A
Dissertação de Mestrado em Geografia (FURG/2011) de Thaíze Ferreira da Luz “Espaços
Públicos no Cenário Urbano-Rio-Grandino: um estudo de caso do papel social das
praças na cidade do Rio Grande” possibilita algumas reflexões científicas para
explicar o apogeu e decadência destes espaços públicos.
Conforme
Thaíze, na cidade do Rio Grande, nos primeiros anos do século XIX, havia um
caráter essencialmente pragmático na existência das praças, fortemente vinculado
à questão do abastecimento de água. No decorrer desse século e em parte da
centúria seguinte, o papel social dos espaços públicos passaria por
significativa transformação, vinculando-se à perspectiva de apresentar-se a
cidade como importante entreposto mercantil (e mais tarde industrial) e,
portanto, como uma urbe atingida pelos ares da civilização, bem de acordo com
os padrões europeus da época. Nesse tempo, os Relatórios Municipais insistiam
em apresentar a importância das praças para o ―aformoseamento citadino, através
de constantes tentativas de promover arborizações, calçamentos e, enfim, de
ampliar os espaços para os passeios públicos.
A praça era
vista como um espaço multifuncional. Que ao mesmo tempo podia representar o
espaço político, cívico, religioso e social. E como elemento urbano, definia um
importante centro irradiador reconhecido no âmbito global da cidade.
O
crescimento da urbe seria acompanhando, assim, por uma importante valorização
de suas praças, de modo que, além das próprias reformas e ―embelezamentos de
que era alvo, elas passaram a ser palco da edificação de monumentos, os quais
não retratavam apenas a homenagem a ser prestada a um personagem/episódio
pretéritos, mas também a pujança que se buscava demarcar para a cidade. Passados
os resultados do avanço comercial/industrial e com o desencadear de uma séria
crise e estagnação econômico-financeira, com profundas conseqüências sociais,
os espaços públicos também sofreriam significativos revezes.
Nesse
sentido, o Plano Diretor estabelecido nos anos 1980, limitava-se a enquadrar as
praças no rol dos espaços abertos cuja permanência seria importante como áreas
lúdicas e visuais urbanos. Além dessa ordem de dificuldades, progressivamente,
o papel social desses espaços públicos iria perdendo sentido e esvaziando-se,
tendo em vista as amplas transformações pelas quais passaria a humanidade na
virada do milênio, de modo que, muitas vezes, as praças passariam a ser
encaradas como parte de um cenário urbano que se tornava apenas ponto de passagem,
pelos quais as pessoas passam sem nem ao menos notar o significado de seu
entorno e mesmo sem que se estabeleça algum tipo de interação social.
A chegada da
modernidade marcou uma revisão do conceito de espaço urbano, essa transformação
acarretou uma mudança estrutural na escala da cidade, afetando diretamente o
espaço da praça. O novo conceito de cidade que se desenvolveu com a modernidade
afetaria não somente a praça, mas também a relação entre espaço urbano e
arquitetura. Ocorre uma valorização da função de circulação, e o sistema
viário, com sua função de deslocamento, torna-se o elemento vital e essencial
da configuração urbana, de forma que a praça assume o papel de lugar de
passagem. Sendo sua função tradicional de ponto de encontro, centro da vida
urbana, substituída por alternativas que incentivam a produção de espaços
vazios.
Diante
dessas transformações, a estrutura formal da cidade modifica-se e, com ela, os
espaços simbólicos e tradicionais perdem significado. É o caso da praça pública
que, diante do crescimento territorial da cidade moderna e do surgimento de
edificações, que passam a abrigar e acolher diversas atividades praticadas nos
espaços tradicionais depara-se com um movimento de declínio na condição de
local de sociabilidade. Em relação ao uso do espaço, pode-se afirmar que a
praça moderna perde algumas funções vitais, adquirindo novos papéis. Assim,
diante da verdadeira degradação urbana que acompanhou as grandes dificuldades
financeiro-econômicas da cidade do Rio Grande nas últimas décadas, seus espaços
públicos também passariam por idêntico processo.
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