Meu pai e minha mãe por volta de 1958. |
É estranho...
Minha mãe partiu!
É muito tempo que passou e parece que foi tão pouco.
Foram 85 anos!
Tantas coisas para dizer e fazer que não foram ditas ou feitas.
Um abismo se abre repleto de memórias e vácuos.
A falta se faz e não há como superar a ausência.
A trajetória entre o nascimento e o passamento é a historicidade.
Na historicidade reside as experiências, as afetividades e as sociabilidades.
Com o passamento tudo se converte em memória.
Uma tristeza angustiante que dialoga e tenta reconstruir esta memória.
Imagens fugidias que são preenchidas com desejos de felicidade.
A resiliência não pode preencher o vazio: apenas faz a caminhada ter continuidade.
Certidão de nascimento de Zyria Wali Torres. |
A geração dos filhos de Henrique e Amanda chegou ao fim!
A viagem da última integrante está em curso.
Acompanhei os últimos onze dolorosos dias da existência da Zyria Wali. Revivi o circo dos horrores que é uma hospitalização em Rio Grande. Escutei as últimas palavras e desejos de se libertar da opressiva dor. Estava cansada da materialidade. Retirei os anéis e os brincos antes de entrar para a cirurgia emergencial. Ela me sussurrou que o anel de casamento nunca havia saído, desde 1958, do seu dedo (agora está no meu!). Enquanto era levada deu o último aceno. Tive a convicção que era a despedida: simples, branda e também patética. Foi só esperar o ajudante de cirurgião informar que algo havia dado errado... O longa metragem terrestre chegava ao final.
Restou visitar seu corpo inanimado num Morgue insalubre. O calor havia se dissipado daquele rosto que foi afável com tantas pessoas.
Com um devastador peso na alma tive que fazer o registro do óbito.
E esta obrigação é um legado pesado demais para os vivos que a amavam.
Vai em paz mãe!
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