Instalações da fábrica de fogões na Rua Dr. Nascimento. |
Rio Grande é
uma cidade em que inúmeras experiências comerciais e industriais foram
implementadas desde o século 19. Desconhecia a história que a seguir será
brevemente contada e que é resultado da leitura do livro “A Indústria de um
Pioneiro: a história dos afamados fogões da marca Pérez”. O livro me foi
presenteado pela sra. Genny Pérez dos Santos e por Alfredo Pérez Rodrigues dos
Santos (organizador), pessoas que agradeço esta contribuição para novos conhecimentos
que agora estão sendo partilhados com os leitores. A trajetória de vida do
industrial Rogélio Pérez é mais uma das histórias construídas por imigrantes de
diferentes países e que foram atraídos pela cidade portuária mais meridional do
Brasil.
O imigrante
espanhol Rogélio Pérez chegou a Rio Grande em 1906 onde residiu durante 70
anos. Nasceu em 27 de abril de 1886 na Paróquia de Peña Folenche, Comunidade
Autônoma da Galícia e faleceu em Rio Grande em 2 de junho de 1976. Era um de
doze irmãos sendo que nove deles foram imigrantes que se deslocaram para a
Argentina. Rogélio Pérez iniciou sua viagem marítima para a Argentina no ano de
1903, partindo da cidade portuária de Vigo. O navio ancorou em Rio Grande e a
cidade chamou a atenção do imigrante espanhol. A viagem seguiu até Buenos Aires
onde trabalhou até que em 1906 decidiu morar em Rio Grande. Conforme o livro
“com 20 anos de idade, iniciou o seu sonho de vir para o Brasil e a partir de
Buenos Aires, atravessou de navio para Montevidéu, onde foi trabalhando com a
sua taranzana e se deslocando para a cidade de Rio Grande. Veio para esta cidade
seguindo sempre pelo litoral, com isso foi passando de cidade em cidade e
dormindo para descansar e sempre trabalhando, afiando facas, tesouras, espadas
e todo o tipo de material cortante, inclusive passando por estâncias afiando
tesouras de esquiladores, onde era muito bem recebido até finalmente chegar na
cidade de Rio Grande. Nesta viagem como ele veio a pé com a sua taranzana, deve
ter demorado de dois a três meses”. Atuou como ambulante entre 1906-1910. Em
1910 se casa com Eliza Rosna Romero nascida em Granada-Espanha em 18 de
novembro de 1890 e falecida em Rio Grande em 14 de janeiro de 1975. Do
casamento nasceram sete filhos. Genny Pérez dos Santos é uma das filhas e
Alfredo Pérez Rodrigues dos Santos filho de Genny.
Rogélio
trabalhou em serviços de funilaria, mecânica e serviços de consertos em geral.
A experiência profissional e a criatividade, fez com que ele inventasse um novo
tipo de fogão. A solicitação de patente de invenção foi publicada no Diário
Oficial de 16 de maio de 1924. A atividade do ramo metalomecânico foi
inicialmente desenvolvida na Praça Júlio de Castilhos n.152-156 (ao lado do
Teatro Sete de Setembro) e após na rua Yatahi n.83 (Dr. Nascimento) no terreno
onde havia uma fábrica de fósforos já desativada. Foram construídos quatro
pavilhões e um forno da nova fundição aproveitando uma chaminé de 8 metros de
altura da antiga fábrica de fósforos. Matéria do jornal Echo do Sul de 28 de
julho de 1924, com o título O Progresso Industrial do Rio Grande, destacava uma
visita a fábrica Amaral, Pérez & Cia: “Temos certeza de que estes fogões
vão ter grande aceitação por parte do público, pois, quem usa um fogão deste
tipo, não só poupará 25% nos gastos do combustível, como também coadjuvara para
o desenvolvimento de uma das maiores riquezas do solo brasileiro, o carvão
nacional. Esta fábrica possui ainda uma grande fundição de ferro e bronze,
assim como uma bem montada oficina mecânica, onde dispõe de pessoal competente
para executar qualquer obra concernente ao ramo. Confecciona também cortinas de
aço para vitrines e portas que até agora as casas comerciais encomendavam de
fora assim como toldos para casas de negócios. Sabemos que dentro de pouco
iniciarão a fabricação de camas metálicas, para as quais já encomendaram todo o
maquinário e material da Europa”. O jornal O Tempo de 14 de setembro de 1924
complementa, afirmando que estavam fabricando brinquedos, “os conhecidos
soldadinhos de chumbo, que tanta delícia fazem a todos os petizes. Tivemos
ensejo de apreciar diversos exemplares da primeira produção e afirmamos sem
favor nenhum, que são perfeitos no seu gênero”. Infelizmente, as dívidas foram maiores do que
os lucros e em julho de 1927 a empresa começa a paralisar as atividades. Em
1929 a área da fábrica foi vendida. Em 2013 foram demolidas as edificações em
que foram fabricados os fogões Pérez, inclusive a histórica chaminé.
Apesar da
quebra da empresa de fogões, Rogélio Pérez dará continuidade às atividades
profissionais. Foi ele o responsável pela construção dos portões e pelo ferro
dos vitrais da Igreja do Carmo que foi inaugurada em 1938 (trabalhando junto
com o irmão Mariano de São José da Ordem dos Carmelitas Descalços). Na década de 1940 construiu três locomotivas para
venda de salgados e amendoim sendo que uma ficou em Rio Grande. Em frente ao
antigo Café Dalila ficava a locomotiva que vendia amendoim colocado em cone de
papel e ostentava rodas de um Ford modelo 1928. Inúmeras cortinas de ferro
foram construídas e algumas ainda são utilizadas em casas comerciais da cidade.
O corrimão de ferro fundido do Hall da Santa Casa foi feito na década de 1940.
A escada de ferro do farol do Chuí do final da década de 1940 também foi uma
obra de Pérez e filhos. Em 1948 comprou um terreno na Av. Rheingantz n.699 onde
havia um antigo matadouro desativado (em planta de 1872, neste local está
assinalado um matadouro), local que se fabricaria os produtos e se manteria uma
exposição dos artigos produzidos. Porém,
a ideia não foi efetivada.
Rogélio Pérez
faleceu em 1976 e seu amigo, o Deputado Carlos Santos, solicitou ao vereador
Romero que o industrial fosse homenageado com o nome de uma rua do município.
Isto ocorreu em 1989 com a denominação dada a uma rua do Balneário Cassino.
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