Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 12 de agosto de 2025

GRUSS AUS R. STRAUCH

 

https://www.filatelicajungesleiloes.com.br/peca.asp?Id=26270237

Dois cartões raros foram leiloados recentemente. 

E mais raro ainda é que trata-se do mesmo modelo de cartão que dificilmente é comercializado. 

São dois cartões com imagens "exóticas" que é difícil imaginar serem feitas por Livraria Rio-grandense/R. Strauch um rigoroso proprietário de tipografia e livraria. A sensação que eu tive é de que as imagens não correspondem ao tema... e não foi apenas minha no presente, pois, voltando mais de cem anos no tempo... O remetente colocou pontos de interrogação e exclamação nas gravuras que considerou anômalas.  E o cartão está datado de 5 de maio de 1904. 

Minha hipótese de trabalho é que Ricardo Strauch enviou estes cartões (é uma coleção com três) para serem editados e impressos na Alemanha, possivelmente, em Liepzig onde ele tinha parcerias comerciais. Portanto, a composição artística não foi feita por um conhecedor do Rio Grande do Sul. Este artista alemão deveria ter algumas gravuras em publicações (como Debret ou Rugendas) e foi adaptando diferentes espacialidades para o cenário Rio-grandense em sua porção sul. E no sul o cenário é de campos, coxilhas, criação de gado vacum, peões e fazendeiros, fazendas, casas coloniais, currais, charqueadas, cavalos etc. Ou seja, o cenário característico da formação luso-brasileira fundada na grande propriedade (sesmarias) e lides campeiras em áreas do pampa sul-rio-grandense. O que se observa são cenários típicos da fronteira agrícola sendo aberta por imigrantes alemães e italianos (especialmente o último) com base na pequena propriedade e mão-de-obra familiar a partir da derrubada da mata para a policultura agrícola em terrenos não propícios para a criação de gado vacum.  

Mas as imagens remetem ao sertão (araucárias e duas tendas padrão Sioux?), roça com derrubada de árvores da Mata Atlântica para construção de colônias de imigrantes (imagem típica de um escravo cortando a árvore - porém, a escravidão terminou em 1888 e a mão-de-obra deveria se colonos), mato virgem (típica Mata Atlântica e pequeno curso de água retratado por Debret e Rugendas para o Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e porções do litoral norte do Rio Grande do Sul) e a onça-pintada (cara orelhas de lince), ainda existente no norte do Rio Grande do Sul no final do século XIX. Mas, a onça, foi classicamente retratada por cronistas e artistas para estados de Santa Catarina para o norte do Brasil. Em especial, para a região Amazônica e Mato Grosso. E o foco principal do cartão-postal remete ao fazendeiro: o objetivo era retratar a economia dinâmica do Rio Grande do Sul desde o século XVIII: a pecuária e o fazendeiro. Aparece este personagem com um chapéu descaracterizado que lembra os tropeiros que cruzavam estas regiões de mata como nômades e não como sedentários criadores de gado ou mulas: eles buscavam o gado no sul para os conduzirem até os entrepostos em São Paulo. Porém, no final do século XIX este trânsito com bois era muito mais rarefeito. Um cenário mostrando tropeiros levando porcos seria mais coerente frente a já existente produção de suínos pelos imigrantes europeus. 

Ou seja, se busca erroneamente retratar o fazendeiro e a paisagem do sul do Rio Grande do Sul.  

E daí se destaca o manuscrito do remetente de 1904 frente a surpresa com o cenário que foi artisticamente representado: "Visto por um [oculo?] por um europeu!!! Que triste ideia fazem de nós!!!". No próprio cartão já há um crítica a visão que os europeus tem dos rio-grandenses que vivem na floresta cercados de onças-pintadas. Visão típica aplicada as regiões tropicais do Brasil além do século XVIII-XIX. A síntese do Brasil seriam florestas e animais selvagens. Quando os brasileiros eram retratados nos cartões e cards de propaganda em seu aspecto civilizado, remetia a representações de espanhóis. 

Vamos investigar mais um pouco o cartão?

O Gruss aus (Lembranças de) traz um detalhe importante: "R. Strauch, Livraria Rio-Grandense, Rua D. Pedro II, 102, Rio Grande do Sul". Este cartão é tido como um dos mais antigos impressos no Brasil e seria de Porto Alegre. De fato, o cartão é da cidade do Rio Grande e Rua D. Pedro II é a atual Rua Marechal Floriano, nome que se tornou oficial em 1894. A hipótese é deste cartão ter sido impresso na Alemanha entre 1896 a 1898, sendo a segunda data a mais aproximada. 

O cartão era vendido na Livraria Rio-Grandense em Rio Grande e daí a hipótese de um morador desta cidade ter adquirido e enviado para uma senhora que morava na Rua 15 de Novembro no centro de Pelotas. Conforme se observa no verso com um selo de madrugada republicana de 50 réis: 

https://www.filatelicajungesleiloes.com.br/peca.asp?Id=26270237

Os cartões devem ter feito sucesso e ficaram por longos anos sendo vendidos. Um exemplo é o cartão abaixo, também leiloado em 2025 pela filatélica Junges.

Esta manuscrito em alemão e um trecho traduzido sugere que o remetente estava hospedado no Hotel Paris em Rio Grande. Observa-se que a data manuscrita é de 18 de janeiro de 1901. A hipótese é ter sido enviado de Rio Grande para Porto Alegre (ao sr. Arno Meyer). O desgaste da tinta dos carimbos não ajudaram a elucidar a hipótese. Porém, a data de janeiro de 1901 deixa claro que já estava disponível para compra em 1900. Um outro exemplar desta série de três cartões tem a data de março de 1900, portanto, já deveria estar disponível em 1899. Espero um dia encontrar um exemplar com data de 1898 para comprovar minha hipótese de longevidade.

https://www.filatelicajungesleiloes.com.br/peca.asp?Id=25219450


https://www.filatelicajungesleiloes.com.br/peca.asp?Id=25219450

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