Auguste de Saint-Hilaire. Viagem a Província do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Edição francesa de 1850. |
Auguste de Saint-Hilaire ao
percorrer, no dia 1 de fevereiro de 1822, a região dos atuais municípios de
Nova Iguaçu e Miguel Pereira (Rio de Janeiro) comentou que pontes estavam em
construção e permaneciam inacabadas por longos anos. Ele fez a seguinte reflexão:
“Trabalhou-se ali, durante muito tempo. Gastaram-se
somas consideráveis. Desde porém, que se franqueou a passagem, não só não se
concluíram as partes apenas esboçadas como não foram conservados os trechos já
construídos. As águas já cavaram, ali, profundas covas e trarão a inutilidade
desta bela estrada se mais um ano decorrer sem conserva.
É mais ou menos assim que tudo se empreende neste país.
Os brasileiros aprendem com facilidade, sabem arquitetar planos, mas
entregam-se, demais, ao devaneio, não medindo obstáculos nem calculando os
empreendimentos de acordo com os seus recursos. Os defeitos de sua
administração acumulam os obstáculos fictícios aos reais. O espírito de inveja
e intriga, mais veemente do que em qualquer outro lugar, interpõe-se a tudo
quanto se faz, tudo perturba, favorece o tratante, e desencoraja o homem
honesto. Começa-se qualquer empreendimento útil, para logo ser interrompido e
abandonado. Às vezes um serviço ordenado pelo governo e que se poderia acabar
em pouco tempo, e com despesas mínimas, jamais termina, embora nele se trabalhe
sempre. A obra se transforma quase em apanágio de um homem de posição. De que
viveria ele se lhe tomassem tal patrimônio?”
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