Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

FONTES PARA O ESTUDO DA HISTÓRIA RIO-GRANDINA DO SÉCULO XVIII – BETTAMIO

Aquarela portuguesa do ano de 1776 com estrutura urbana que restou da ocupação espanhola.
Acervo: Biblioteca de Évora.


         Sebastião Francisco Bettamio terminou de escrever em 19 de janeiro de 1780 a Notícia particular do Continente do Rio Grande do Sul, segundo o que vi no mesmo Continente, e notícias, que nele alcancei com as Notas, do que me parece necessário para aumento do mesmo Continente, e utilidade da Real Fazenda.[1] Na época do governador Manuel Jorge Gomes Sepúlveda (1773-1780), iniciou a organização da contabilidade do Rio Grande do Sul dirigida por Bettamio, que viera de Portugal para o Brasil em 1767 para introduzir novos métodos de contabilidade fiscal. Em 1775, auxiliava o general João Henrique Böhm, comandante das tropas luso-brasileira na luta contra a ocupação espanhola, organizando as linhas de suprimento. Conforme José Honório Rodrigues foi durante essa guerra que Bettamio preparou uma das mais importantes fontes históricas relativas à vida econômica e social do Rio Grande do Sul.[2] 
Bettamio dedica uma considerável parte  de sua Notícia a Vila de S. Pedro, segundo ele, esta “Vila que tanto tem custado à Coroa Portuguesa, parece de justiça se conserve, e se passe para ela a capital, mudando-se de Porto Alegre as pessoas que formam o Estado Civil, e restituindo-se a antiga posse em que estavam na Vila”.  A proposta de trazer a capital para Rio Grande, está fundada na proximidade da Barra e o acesso para a navegação marítima e os contatos com o interior da Capitania. “Dirão que o terreno é indigno pelas muitas areias que formam com combros formidáveis, e que estes cada vez mais se vão aproximando à Vila, sepultando os edifícios dela, o que não duvido sucede, e sucederá se não houver algum trabalho para o impedir. Se, porém, considerarem as utilidades que se seguem de ser ali a capital do continente, somente pela proximidade da barra, e sem atender às mais que resultam aos povos vizinhos, que são já em grande número, vir-se-á a conhecer que se deve empregar todo o cuidado na conservação e aumento da Vila”. Rio Grande, por sua posição estratégica “é sempre mais defendida, e se pode cobrir com alguma fortificação no sítio chamado o Estreito”. Essas razões evidenciam que é em Rio Grande que se deve trabalhar e “por todos os meios que parecerem conducentes para o seu estabelecimento, povoação, aumento e cultura”.[3]
          Bettamio propõe ao Governador da Capitania, uma série de providências para garantir o crescimento da Vila do Rio Grande, medidas que se tivessem sido implementadas, mudariam radicalmente o desenvolvimento histórico rio-grandino. Escreve, ainda sob efeito dos treze anos de ocupação espanhola, defendendo a fortificação e povoamento da Vila do Rio Grande, insistindo da necessidade em concentrar a população nas imediações deste centro urbano a fim de garantir sua manutenção no caso de novos ataques castelhanos. Os problemas ligados à carência de água e ausência de uma cobertura vegetal, de depósitos para conservação dos produtos da lavoura, do empobrecimento acarretado pela luta contra os espanhóis, da falta de material não perecível para construção e do contínuo movimento da areia, são alguns dos problemas enfrentados pela população na segunda metade do século XVIII e que Sebastião Bettamio projeta soluções, demonstrando um conhecimento do cotidiano do Rio Grande.



[1] BETTAMIO, Sebastião Francisco. Notícia particular do Continente do Rio Grande.  In: FREITAS, Décio. O capitalismo pastoril. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1980, p. 141-199.
[2] RODRIGUES, José Honório. História da História do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979, p. 220.
[3] BETTAMIO. In: FREITAS. 1980, p. 152.

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