Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

AKARÁ

 

Ciclone Akará, 19-02-2024.  https://www.facebook.com/metsulmeteorologia/

Felizmente, o susto inicial da formação do Ciclone Akará se desfez. Ele deverá permanecer no Oceano bem distante da Costa do Rio Grande do Sul na condição de uma tempestade tropical que irá perdendo força sem se transformar num furacão. Ao saber que um Ciclone Tropical se formaria, dias antes de acontecer, a CEEE Equatorial já entrou em surto e me deixou 28 horas sem energia elétrica. Imagine a tragédia de um Ciclone Akará verdadeiro tocando o Continente no litoral Sul... 

Muito se fala do Ciclone e não se detalha o peixe que foi a inspiração para a denominação deste Ciclone Tropical. 

Me sinto íntimo para falar em Acarás (aportuguesando da língua Tupi), pois, desde criança pescava de caniço este peixe. A curtição futura por aquarismo, surgiu nestas pescas de lambaris e acarás em rios, lagos e açudes. 

Foram mais de três décadas de observação dos acarás em aquários e piscinas de 1.000 litros. Diga-se, indiscreta observação do comportamento social dos peixes que tiveram suas privacidades e segredos bisbilhotados. São peixes curiosos, observadores e dóceis no trato. Eles se acostumam a rotina do homo sapiens que convive com eles. O clímax destas observações e experiências que deixariam Victor Frankenstein bastante curioso, foi a transformação de uma piscina em lago na própria residência. Um espaço natural com areia e pedras no fundo, vegetação nativa da região coletada sistematicamente para reproduzir um cenário próximo ao que pode ser encontrado nos arredores de Rio Grande. Lambaris e acarás podendo conviver num espaço de 12.500 litros. E aí está o aspecto de spa da piscicultura estética e não alimentar: nenhum predador está presente para encurtar o ciclo de vida dos peixes. Traíras, jundiás, pintados e joaninhas, os predadores mais comuns, não receberam convite para curtirem um pedaço do paraíso. Aos moradores, segurança e três refeições por dia garantidas. Cuidados com a oxigenação da água e tratamento especial para peixes asmáticos ou com problemas respiratórios. Comida balanceada e saudável: fast food e comida lixo de farmácia não entram no lago (é verdade, vendem em farmácia até hamburguer e outros congelados ultra processados...). O lado interessante é que o veneno e o remédio pode ser encontrado no mesmo local. 

E quem são os Acarás que se acostumaram a comer ração diariamente em minha mão?

Várias são as espécies de acarás que os índios Tupis podem ter convivido. A riqueza das espécies de peixes da Amazônia é extraordinária. E para os aquaristas, falar em acará remete aos acarás bandeira e acarás disco, peixes belíssimos da Bacia Amazônica. São dois exemplos entre inúmeros acarás encontrados no Brasil. 


Acará Bandeira (Pterophyllum scalare). Acervo: https://www.baseflora.com

Symphysodon discus. Acervo: https://pt.wikipedia.org/wiki

Estes peixes são da família dos Ciclídeos que é composta por inúmeras espécies com grande valor ornamental. A maioria dos Ciclídeos é originária do Continente Africano. Também são encontrados na América do Sul e Central, além de Madagascar e alguns locais da Ásia. 

Trazendo para o Rio Grande do Sul, os acarás mais comuns de serem encontrados são das espécies Geophagus Brasilienses e Cichlasoma facetum (Australoheros facetus). São estes que estão morando no lago artificial. 

Qual a aparência deles?

Este é o Geophagus Brasilienses:

Acervo: F. Corrêa. 


Este é o Cichlasoma facetum:

https://www.researchgate.net/

Eis um ambiente característico em estes acarás estão adaptados aqui em Rio Grande. É um riacho onde tem início a Ilha da Torotama. 

Fotografia: Luiz Henrique Torres. 

Estes peixes são encontrados na Bacia do Amazonas e se adaptaram muito bem ao Sudeste e Sul do Brasil, sendo encontrados no Uruguai. Busca ambientes de água parada e remansos com bastante vegetação. Podem viver entre 8 e 10 anos e chegam a um tamanho limite entre 25 e 28 cm. 

Estes acarás são territoriais e muito protetores dos alevinos que nascem. Durante a reprodução os machos Geophagus desenvolvem uma protuberância na testa para se tornarem mais ameaçadores a outros peixes. Daí surgiu a denominação de acará cartola.  

Eis a piscina transformada em lago. Plantei vegetação nas margens e a vegetação interna cresceu muito para o alto e para baixo tem cerca de um metro de raíz. A profundida deste espaço é de um metro e setenta centímetros. 

Fotografia: Luiz Henrique Torres.

Fotografia: Luiz Henrique Torres.

Fotografia: Luiz Henrique Torres.


Fotografia: Luiz Henrique Torres.

 Como o crescimento das plantas é muito rápido em temperaturas mais elevadas, faço uma breve poda na superfície e abertura de espaços para que os peixes venham se alimentar com ração seca. Em termos gerais a ideia é deixar a natureza construir os seus caminhos sem a preocupação com a imposição de uma estética. Um espaço natural construído com peixes e plantas do ecossistema da planície costeira do Rio Grande do Sul. O que se oferece é oxigenação, filtro UV e alimentação. Em três anos não detectei nenhum desequilíbrio neste ecossistema aquático. 

Espero que esta breve exposição tenha sido útil para que o termo Akará tenha transcendido a denominação do Ciclone. Que tenha possibilitado conhecer um pouco destes simpáticos peixes que observam atentamente os movimentos do tratador, e, inclusive, lentamente, retiram o alimento de sua mão.  

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