Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

ROGÉLIO PÉREZ




Instalações da fábrica de fogões na Rua Dr. Nascimento.

Rogélio Perez. 

Rio Grande é uma cidade em que inúmeras experiências comerciais e industriais foram implementadas desde o século 19. Desconhecia a história que a seguir será brevemente contada e que é resultado da leitura do livro “A Indústria de um Pioneiro: a história dos afamados fogões da marca Pérez”. O livro me foi presenteado pela sra. Genny Pérez dos Santos e por Alfredo Pérez Rodrigues dos Santos (organizador), pessoas que agradeço esta contribuição para novos conhecimentos que agora estão sendo partilhados com os leitores. A trajetória de vida do industrial Rogélio Pérez é mais uma das histórias construídas por imigrantes de diferentes países e que foram atraídos pela cidade portuária mais meridional do Brasil.
O imigrante espanhol Rogélio Pérez chegou a Rio Grande em 1906 onde residiu durante 70 anos. Nasceu em 27 de abril de 1886 na Paróquia de Peña Folenche, Comunidade Autônoma da Galícia e faleceu em Rio Grande em 2 de junho de 1976. Era um de doze irmãos sendo que nove deles foram imigrantes que se deslocaram para a Argentina. Rogélio Pérez iniciou sua viagem marítima para a Argentina no ano de 1903, partindo da cidade portuária de Vigo. O navio ancorou em Rio Grande e a cidade chamou a atenção do imigrante espanhol. A viagem seguiu até Buenos Aires onde trabalhou até que em 1906 decidiu morar em Rio Grande. Conforme o livro “com 20 anos de idade, iniciou o seu sonho de vir para o Brasil e a partir de Buenos Aires, atravessou de navio para Montevidéu, onde foi trabalhando com a sua taranzana e se deslocando para a cidade de Rio Grande. Veio para esta cidade seguindo sempre pelo litoral, com isso foi passando de cidade em cidade e dormindo para descansar e sempre trabalhando, afiando facas, tesouras, espadas e todo o tipo de material cortante, inclusive passando por estâncias afiando tesouras de esquiladores, onde era muito bem recebido até finalmente chegar na cidade de Rio Grande. Nesta viagem como ele veio a pé com a sua taranzana, deve ter demorado de dois a três meses”. Atuou como ambulante entre 1906-1910. Em 1910 se casa com Eliza Rosna Romero nascida em Granada-Espanha em 18 de novembro de 1890 e falecida em Rio Grande em 14 de janeiro de 1975. Do casamento nasceram sete filhos. Genny Pérez dos Santos é uma das filhas e Alfredo Pérez Rodrigues dos Santos filho de Genny.
         Rogélio trabalhou em serviços de funilaria, mecânica e serviços de consertos em geral. A experiência profissional e a criatividade, fez com que ele inventasse um novo tipo de fogão. A solicitação de patente de invenção foi publicada no Diário Oficial de 16 de maio de 1924. A atividade do ramo metalomecânico foi inicialmente desenvolvida na Praça Júlio de Castilhos n.152-156 (ao lado do Teatro Sete de Setembro) e após na rua Yatahi n.83 (Dr. Nascimento) no terreno onde havia uma fábrica de fósforos já desativada. Foram construídos quatro pavilhões e um forno da nova fundição aproveitando uma chaminé de 8 metros de altura da antiga fábrica de fósforos. Matéria do jornal Echo do Sul de 28 de julho de 1924, com o título O Progresso Industrial do Rio Grande, destacava uma visita a fábrica Amaral, Pérez & Cia: “Temos certeza de que estes fogões vão ter grande aceitação por parte do público, pois, quem usa um fogão deste tipo, não só poupará 25% nos gastos do combustível, como também coadjuvara para o desenvolvimento de uma das maiores riquezas do solo brasileiro, o carvão nacional. Esta fábrica possui ainda uma grande fundição de ferro e bronze, assim como uma bem montada oficina mecânica, onde dispõe de pessoal competente para executar qualquer obra concernente ao ramo. Confecciona também cortinas de aço para vitrines e portas que até agora as casas comerciais encomendavam de fora assim como toldos para casas de negócios. Sabemos que dentro de pouco iniciarão a fabricação de camas metálicas, para as quais já encomendaram todo o maquinário e material da Europa”. O jornal O Tempo de 14 de setembro de 1924 complementa, afirmando que estavam fabricando brinquedos, “os conhecidos soldadinhos de chumbo, que tanta delícia fazem a todos os petizes. Tivemos ensejo de apreciar diversos exemplares da primeira produção e afirmamos sem favor nenhum, que são perfeitos no seu gênero”.  Infelizmente, as dívidas foram maiores do que os lucros e em julho de 1927 a empresa começa a paralisar as atividades. Em 1929 a área da fábrica foi vendida. Em 2013 foram demolidas as edificações em que foram fabricados os fogões Pérez, inclusive a histórica chaminé.
Apesar da quebra da empresa de fogões, Rogélio Pérez dará continuidade às atividades profissionais. Foi ele o responsável pela construção dos portões e pelo ferro dos vitrais da Igreja do Carmo que foi inaugurada em 1938 (trabalhando junto com o irmão Mariano de São José da Ordem dos Carmelitas Descalços).  Na década de 1940 construiu três locomotivas para venda de salgados e amendoim sendo que uma ficou em Rio Grande. Em frente ao antigo Café Dalila ficava a locomotiva que vendia amendoim colocado em cone de papel e ostentava rodas de um Ford modelo 1928. Inúmeras cortinas de ferro foram construídas e algumas ainda são utilizadas em casas comerciais da cidade. O corrimão de ferro fundido do Hall da Santa Casa foi feito na década de 1940. A escada de ferro do farol do Chuí do final da década de 1940 também foi uma obra de Pérez e filhos. Em 1948 comprou um terreno na Av. Rheingantz n.699 onde havia um antigo matadouro desativado (em planta de 1872, neste local está assinalado um matadouro), local que se fabricaria os produtos e se manteria uma exposição dos artigos produzidos.  Porém, a ideia não foi efetivada.
Rogélio Pérez faleceu em 1976 e seu amigo, o Deputado Carlos Santos, solicitou ao vereador Romero que o industrial fosse homenageado com o nome de uma rua do município. Isto ocorreu em 1989 com a denominação dada a uma rua do Balneário Cassino.

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