"De todos estes homens, o que mais se aproxima
do ideal do Engenheiro Setecentista, em que se fundem o técnico, o político e o
organizador, é José da Silva Paes, que funda províncias, constrói fortalezas e
desenha mapas.” Jaime Cortesão.
Nascido em 1679 na freguesia
de Nossa Senhora das Mercês, Lisboa, José da Silva Paes é um dos principais
personagens envolvidos na fundação do Rio Grande do Sul lusitano. Casou-se com
Máxima Teresa da Silva em 1704, com quem teve seis filhos. Seguindo a carreira
militar, orientou-se para a engenharia participando de importantes planos de
edificação de cidadelas militares no Rio de Janeiro, Santos, Santa Catarina e
Rio Grande, além de obras voltadas a construção civil de interesse público.
Tornou-se Brigadeiro de Infantaria em janeiro de 1735, vindo para o Brasil onde
passou a exercer intensas atividades nas conjunturas de conflito relativas a
Colônia do Sacramento. Foi um dos grandes estrategistas que não apenas
idealizou, mas participou diretamente da administração pública que estruturou a
concepção de Brasil Meridional lusitano.
A FUNDAÇÃO DO RIO
GRANDE
Argumentações
favoráveis a ocupação do canal do Rio Grande de São Pedro foram formuladas pelo
Brigadeiro José da Silva Paes ao Conselho Ultramarino Português em 1735 frente
a tensa situação de cerco da Colônia do Sacramento do Rio da Prata. Em parecer
de 2 de janeiro de 1736, o Conselho segue as orientações de Silva Paes e
projeta a edificação da fortificação e povoação da parte sul do canal através de
investimentos da Fazenda Real. Com a conjuntura internacional favorável ao
empreendimento, a Coroa Espanhola buscava defender as posições junto a Buenos
Aires, Montevidéu e Sacramento frente a um avanço lusitano no Prata. A Espanha
não tinha condições de promover um rápido contra-ataque frente à ocupação
militar do canal, o que garantia aos portugueses a fortificação do Rio Grande e
sua extensão até o Chuí.
A ocupação e fortificação da
barra do Rio Grande foi fator de grande satisfação para Silva Paes que
despendeu todos os esforços no êxito desta empresa, afinal, conforme a
historiadora Maria Luiz Queiróz, através do presídio do Rio Grande, ficava
garantida a posse de todo o território, que se estendia até à Laguna, barrados
os espanhóis em suas pretensões de cruzar o canal, ficando sob controle o
acesso à imensa rede hidrográfica que penetrava para o interior a partir da
Lagoa dos Patos. Para o sul, alcançava-se com socorros a Colônia do Sacramento
em tempo de guerra e, em tempo de paz, incrementava-se aquela povoação e os
negócios desenvolvidos nela. O novo estabelecimento permitia, dessa forma,
disputar a posse dos imensos rebanhos platinos e, ainda, a participação direta
no comércio de cavalos e mulas, garantindo o abastecimento dos centros consumidores
do país.
Silva Paes orientou um
esquema defensivo da região ocupada, estendendo-se para o sul onde construiu o
Forte de São Miguel, além de guardas (Chuí, Taim, Albardão e Passo da
Mangueira), do Forte Jesus-Maria-José (cuja imagem sempre carregou consigo até
sua morte) e do Forte do Estreito. A efetiva resposta a esta ocupação, ficou
entalada na garganta dos espanhóis até 1763, quando a conjuntura foi propicia a
uma investida de Cevallos e a fuga lusitana das posições ocupadas ao longo de
treze anos.
Após a fundação do presídio
Jesus, Maria, José e estando à frente da Comandância Militar do Rio Grande,
Silva Paes preocupou-se com o exercício administrativo e com a melhoria das
defesas do importante ponto estratégico. Em 11 de dezembro de 1737 passou a
Comandância ao Mestre-de-Campo André Ribeiro Coutinho que permaneceu no cargo
até 22 de dezembro de 1740, assumindo então, o Coronel Diogo Osório Cardoso.
Durante a administração de Cardoso ocorre a Revolta dos Dragões do Rio Grande,
movimento assim descrito em manuscritos do próprio Coronel: “A cinco de janeiro
de 1742, entre quatro e cinco da tarde, depois de rendida a guarda, juntou-se
grande quantidade de soldados num capão de mato junto à barra, e dali saindo,
tentaram aprisionar um cabo de esquadra que passava; este a cavalo, fugiu e foi
dar notícia ao comandante de que algo de anormal ocorria. Todas as providências
foram tomadas – reforço da guarda do Porto, envio de oficiais e soldados para a
praça de armas, reunião dos paisanos armados, para a defesa da autoridade –
caíram no vácuo. Ninguém deu um tiro. Os soldados incumbidos de dominar o motim
fizeram causa comum com os seus companheiros.” Silva Paes deslocou-se do Rio de
Janeiro para garantir a pacificação do movimento e tranqüilizar as autoridades
portuguesas frente a uma sublevação militar que gerasse a perda da posição
frente a um revés espanhol. Com habilidade contornou o grave movimento que
ameaçou a estabilidade da ocupação lusitana, fazendo concessões aos revoltosos
e punindo as lideranças.
A
rivalidade com o Governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, foram
imediatas a chegada de Silva Paes ao Brasil, afinal, este veio a mando do rei
de Portugal. Andrade procurou deixar claro nas correspondências que nenhuma
decisão poderia ser tomada sem o seu cumprasse,
buscando desta forma, manter Silva Paes sob seu controle e evitando um
indesejado ofuscamento de seu poder. A discussão estendeu-se em
correspondências mútuas e também endereçadas ao monarca português buscando a
delimitação das esferas de poder. Em agosto 1738, Silva Paes assume como
governador da Ilha de Santa Catarina, foi a forma do Conselho Ultramarino
dispersar o conflito entre dois grande nomes ligados a edificação lusitana no
Brasil Meridional.
O testamento de Silva Paes
foi escrito reafirmando a crença na Santíssima Trindade. Propriedades e outros
bens foram divididos entre os filhos. O testamento também trazia uma relação de
livros e seu valor em
prata. Segundo ele “somam todos estes livros 437, a saber devotos 68,
Filosofias 14, 89 de Geometria e Trigonometria, 252 de História e Vida de
Príncipes, 14 de Medicina e cirurgia; além de vários anos de Gazetas soltas e
vários papéis curiosos e de dois tomos de várias resoluções de S. Majestade,
companhias, que estabeleceram, e promoções dos postos militares até o ano de 1757.” A Biblioteca
Rio-Grandense possui a Sala Silva Paes, onde existem um conjunto de obras raras
que são citados no testamento.
Em seu testamento expressou
que desejava que “meu corpo será amortalhado no hábito do Carmo de que sou 3º e
por cima o manto de Cavaleiro de Cristo de que sou professo, e serei sepultado
no jazigo dos Irmãos Terceiros de N. Sra. do Carmo”. José da Silva Paes faleceu
em Lisboa em 14 de novembro de 1760, sendo sepultado no Convento de N. Sra. do
Carmo.
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