Amanhã, 19
de fevereiro de 2014, a cidade do Rio Grande completa 277 anos de fundação. É
uma data propícia para ressaltar a
atuação de alguém que muito fez em seu tempo de vida para projetar sadiamente o
município mais antigo do Rio Grande do Sul.
Foi um
grande amigo da memória histórica de nossa cidade que faleceu na semana
passada: Walter Albrecht. Nascido em 1918 - nos momentos dramáticos da maior
epidemia da história da humanidade, a Gripe Espanhola -, seu Walter entrou para
a história num momento marcante e fez história em inúmeros momentos também
essenciais para a história local.
Ligado as
atividades comerciais e administrativas, atuação esportiva e diplomática,
Walter Albrecht teve uma vida intensa e marcada pela atuação comunitária
acreditando no potencial da cidade do Rio Grande.
Ele me
contou inúmeras histórias sobre acontecimentos por ele vivenciados ou que
escutou de terceiros. E sempre enfatizava que era preciso preservar as memórias
como forma de não apagar o passado. O corpo é um transitório passageiro do
tempo mas as memórias poderiam ser preservadas eternamente, argumentava ele. Inúmeros
objetos familiares que ele guardou viraram conhecimento histórico nestas
páginas do Peixeiro: fotografias, cartões-postais, atas, etc.
Foram tantas
histórias e ao mesmo tempo havia tantas outras para serem escutadas faltando tempo na correria cotidiana. Certa vez ele me
relatou com pesar sobre as fotografias antigas em vidro, tiradas por seu pai, e
que estavam dentro de uma caixa no carro que estava sendo descarregado em
frente a sua casa. Prédios e ruas da cidade nas décadas de 1920-30 estavam
nestas fotografias, cuja caixa foi roubada e certamente destruídas, por não
terem nenhum valor para o ladrão.
Nunca é
demais relembrar que a aviação comercial no Brasil nasceu entre Rio Grande e
Porto Alegre na chamada linha da Lagoa dos Patos. Seu pai, Albrecht era o
responsável pela Condor Syndicat/Varig em Rio Grande desde 1927 (histórias já
contadas aqui no Peixeiro). Uma das histórias mais marcantes contadas por seu
Walter, foi quando ele, com cerca de 10 anos de idade, se escondeu no interior
do avião antes da decolagem e pode ter se
tornado a primeira criança a voar no Rio Grande do Sul. Uma aventura inesquecível pois la do alto deve
ter visto a Barra do Rio Grande, a cidade edificada entre o mar, a lagoa e as
dunas de areia...
Ideias compartilhadas
com seu Walter ficaram em suspenso: elaborar um livro sobre a presença alemã em
Rio Grande e sobre as relações comerciais e sociais da comunidade
teuto-brasileira com outras cidades brasileiras. Muitas coisas ainda precisam
ser pesquisadas mas é cada vez mais difícil escutar a oralidade de quem viveu
estes períodos.
Seu
passamento instiga uma reflexão histórica sobre o desaparecimento de toda uma
forma de atuação social fundada na ação comunitária e na visão ética. Num
período de perda de referenciais culturais e sentidos existenciais, numa cidade
em transição econômica e social, com problemas fundados na urbanidade e que são
de longa duração temporal, não há como não lamentar o passamento e colocar uma
interrogação no futuro.
Este
depositório de memórias agora se cala! A morte deste amigo parece encerrar um
ciclo das memórias desde a década de 1920. E o silencio da memória é o mais desconcertante
e sem sentido que pode marcar a existência humana...
Afinal,
somos seres históricos que produzem história. Tudo o que fazemos
cultural/historicamente ao longo da vida se transforma em memória de nossa
existência. Dissipando a memória, nossa trajetória perde o sentido e se esvai
no curso inexorável do tempo.
O cartão aqui reproduzido faz parte do acervo
de Walter Albrecht e retrata alguns cenários que gerações de munícipes conhecem
muito bem. O recorte da fotografia mostra seu Walter atuando no tradicional
Clube de Regatas Rio Grande: a eterna juventude se eterniza na imagem.
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