Cartão-postal da Casa Miscellanea Rio-Grandense, 1909. Acervo: Luiz Henrique Torres. |
Este cartão-postal sugere uma viagem no tempo!
O ano é 1909 e estamos na Rua Marechal Floriano e em sua frente está a Praça General Telles (atual Xavier Ferreira). Alguns metros à esquerda está a esquina com a Rua Duque de Caxias.
Uma caminhada pelo pacato centro da cidade levou um colecionador a este local que propiciava dois deleites.
Um dos prazeres era entrar na loja Miscelânea Rio-Grandense, especializada em cartões postais e escolher alguns cartões que hoje podem ser valiosos. Na época eram lançamentos recorrentes com vistas da cidade ou outros temas, em coleções que chegavam a dezenas de números e vários editores concorrendo. A loja também possui um vasto sortimento de cartões de outras cidades brasileiras e, especialmente, de cidades ou cenas europeias.
De posse dos cartões adquiridos nada como adentrar a Confeitaria Papagaio e tomar um café passado na hora acompanhado de um doce português, afinal, o proprietário era um grande defensor da lusitanidade e pastel de belém não poderia faltar...
Com movimentos vagarosos e deixando aflorar uma preguiça secular é hora de deter o olhar nos detalhes das imagens, nos retoques coloridos das paisagens, na criatividade dos artistas que elaboraram o cartão.
E um cartão foi o que mais atraiu. Havia sido lançado a poucos dias e retratava a Confeitaria e a loja Miscelânea, além de várias pessoas em sua frente. O cartão é o que está reproduzido acima...
Depois do café o colecionador foi até o outro lado da rua, no ponto aproximado onde o fotógrafo fez o clichê que virou o postal. Nesta distância é possível conferir a qualidade gráfica da produção artística aplicada a fotografia em preto e branco. Os retoques acobertadores da fealdade sempre são bem-vindos num postal... E ele conclui que aquela imagem se aproxima muito da construção visual daquele recorte espacial da cidade do Rio Grande.
Para o colecionador de 1909, o tempo do cartão é contemporâneo, a vida cotidiana não está no passado e sim no seu presente. A imagem que ele observa é uma espacialidade cultural e psíquica, entre outras espacialidades, que dá sentido a sua existência, que preenche as lacunas dos fragmentos e ausências da vida cotidiana.
Sabores, aromas, sensações, estéticas, repetições de movimentos conscientes ou inconscientes se somam e se intensificam no indivíduo, buscando construir referenciais de segurança e manter afastada a contingência e a transitoriedade.
A Confeitaria, a loja de postais e o colecionador são peças de um tempo real chamado existência. Destes cenários materiais e humanos do ano de 1909 o que restou foi a arte aplicada ao papel que foi convertido em postal: a existência do passado ali ainda se manifesta no congelamento do tempo e no incitamento à imaginação que seduz um escritor no presente.
A persistência dos pigmentos coloridos em um papel é a perenidade legada por gerações passadas. O resto são descontinuidades e fragmentos etéreos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário