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Paul Nash, abril de 1918. In: National Portrait Gallery, London. https://collectionimages.npg.org.uk/std/mw163194/Paul-Nash.jpg |
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Paul Nash, The Menin Road, 1919. Acervo: Imperial War Museum, United Kingdom
O
inglês Paul Nash (1889-1946) foi um pintor surrealista que se notabilizou por
seus quadros de guerra e de pinturas paisagísticas. Foi um dos nomes de
destaque na afirmação do modernismo na arte inglesa. Ele utilizava objetos do
cotidiano nas paisagens e a partir de sua experiência como combatente na
Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Nash retratou artisticamente o conflito
numa perspectiva sombria e antimilitarista.
Em sua
passagem pela frente de combate ele escreveu a sua esposa: “Acabei de voltar, ontem à
noite, de uma visita ao quartel-general do regimento, e não vou esquecê-la
enquanto viver. Vi o mais assustador pesadelo na forma de um país que parece
mais concebido por Dante ou por Poe do que pela natureza; indescritível, absolutamente
indescritível. Nos quinze desenhos que fiz, posso dar-lhe uma ideia do seu
horror, mas apenas estar nela tem o poder de fazer com que você perceba sua
natureza terrível e o que nossos homens na França têm de enfrentar. Todos nós
temos uma noção vaga dos terrores de uma batalha, e podemos evocá-las com a
ajuda de alguns dos correspondentes de guerra mais inspirados e das imagens no
"Daily Mirror" do campo de batalha; mas nenhuma pena ou desenho pode
transmitir este país - a configuração normal das batalhas que ocorrem dia e
noite, mês após mês. O mal e o demônio encarnado sozinhos podem ser os mestres
dessa guerra, e nenhum vislumbre da mão de Deus é visto em qualquer lugar”.
Sua
produção feita in loco em cenários do combate se tornaram um referencial para
pensar criticamente as guerras e sua irracionalidade.
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Dave McKean. https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTa9TQzo69D2oZ1LWkHhilyZEPzW7DAOWUVCCVPTJ1YDgw53LY7
Com base na trajetória de vida de Paul Nash e sua
produção artística, Dave McKean (Inglaterra, 1963) usou muita imaginação para
expressar conflitos internos e a exterioridade palpável da guerra que poderia
explicar as raízes psíquicas da obra de Nash. O roteirista e ilustrador McKean é
conhecido por obras como “Asilo Arkham” (de Grant Morrison), Sandman (de Neil Gaiman),
Orquídea Negra, ilustrações do livro Caroline etc. É um dos mais conceituados
desenhistas de quadrinhos e ilustrador da Inglaterra. Ele utiliza, na
elaboração dos quadrinhos, técnicas de pintura, fotografia, escultura, colagem
digital e desenho.
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Black Dog. |
Em relação
a obra em foco “Black Dog”, a leitura que fiz me leva a afirmar: Obra prima!
Ao
terminar a leitura da graphic novel Black
Dog: os sonhos de Paul Nash (Editora DarkSide, 2018, 120 páginas, capa
dura, formato 23 x 30 cm) me veio a
expressão “obra-prima”.
Narrativa
poética e arte surrealista maravilhosa. O dirigível em formato de peixe (imagem abaixo) e o
holofote iluminando-o a partir de uma cidade repleta de silhuetas sinistras é
uma destas imagens desconcertantes evocadas por Dave McKean. O casal olhando
para o cenário sombrio é uma projeção dos efeitos psíquicos da I Guerra Mundial.
Um fio narrativo objetivo repleto de movimentos temporais de avanços, recuos e
simultaneidades, entre a infância e a vida adulta de Paul Nash. O jogo de
cores, de imagens subjetivas, de simulações distorcidas do real acompanha a
construção da fala do sujeito e de seu autoconhecimento a partir das
experiências. O movimento se faz entre os conflitos psicológicos e o processo
histórico de uma grande guerra que destrói e também faz amadurecer o discurso
da estética antiguerra.
Desconcertante
e acima de tudo arte; acima de tudo sensibilidade e lucidez nas ilustrações e
textos de Dave McKean; expressão visual com edificação da empatia com o leitor,
conduzindo-o para interagir com as emoções de Nash. É o desvelar e a
reafirmação das potencialidades da linguagem (textual e imagética) da graphic
novel. Obra-prima!
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Representação do clima do início da guerra. |
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