Porto do Rio Grande em 1908

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sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

CASSINO 130 ANOS - DAOIZ DE LA ROCHA

Trem no Cassino nos primeiros anos do século XX. Fotografia de A. Fontana. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

       Inicialmente, agradeço ao jornalista Ique de la Rocha a gentileza em enviar em formato digital o jornal SulRS de janeiro de 2020 (n. 23).
      Aproveito para publicar uma matéria extraída do jornal “Rio Grande”, edição de 26 de janeiro de 1990, alusiva ao Centenário do Cassino.  O autor é o jornalista/redator que por muitos anos foi diretor do jornal Rio Grande: Daoiz de la Rocha. 
       Daoiz foi um pesquisador rigoroso do passado e profundo conhecedor, enquanto viveu, da cidade do Rio Grande em suas múltiplas facetas. O manancial de informações sobre a cidade que foi publicada no jornal Rio Grande, sendo inúmeras matérias escritas pela “pena” de Daoiz, possibilita a escrita de monografias, dissertações e teses pelos acadêmicos no tempo presente.
     Se eu tivesse uma máquina do tempo para reviver e reunir personagens históricos, organizaria uma reunião em que diferentes pontos de vista sobre a cidade do Rio Grande fossem debatidos: entre outros nomes de referência, convidaria Francisco Xavier Ferreira, Antônio Joaquim Dias, Alfredo Ferreira Rodrigues, Antenor Monteiro, Abeillard Barreto, Walter Albrecht e Daoiz de la Rocha. O conhecimento acumulado destas pessoas propiciaria uma reflexão consistente sobre as perspectivas para construção de uma cidade saudável.
    Na impossibilidade desta reunião, o que sempre faço é reproduzir matérias/legados destes personagens que em tempos diferenciados escreveram sobre temas locais. A escrita destas memórias é uma forma de reviver pessoas e ideias. Por isso a pesquisa histórica - que trabalha o silêncio do passado- repõe as vozes no presente, fazendo em releituras, reviver o tempo do silêncio em falas contemporâneas. A História enquanto ciência se converte num tempo revivido a partir das escutas do passado. 
     Nos festejos atuais dos 130 anos do nascimento do Balneário Cassino, reproduzo a matéria “O trem da praia” escrito com competência por Daoiz de la Rocha em 1990, no Centenário do Cassino.
        
      “Se é verdade incontestável que Rio Grande nasceu do soldado, mandado guarnecer o “presídio” implantado pelo brigadeiro Silva Paes, pode-se dizer, com a mesma convicção, que o Cassino é produto do trem, posto a circular entre a cidade e um ponto da praia, distante cerca de sete quilômetros da Barra, graças à iniciativa de um grupo de dinâmicos cidadãos, que aqui viveram no século passado. Praias, o Brasil sempre teve inúmeras no seu imenso litoral de 9.200km. Aproveitá-las, porém, como estações balneares, era cometimento raro até o fi­m do século XIX. E isto porque seria preciso, em primeiro lugar, conscientizar as populações sobre as excelências do banho de mar, da vida ao ar livre, numa época em que os costumes qualifi­cavam de nudez qualquer redução no número de peças de roupa geralmente usadas, e o medo das doenças fazia com que todos procurassem no agasalho a primeira medida para preveni-las. Em segundo lugar, porque era preciso ter coragem para apostar no êxito dessa conscientização, investindo fortemente no acesso e na infraestrutura de um novo núcleo urbano. No Rio Grande do final do século passado o ambiente era de euforia. A cidade crescia, o Município produzia e havia na comunidade um grupo de cidadãos dinâmicos, brasileiros e estrangeiros nela integrados, que já alcançara, pelo menos, três grandes conquistas: a Companhia Hidráulica Rio-Grandense, para captar e distribuir a água encanada em todas as economias; o gasômetro, que levava às residências o gás de iluminação, e a ferrovia ligando o porto marítimo à região produtora de Bagé. O momento, portanto, era propício para mais alguns passos e, embora muito largo para a época, não faltaram os que se animassem a cogitar de uma estação balnear. Para isto era preciso dar acesso fácil e nenhuma outra cidade da Província de São Pedro estava em melhores condições para realizá-lo, dada a curta distância entre o centro urbano e a costa do mar. Quanto ao tipo de transporte, só poderia ser o ferroviário. Com o trem, que tantos benefícios já trazia à Província, pela facilitação das comunicações entre a fronteira e o porto marítimo, seria possível chegar à praia e retornar à cidade em pouco tempo. Os idealizadores da estação balnear começaram a batalhar, em 1885, através da Companhia Carris Urbanos, que tinha a seu encargo o transporte coletivo em veículos sobre trilhos, puxados por muares. Tentaram a concessão e a conseguiram; encontraram as primeiras pedras no caminho porque passariam do bonde de tração animal para o trem de ferro, que a Southern Brazilian Rio Grande do Sul Railway utilizava e sobre o que pretendia ter exclusividade. Mas não esmoreceram, fundaram a subsidiária Companhia de Bonds Suburbanos da Mangueira e levaram o empreendimento adiante, dando-lhe de­finitivo impulso em 26 de janeiro de 1890. Com a facilidade do acesso a estação balnear se desenvolveu e durante muitos anos teve exclusividade no Sul do País. Hoje já não é única, sequer a primeira quanto ao porte alcançado, porque o Litoral Norte bene­ficiou-se dos bafejos o­ficiais, correu no seu encalço e a ultrapassou. Mas é pioneira e, além disso, centenária”.

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