Outra preciosidade do Visconde de Taunay no livro "Recordações de Guerra e de Viagem" (Brasília, Senado Federal, 2008, p. 95) diz respeito a uma discussão entre um oficial mal intencionado e um capelão durante a Guerra do Paraguai.
Taunay relata que uma das historietas que mais o fez rir ele ouviu "do General Catão Roxo, logo que cheguei ao Paraguai, e rir, sobretudo, porque conhecia perfeitamente os personagens a que dia se referia, entre os quais um capelão muito colérico, arrebatado e soldadescamente “desbocado”.
Com ele embirrava muito o X..., indivíduo, aliás, antipático como raros implicante,escarninho, malévolo, fútil e segundo muitos, perigosamente intrigante. Poucas pessoas conheceu, de tão desagradável contacto como este oficial, a quem, aliás, todos nós consagrávamos a mais acentuada ojeriza. E a mais justificada[...] força é convir.
Vamos, porém, ao caso do nosso capelão... Pregava ele certo domingo um daqueles sermões “eloqüentes” cuja autoria com certeza gostosamente subscreveria o famoso Cônego Filipe, porque estava dentro dos moldes do seu estilo sacro-oratório.
Para maior gáudio dos rapazes que piscavam os olhos uns para os outros, começara o bom do frei... o seu sermão por legítima bernardice: “Reinava em França Dom Manuel III...” Finda a missa, incorporara-se o padre a uma grande roda pondo-se a discutir sobre a homilia edificante e, sobretudo, rigorosamente histórica que acabava de proferir, quando apareceu o tal oficial implicante que, aliás, vivia a atormentá-lo com os seus contínuos remoques insolentes.
“Padre, como é isto? Se em França nunca houve D. Manuel I, como que o senhor descobriu este D. Manuel III?”.
Apesar de já a ira lhe subir às faces, mal disposto como estava pelas contínuas provocações e grosserias do interpelador, ainda contemporizou o frade: “Ora esta! Pouco importa a questão do nome do rei, o que vale é a filosofia, a essência do caso: Se não era D. Manuel, seria D. Antônio ou D. José...”.
– Também nunca os houve em França, redargüiu ainda, num tom melífluo e perverso, o pouco amável reparador.
Aí perdeu o bom do capelão as estribeiras e dando largas ao insopitável caráter respondeu-lhe com uma veemência de palavras cujos termos soldadescos preciso parafrasear:
“– Olhe, quer saber de uma coisa? Se não era D. Manuel, D. Antônio ou D. José seria ou D. vá... plantar batatas ou D. vá para o diabo que o carregue!”.
Contava o catão que o enérgico encerramento do incidente tal explosão de gargalhadas, e demonstrações de aplauso, ao valente clérigo trouxera que o chasqueador aturdido, se retirara desnorteado e confundido. Boa lição!".
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