Para analisarmos a situação da Vila e da barra do Rio Grande de São Pedro após a expulsão dos espanhóis ocorrida em 1776, documentos escritos por Sebastião Bettamio e por Francisco Roscio são de expressiva importância. Sebastião Bettamio nascido em Lisboa exerceu o cargo de secretario da Junta da Fazenda do Rio Grande do Sul em 1775 regressando ao Rio de Janeiro em 1779. Escreveu Notícia particular do Continente do Rio Grande do Sul (1780), onde são descritas povoações, a situação econômica e social e também as medidas necessárias para garantir a defesa militar.
A VILA DE SÃO PEDRO POR SEBASTIÃO BETAMIO (1780): “É situada duas léguas da barra do Rio Grande de S. Pedro, caminhando rio acima. É vila desde o ano de 1751, e é a única que há em todo o continente. Foi sempre a capital, e a ele pertence à câmara que hoje se acha em Porto Alegre. Até o ano de 1763, que foi invadida pelos castelhanos, se havia trabalhado bastante para a fazer rica, o que ainda se deixa perceber, não obstante a destruição que lhe causou o mau trato que teve em treze anos, que foi ocupada pelos castelhanos, pois ainda lhe restam para memória um bom Templo, a casa de residência dos governadores, o Armazém Real, o Hospital e o corpo da guarda, tudo feito de tijolo, além de outros edifícios particulares, que suposto fossem feitos de pau a pique (único modo com que ali se fabrica) e se achassem todos muito arruinados quando felizmente foi reconquistada a vila no ano de 1776, contudo mostravam a grandeza e aceio com que tinham sido feitos. A maior parte dos moradores que hoje a ocupam são os que vieram de Buenos Aires, e pertenciam a Praça da Colônia. Atualmente está comandada por um sargento-mor debaixo das ordens do Governador. Tem armazéns reais e marinha. Os armazéns reais estendem-se também aos que há da parte do norte do rio, onde há um oficial para o cuidado dos mesmos armazéns. Nota: Esta vila, que tanto tem custado à coroa Portuguesa, parece de justiça se conserve, e se passe para ela à capital, mudando-se de Porto Alegre as pessoas que formam o Estado Civil, e restituindo-se a antiga posse em que estavam na vila. Dirão que o terreno é indigno pelas muitas areias que formam combros formidáveis, e que estes cada vez mais se vão aproximando à vila, sepultando os edifícios dela, o que não duvido sucede, e sucederá se não houver algum trabalho para os impedir. Se, porém, considerarem as utilidades que se seguem de ser ali a capital do continente, somente pela proximidade da barra e sem atender as mais que resultam aos povos vizinhos, que são já em grande número, vir-se-á a conhecer que se deve empregar todo o cuidado na conservação e aumento daquela vila, e que ainda a pretenderem mudá-la para outro sítio, se seguem grandes perdas nos edifícios que se deixam, especialmente, não havendo de dentro do sangradouro da Lagoa Mirim terreno que não seja areento, e que em pouco tempo, conservando-se sem benefício, se não converta igualmente em combros de areia, como hoje existe a vila de S. Pedro, que os não tinha em algum tempo, nem tão grandes, nem tem próximos, como há muitos moradores antigos dali, que ainda existem e o confessam. Sendo a mudança para o campo chamado das Pelotas, onde o terreno é melhor, e tem pedra, há os descontos de ficar distante da barra mais de dez léguas; e não se poder fortificar, ou guardar pela parte do campo sem uma numerosa guarnição. É bem verdade que o continente nada o guardará, se não uma paz sólida e permanente; mas a vila sempre é mais defendida, e se pode cobrir com alguma fortificação no sítio chamado o Estreito, onde já houve uma cortina, ou obra que tanto valha. Todas estas razões fazem evidente que na vila é que se deve trabalhar, e por todos os meios que parecerem conducentes para o seu estabelecimento, povoação, aumento e cultura”.
Sou aluna do Programa de Pós Graduação em Geografia da FURG,em minha pesquisa sobre a história do Rio Grande tenho encontrado aqui informações valorosas que muito me auxiliam. Obrigado Professor por dividir seu conhecimento neste blog.
ResponderExcluirMaria Cristina Pires