Propaganda para compra de terrenos. Jornal Rio Grande, julho de 1955. |
Planta da cidade balneário a ser construída Jornal Rio Grande, julho de 1955. |
O Olimpo é a
mais alta montanha da Grécia com quase três mil metros de altura. Segundo a
mitologia grega, este é o espaço de moradia dos doze deuses do Olimpo e também
dos Titans.
O Olimpo que
aqui se fará referência não está não está na montanha, mas na planície costeira;
não abrigava deuses mas seria uma moradia para homens; e, assim como o projeto “Querência” também da
década de 1950, o Olimpo foi um projeto que buscou criar um novo espaço qualificado
de urbanização junto à orla do litoral do extremo sul do Brasil.
Mais de seis
décadas depois o resultado não contemplou a expectativa inicial. O imaginário
do Cote D’Azur (uma urbanização praial sofisticada) se restringiu as primeiras
décadas do balneário Cassino surgido em 1890. A dificuldade em implementar um
plano diretor e edificar uma infraestrutura superior ou pelo menos razoável
caracterizou a maior parte da área construída do Cassino. Na ocupação do
litoral vingou a lógica de uma cidade portuária/industrial com ciclos
econômicos sazonais e processos de subemprego e descapitalização da maioria do
seu operariado. O arrastar se deu até a
perspectiva da matriz Polo Naval, na última década, quando o balneário foi
identificado como a cidade dormitório junto ao mar.
A década de
1950 em Rio Grande era de crise econômica e desemprego! As empresas
tradicionais estavam fechando ou tinham grandes dificuldades para continuar
suas operações. A concentração do capital industrial brasileiro no eixo São
Paulo e Rio de Janeiro chegava ao seu limite para a aguerrida cidade do Rio Grande
que já estava a oito décadas desenvolvendo a matriz industrial (desde 1873).
Neste cenário de falência de empresas, a histórica organização de classes que
caracterizou a cidade na primeira metade da do século XX, se fez atuar em
várias frentes na busca de soluções. Duas alternativas nascem nos anos 1950: a
criação do ensino superior na cidade e os investimentos na indústria pesqueira
que tornou o setor o mais forte da economia local (até a década de 1980). Outra
alternativa buscada, foi repensar a ocupação da praia do Cassino para
incentivar a vinda de turistas (e de dinheiro circulante) com projetos imobiliários
de padrão superior: chegamos ao Olimpo! Os fatores do ocaso do projeto ainda
não foi analisado cientificamente, mas a sua organização inicial pode ser
acompanhada na imprensa local através de informes publicitários. À expectativa
e às aspirações de 60 anos atrás ficaram perpetuadas nas matérias que serão a
seguir transcritas.
O jornal Rio
Grande do final de julho de 1955 estampava a manchete: “Convite a homens de
iniciativa. Vamos incentivar o turismo em nossa terra. O México obteve no ano
passado mais dólares com turismo do que o Brasil com a exportação do café”. A
matéria esclarecia os objetivos do empreendimento: “Confie nos homens que estão
à frente do empreendimento e fique certo de que somente da união é que nasce a
força. Fale, indique e convença também seus amigos a cooperarem conosco, pois,
quanto mais vendas houver, mais rápida obra haverá; quanto mais rápida for à
obra, maior crédito terá OLIMPO; quanto mais crédito tiver OLIMPO, maior valor
terá o seu terreno. O capital da Imobiliária OLIMPO S.A. é insuficiente para
todas as obras iniciais, que estão orçadas em Cr$ 30.000.000”. Mais de 500 lotes haviam sido vendidos e o
capital já chegava a Cr$15.000.000, e a empresa lançava uma “Proclamação ao
Gaúcho Progressista” para abraçar a proposta. “Vamos atrair dólares para o Rio
Grande, que também é Brasil. Economizemos nossos cruzeiros aplicando-os em
nosso próprio chão. O resultado reverterá em benefício e conforto da nossa
gente”.
Conforme o
jornal “o Balneário Olimpo está situado no Distrito do Cassino, município do
Rio Grande, distante 5 quilômetros da estação ferroviária do Cassino; 15
quilômetros do aeroporto municipal; 25 quilômetros da estação rodoviária, do
porto de mar e lacustre e consequentemente da cidade do Rio Grande; 69
quilômetros da cidade de Pelotas e 200 quilômetros da Barra do Chuí. O
magnífico balneário Cassino está ligado a Rio Grande por ótima faixa de
asfalto, admiravelmente conservada pela Municipalidade, por redes de luz, força
e telefone. E, finalmente, pela linha da Estrada de Ferro para transporte
diário de cargas e passageiros. OLIMPO dista 5 quilômetros do Balneário
referido em direção ao Sul e terá como acesso, além da faixa beira-mar, a
Estrada do Bolacha (já em serviço) e que dará acesso a todos os balneários do
município”.
A
Imobiliária se dizia proprietária de uma área de 1.000 hectares, livre de
quaisquer ônus, dispondo de 15.000 lotes de terrenos. Além da compra do
terreno, a imobiliária adquiriu uma pedreira em Capão do Leão para “transformar
as areias do Olimpo na moderna cidade balneária”. Além disso, “compramos uma
caminhão para 6 toneladas e mais um trator com reboque. Construímos casas,
galpões para operários e estamos mantendo aproximadamente 50 homens com
atividade permanente na obra”. Criou-se uma Comissão Pró-Campanha com a
presença de muitos industriais e comerciantes, além do apoio do Prefeito
Frederico Ernesto Buchholz e o Diretor do Forum Oswaldo Miller Barlem.
A sede da
Imobiliária Olimpo ficava na rua Vigário José Inácio no centro de Porto Alegre.
Isto evidenciava uma contramão no processo de investimentos. Historicamente, os
empreendimentos turísticos de empresários porto-alegrenses se voltaram para o
litoral norte e não para o litoral sul do estado rio-grandense, o torna o
Olimpo, uma experiência imobiliária/turística ainda mais interessante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário