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| Proximidade das Ponte dos Franceses. Água da Lagoa dos Patos aparentemente estagnada. Dia 16 de maio de 2024. Fotografia: Luiz Henrique Torres. |
Historicamente, pela Barra do Rio Grande, chegaram em embarcações a partir do século XVIII, diferenciadas culturas e práticas econômicas. A Barra é a porta de entrada na Capitania/Província/Estado do Rio Grande do Sul. Também é a porta de saída para a exportação dos produtos gaúchos pelo modal marítimo, além da utilização militar, pesqueira etc.
Além desta dinâmica civilizatória é onde ocorre a saída "natural" das águas da Lagoa dos Patos (e da Bacia do Atlântico) que desaguam no Oceano.
O equilíbrio do sistema lagunar Patos-Guaíba depende deste fluxo de descarga que equilibra o volume das águas e garante a ocupação humana, urbana e rural, nas suas margens e adjacências. Inclusive, na região Metropolitana de Porto Alegre. O Lago Guaíba não baixaria da "cota enchente "sem que a água escoasse pela Lagoa dos Patos e pela Barra do Rio Grande para enfim adentrar o Oceano.
Numa enchente este processo de vazão pode ficar comprometido e, por vários fatores, ocorrer o represamento das águas no sistema lagunar impactando no cotidiano dos moradores de várias localidades.
A Grande Enchente de 2024 está testando este sistema e o levando ao limite de capacidade de vazão.
Não é exagero dizer que parte dos olhares do Rio Grande do Sul e até do Brasil estão descobrindo, até pela divulgação pela mídia, sobre a importância da Barra do Rio Grande neste equilíbrio lagunar. O desespero está levando a discussões sobre fazer outro canal para poder fluir o excesso pluvial produzido por esta e por futuras enchentes (tema que será extremamente polêmico).
Estamos fazendo história de uma forma tensa, que a cada dia traz novas apreensões frente ao aumento do nível da água frente a redução da vazão para o Oceano.
Como foi o caso deste dia 16 de maio quando a água, na madrugada, avançou para o seu patamar máximo até este momento. Há 83 anos, em 16 de maio de 1941, também foi a cota máxima alcançada pela famosa enchente que até recentemente era tida como a "number one". O problema é que a cota máxima de 2024, diferente de 1941, não parece ter sido alcançada. Podemos esperar períodos de estabilidade, pequenas quedas e também elevações. Conforme estudos da Furg, este cenário, relativamente estável, poderá se tornar mais grave entre terça e quarta-feira, 21 a 22 de maio, quando o vento poderá provocar uma elevação ainda maior da água.
Precisamos que o excesso desta água nos abandone e se misture com o Oceano reduzindo o seu nível. E quanta água atualmente está saindo?
Vejamos qual foi a vazante pela Barra neste dia 16 de maio. Conforme a página da Furg desta quinta-feira, foi de 21 mil metros cúbicos por segundo. Ou seja, 21 milhões de litros por segundo. Ou 75 bilhões e 600 milhões de litros por hora.
A vazão no dia 16 de maio de 1941 foi inferior a de hoje: 53 bilhões e 702 milhões de litros por hora. No dia seguinte, chegou a cota máxima de vazão na Enchente de 1941: foram 99 bilhões e 682 milhões de litros por hora. O segredo para uma vazão otimizada está relacionada a velocidade de escoamento da água em 1941: no dia 16 estava em 4,5 quilômetros por hora e no dia 17 em 8,9 quilômetros por hora.
O que observei neste dia 16 era uma água relativamente estagnada no Saco da Mangueira e um vento que se manteve por longo período em torno de apenas 5 quilômetros por hora. Portanto, mesmo com uma vazão razoável (75 bilhões de litros) o volume de água para escoar é assombroso e o vento vai definir a otimização ou redução do escoamento. Não é por acaso que as previsões de prolongamento da enchente estão em parte voltadas a direção e velocidade dos ventos.
Hoje foi um dia muito difícil, com mais de 600 novos desabrigados durante a madrugada. O período de elevação das águas será mais longo do que se poderia esperar. A paciência e a resiliência serão muitos testadas nos próximos e longos dias.
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