós-moderno ou a metaficção historiográfica que segundo Linda Hutcheon são “romances famosos e populares que, ao mesmo tempo, são intensamente auto-reflexivos e mesmo assim, de maneira paradoxal, também se apropriam de acontecimentos e personagens históricos”. Se no romance histórico tradicional o objetivo era, muitas vezes, trazer respostas fidedignas do passado como lição moralizadora do presente, a metaficção buscar questionar e problematizar o passado e levar o leitor junto nesta construção intelectual imperfeita de um tempo que não mais existe.
George Lukács enfatiza que foi o escritor escocês Walter Scott (1771-1832) o fundador do gênero com o livro ‘Waverley’ publicado em 1814. A história do livro se passa na Escócia durante a revolta jacobita (1745-46) que buscou a restauração da dinastia Stuart. O soldado inglês Edward Waverley é enviado neste ano para o centro da rebelião. Simpático aos jacobitas ele acaba sendo preso por deserção mas libertado pelos rebeldes tendo a trama continuidade com confrontos militares e vida pessoal com duas personagens femininas. O sucesso da publicação permitiu a publicação de livros posteriores (cerca de trinta)  como o clássico Ivanhoé (1820) e vários outros romances voltados a oito séculos de história dos tempos da cavalaria.
Scott, filho de um procurador de justiça de Edimburgo (Escócia) enfatizava, nostalgicamente, que o passado era constituído de grande realizações e que a história da sociedade era dirigida ao progresso. Porém, constata-se o saudosismo do passado quando descreve a honra dos clãs escoces (highlanders) e a necessidade de adaptação ao futuro com o vínculo político com a Inglaterra e seu poder econômico. A atualidade do tema foi testada no plebiscito pela separação da Escócia do Reino Unido ocorrido no mês de setembro último: venceram os votantes da manutenção do vínculo com a Inglaterra!
A técnica de narrador onisciente e o profundo conhecimento da tradição escocesa, legaram passagens consistentes e que lhe trouxeram grande reconhecimento em sua época. A ação heróica individual era inserida no processo civilizatório mais amplo. Nos últimos anos de vida, devido a más transações comerciais e dívidas, lutou até a morte para tentar saldar os devedores, morrendo num clima de indigência financeira.

É preciso ressaltar que o lugar de Scott neste gênero não é tranquilo pois vários autores consideram que o verdadeiro romance histórico só veio a tona em 1844 com ‘Os Três Mosqueteiros’ de Alexandre Dumas.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário