Rio Grande convive com empresas de
fertilizantes a pelo menos seis décadas. A traumática experiência com a fábrica
de adubos CRA a partir dos anos 1950 é até hoje uma referência de agressão ao
ser humano e ao meio ambiente. A instalação de empresas no Superporto do Rio
Grande na década de 1970 (no contexto do projeto corredor de exportações)
também deixou uma marca profunda nas comunidades a partir de então: nos anos
1980, a cidade foi apelidada de Cubatão do Sul, devido ao alto índice de
poluição.
No presente, diariamente convivemos
com a poluição atmosférica, que pode ser visualizada e inalada “democraticamente
por todos”. Mas isto já faz parte da “paisagem nossa de cada dia” sem qualquer
indicador concreto de mudança, pelo contrário, o caminho se faz em direção a
ampliar estes projetos industriais.
A questão que se coloca no momento é
de outra natureza: qual o nível real de possibilidade de, em vez de inalarmos
ao longo da vida, doses “homeopáticas de veneno”, poderíamos inalá-lo todo de
uma vez com uma explosão ou incêndio?
Esta questão deixou de ser hipotética
com as duas tragédias ocorridas neste ano em terminais de fertilizantes: a da
cidade de West no Texas (abril) e a de São Francisco do Sul em Santa Catarina
(setembro).
De fato, a manipulação destas
substâncias, apresenta um razoável nível de risco e a emissão desses gases pode
ser perigoso à saúde humana além de provocar poluição ambiental permanente
(solo e águas). O nitrato de amônio é um forte oxidante e quando em contato com
outros compostos pode provocar irritações, dificuldades respiratórias agudas e
até afetar o sangue provocando uma grave doença. Cursos de água podem se tornar
impróprios para qualquer finalidade, ficando a dúvida sobre a contaminação dos
peixes que é a base de sustento de muitas famílias.
Em São Francisco do Sul as 10 mil
toneladas de nitrato de amônio, ao oxidarem, produziram uma densa nuvem de fumaça
tóxica que foi identificada até por satélite. É a primeira vez no Brasil que a
emissão de fumaça por um acidente industrial/químico pode ser observada em
imagem de satélite. Parte da população
saiu da cidade e numa extensa área próxima ao sinistro os moradores foram
obrigados a deixar suas casas que passaram a ser vigiadas por forças militares.
O caso de Rio Grande é muito mais
complexo do que das duas localidades citadas (as quais tem uma população de
menos de 45 mil habitantes). O terminal químico do Superporto foi edificado
junto a um núcleo urbano onde circulam mais de 200 mil pessoas e com um regime
de ventos que, se soprados do nordeste, permitiriam que em poucos minutos a
fumaça cobrisse uma grande parte da área urbana. Sem falar de comunidades, como
a da Mangueira que estão assentadas nas sombras das chaminés e que sentiriam o
efeito quase instantâneo. Os milhares de
trabalhadores do Polo Naval também estão a curta distância deste epicentro.
Perguntas fundamentais precisam ser
respondidas e um olhar rigoroso das autoridades ambientais precisa focar nossa
cidade! A mais importante é: quais os níveis de fiscalização e cuidados no
manejo dos produtos químicos hoje armazenados e manipulados em Rio Grande? Segunda
pergunta que tomara que nunca tenha que ser efetivada: frente à logística
urbana comprometida que hoje temos na cidade, quais os planos de desocupação
“ágil” da população em caso de um sinistro?
Terceiro: frente ao serviço de saúde que hoje a população “conhece”,
qual o plano de emergência “real” para o atendimento das vítimas?
Nenhum comentário:
Postar um comentário