Pintura de Cristóbal Rojas (1886). Galeria de Arte Nacional de Caracas. |
A tuberculose constitui
uma das mais antigas doenças infecciosas endêmicas da humanidade. Lesões ósseas
em esqueletos encontrados em sítios arqueológicos no vale do Rio Nilo, Norte da
África, datados de aproximadamente cinco mil anos, são provas incontestes da antiguidade
da doença. Dos vestígios em múmias egípcias a esqueletos encontrados na Alemanha,
ao longo dos milênios, foi um flagelo para as sociedades humanas devido à alta
letalidade. Descrições sobre as manifestações da doença existem desde a Antiguidade,
particularmente entre os gregos. No século 18, a tuberculose adquiriu o
nome de Peste Branca em oposição à Peste Negra (Bubônica), e os índices de
mortalidade eram altos na Europa. A partir dos últimos anos do século 18,
associou-se à tuberculose a representação de uma doença romântica,
idealizada nas obras literárias e artísticas do romantismo e identificada como
uma doença característica de poetas e intelectuais. No final do século 19 a representação da doença a
definia como um mal social, fortalecendo um processo de estigmatização
dos doentes.
No Brasil do início do século XX, a tuberculose representava um problema
gravíssimo, com uma mortalidade que se destacava nas estatísticas sendo
superada somente pela varíola em seus episódios epidêmicos. Era difícil escapar
a morte e os serviços de saúde eram praticamente inexistentes. A climatoterapia
foi à terapia mundialmente específica até o início dos anos 1930, sendo que
várias cidades surgiram para abrigar os doentes como é o caso de Campos do
Jordão e São José dos Campos. No Brasil, a percepção da tuberculose como doença
social firmou-se neste século, estando presente no discurso médico, respaldado
pelos dados estatísticos. Estes indicam de forma incontestável, desde o início
do século, uma maior incidência de tuberculose junto às classes populares, em
virtude das precárias condições de vida, aspecto obscurecido na "tísica
romântica". Apesar da associação da doença às condições de vida,
percebe-se que as orientações para o controle da tuberculose, ao longo deste
século, assumiram o fator biológico como seu principal determinante, sustentadas
por um saber técnico-científico que se desenvolveu progressivamente. Em Rio Grande nas
primeiras décadas do século 20,
a tuberculose era a doença que mais atingia o operariado
que atuava nas indústrias. O percentual de mortalidade do operário relativo à
tuberculose chegou a 59% da causa mortis por doenças na primeira metade da
década de 1920. Exposição às intempéries, aglomerações no espaço do trabalho,
baixos salários que poderiam comprometer o estado nutricional, restrito ou
deficitário serviço de assistência no setor da saúde, são fatores ligados a
esta tragédia que fez parte do cotidiano da cidade. O alerta no presente está
lançado pelo aumento dos casos e a maior resistência da bactéria aos
medicamentos, em especial, devido à descontinuidade dos tratamentos. Um dos
grandes temores do passado que parecia controlado continua a acompanhar a
humanidade no terceiro milênio.
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