Aquarela portuguesa do ano de 1776 com estrutura urbana que restou da ocupação espanhola. Acervo: Biblioteca de Évora. |
Sebastião
Francisco Bettamio terminou de escrever em 19 de janeiro de 1780 a Notícia particular do Continente do Rio
Grande do Sul, segundo o que vi no mesmo Continente, e notícias, que nele
alcancei com as Notas, do que me parece necessário para aumento do mesmo
Continente, e utilidade da Real Fazenda.[1]
Na época do governador Manuel Jorge Gomes Sepúlveda (1773-1780), iniciou a
organização da contabilidade do Rio Grande do Sul dirigida por Bettamio, que
viera de Portugal para o Brasil em 1767 para introduzir novos métodos de
contabilidade fiscal. Em 1775, auxiliava o general João Henrique Böhm,
comandante das tropas luso-brasileira na luta contra a ocupação espanhola,
organizando as linhas de suprimento. Conforme José Honório Rodrigues foi
durante essa guerra que Bettamio preparou uma das mais importantes fontes
históricas relativas à vida econômica e social do Rio Grande do Sul.[2]
Bettamio
dedica uma considerável parte de sua Notícia a Vila de S. Pedro, segundo ele,
esta “Vila que tanto tem custado à Coroa Portuguesa, parece de justiça se
conserve, e se passe para ela a capital, mudando-se de Porto Alegre as pessoas
que formam o Estado Civil, e restituindo-se a antiga posse em que estavam na
Vila”. A proposta de trazer a capital
para Rio Grande, está fundada na proximidade da Barra e o acesso para a
navegação marítima e os contatos com o interior da Capitania. “Dirão que o
terreno é indigno pelas muitas areias que formam com combros formidáveis, e que
estes cada vez mais se vão aproximando à Vila, sepultando os edifícios dela, o
que não duvido sucede, e sucederá se não houver algum trabalho para o impedir.
Se, porém, considerarem as utilidades que se seguem de ser ali a capital do
continente, somente pela proximidade da barra, e sem atender às mais que
resultam aos povos vizinhos, que são já em grande número, vir-se-á a conhecer
que se deve empregar todo o cuidado na conservação e aumento da Vila”. Rio
Grande, por sua posição estratégica “é sempre mais defendida, e se pode cobrir
com alguma fortificação no sítio chamado o Estreito”. Essas razões evidenciam
que é em Rio Grande que se deve trabalhar e “por todos os meios que parecerem
conducentes para o seu estabelecimento, povoação, aumento e cultura”.[3]
Bettamio propõe ao Governador da Capitania, uma
série de providências para garantir o crescimento da Vila do Rio Grande,
medidas que se tivessem sido implementadas, mudariam radicalmente o
desenvolvimento histórico rio-grandino. Escreve, ainda sob efeito dos
treze anos de ocupação espanhola, defendendo a fortificação e povoamento da
Vila do Rio Grande, insistindo da necessidade em concentrar a população nas
imediações deste centro urbano a fim de garantir sua manutenção no caso de
novos ataques castelhanos. Os problemas ligados à carência de água e ausência
de uma cobertura vegetal, de depósitos para conservação dos produtos da
lavoura, do empobrecimento acarretado pela luta contra os espanhóis, da falta
de material não perecível para construção e do contínuo movimento da areia, são
alguns dos problemas enfrentados pela população na segunda metade do século
XVIII e que Sebastião Bettamio projeta soluções, demonstrando um conhecimento
do cotidiano do Rio Grande.
[1]
BETTAMIO, Sebastião Francisco. Notícia particular do Continente do Rio
Grande. In: FREITAS, Décio. O capitalismo pastoril. Porto Alegre:
Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1980, p. 141-199.
[2]
RODRIGUES, José Honório. História da
História do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979, p. 220.
[3]
BETTAMIO. In: FREITAS. 1980, p. 152.
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