Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

segunda-feira, 17 de julho de 2017

AQUECIMENTO GLOBAL

A atual onda de calor de 2014 propicia uma reflexão sobre o aquecimento global. Fique claro que não estou relacionando a atual onda de calor com a teoria do aquecimento global (tema com muitas polêmicas e poucas certezas dos desdobramentos) mas apenas fazendo uma reflexão sobre o que seria viver num planeta com temperaturas tão altas. A experiência destas últimas semanas no Rio Grande do Sul - com temperaturas persistentes mais elevadas desde o início da série histórica de registro em 1910 – nos lega algumas reflexões que num futuro não tão distante pode se tornar parte do cotidiano.
O efeito do forte calor pode trazer transformações civilizatórias radicais e inclusive a extinção de muitas culturas! Isto ocorreu no passado quando de mudanças ambientais de forte impacto no modo-de-vida de civilizações como pode ter ocorrido com os Maias.
E o assunto é espinhoso! Enquanto cientistas defendem a teoria do aquecimento global outros, poucos, negam completamente. Enquanto alguns consideram que o aquecimento se deve a ação antrópica (poluição industrial ou emissão de dióxido de carbono na atmosfera), outros consideram que a temperatura sobe devido ao ciclo solar de maior emissão e a alteração climática não é antrópica.
Cientistas da Fundação Nacional de Ciências dos EUA publicaram no periódico ‘Nature Geoscience’ que o resfriamento de longo prazo do planeta encerrou-se no final do século 19. Nos últimos 1.400 anos, o período global mais quente ocorreu a partir da década de 1970. Segundo os pesquisadores, desde o século 20 está ocorrendo um aquecimento global. Em que medida isto é um ciclo ‘natural’ do planeta ou a intensificação da Revolução Industrial e a emissão de gases de efeito estufa (ou seja, a ação humana), pode estar interferindo na temperatura global?
Estando em andamento um processo de aquecimento global isto poderá promover um declínio da biodiversidade e alteração de ecossistemas pelo planeta. O impacto na ação humana também pode ser dramático com crises econômicas advindas de perdas na agropecuária, intensificação de eventos climáticos extremos e elevação do nível dos oceanos. 
Conforme o Ministério do Meio Ambiente “embora o clima tenha apresentado mudanças ao longo da história da Terra, em todas as escalas de tempo, percebe-se que a mudança atual apresenta alguns aspectos distintos. Por exemplo, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera observada em 2005 excedeu, e muito, a variação natural dos últimos 650 mil anos, atingindo o valor recorde de 379 partes por milhão em volume (ppmv) - isto é, um aumento de quase 100 ppmv desde a era pré-industrial. Outro aspecto distinto da mudança atual do clima é a sua origem: ao passo que as mudanças do clima no passado decorreram de fenômenos naturais, a maior parte da atual mudança do clima, particularmente nos últimos 50 anos, é atribuída às atividades humanas” (www.mma.gov.br).
Numa recente e polêmica entrevista a Jeff Goodell da ‘Revista Rolling Stone’, o cientista James Lovelock entende que o aquecimento global é irreversível e o futuro será cataclismático. Lovelock, o edificador da teoria de Gaia (a Terra como um organismo vivo que se auto-regula), defende que nos próximos cem anos os desastres naturais e a destruição de ecossistemas vão se intensificar levando ao extermínio de mais de 90% da população do planeta. Os sobreviventes buscarão terras frias nas altas latitudes - Canadá, Islândia, Escandinávia e Bacia Ártica. A chegada dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse - guerra, fome, pestilência e morte é o horizonte futuro que aguarda os terráqueos.
Na visão de Lovelock publicada na ‘Revista Rolling Stone’, até 2020, secas e outros extremos climáticos serão lugar-comum. Até 2040, o Saara vai invadir a Europa, e Berlim será tão quente quanto Bagdá. Atlanta acabará se transformando em uma selva de trepadeiras kudzu. Phoenix se tornará um lugar inabitável, assim como partes de Beijing (deserto), Miami (elevação do nível do mar) e Londres (enchentes). A falta de alimentos fará com que milhões de pessoas se dirijam para o norte, elevando as tensões políticas. "Os chineses não terão para onde ir além da Sibéria", sentencia Lovelock. "O que os russos vão achar disso? Sinto que uma guerra entre a Rússia e a China seja inevitável." Com as dificuldades de sobrevivência e as migrações em massa, virão as epidemias. Até 2100, a população da Terra encolherá dos atuais 6,6 bilhões de habitantes para cerca de 500 milhões.
Conforme  Jeff Goodell, em sua essência supersimplificada, é o seguinte o cenário pessimista de Lovelock: o aumento da temperatura significa que mais gelo derreterá nos pólos, e isso significa mais água e terra. Isso, por sua vez, faz aumentar o calor (o gelo reflete o sol, a terra e a água o absorvem), fazendo com que mais gelo derreta. O nível do mar sobe. Mais calor faz com que a intensidade das chuvas aumente em alguns lugares e com que as secas se intensifiquem em outros. As florestas tropicais amazônicas e as grandes florestas boreais do norte - o cinturão de pinheiros e píceas que cobre o Alasca, o Canadá e a Sibéria - passarão por um estirão de crescimento, depois murcharão até desaparecer. O solo permanentemente congelado das latitudes do norte derrete, liberando metano, um gás que contribui para o efeito estufa e que é 20 vezes mais potente do que o CO2... e assim por diante. Em um mundo de Gaia funcional, essas respostas positivas seriam moduladas por respostas negativas, sendo que a maior de todas é a capacidade da Terra de irradiar calor para o espaço. Mas, a certa altura, o sistema de regulagem pára de funcionar e o clima dá um salto - como já aconteceu muitas vezes no passado - para uma nova situação, mais quente. Não é o fim do mundo, mas certamente é o fim do mundo como o conhecemos.
Frente às previsões apocalípticas que devem ser filtradas com uma forte dose de racionalidade, podemos fazer algumas reflexões: O futuro é o incerto mas um incerto que é construído a partir das ações no presente. Como as sociedades se organizarão para o século 21 numa era consumista sem precedentes no planeta? Como gerenciar 7 bilhões de habitantes que estarão em expressivo crescimento demográfico nas próximas décadas? Devemos ter um pessimismo excessivo frente ao cenário futuro ou buscar um reduto alienado ignorando as mudanças climáticas?

Este verão escaldante de 2014 é um bom momento para pensarmos um cenário futuro de soluções que poderão ser cruciais para a continuidade do homo sapiens no planeta.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário