Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 12 de novembro de 2019

OLIMPO


Propaganda para compra de terrenos. Jornal Rio Grande, julho de 1955.

Planta da cidade balneário a ser construída Jornal Rio Grande, julho de 1955.
O Olimpo é a mais alta montanha da Grécia com quase três mil metros de altura. Segundo a mitologia grega, este é o espaço de moradia dos doze deuses do Olimpo e também dos Titans.
O Olimpo que aqui se fará referência não está não está na montanha, mas na planície costeira; não abrigava deuses mas seria uma moradia para homens;  e, assim como o projeto “Querência” também da década de 1950, o Olimpo foi um projeto que buscou criar um novo espaço qualificado de urbanização junto à orla do litoral do extremo sul do Brasil.
Mais de seis décadas depois o resultado não contemplou a expectativa inicial. O imaginário do Cote D’Azur (uma urbanização praial sofisticada) se restringiu as primeiras décadas do balneário Cassino surgido em 1890. A dificuldade em implementar um plano diretor e edificar uma infraestrutura superior ou pelo menos razoável caracterizou a maior parte da área construída do Cassino. Na ocupação do litoral vingou a lógica de uma cidade portuária/industrial com ciclos econômicos sazonais e processos de subemprego e descapitalização da maioria do seu operariado.  O arrastar se deu até a perspectiva da matriz Polo Naval, na última década, quando o balneário foi identificado como a cidade dormitório junto ao mar.
A década de 1950 em Rio Grande era de crise econômica e desemprego! As empresas tradicionais estavam fechando ou tinham grandes dificuldades para continuar suas operações. A concentração do capital industrial brasileiro no eixo São Paulo e Rio de Janeiro chegava ao seu limite para a aguerrida cidade do Rio Grande que já estava a oito décadas desenvolvendo a matriz industrial (desde 1873). Neste cenário de falência de empresas, a histórica organização de classes que caracterizou a cidade na primeira metade da do século XX, se fez atuar em várias frentes na busca de soluções. Duas alternativas nascem nos anos 1950: a criação do ensino superior na cidade e os investimentos na indústria pesqueira que tornou o setor o mais forte da economia local (até a década de 1980). Outra alternativa buscada, foi repensar a ocupação da praia do Cassino para incentivar a vinda de turistas (e de dinheiro circulante) com projetos imobiliários de padrão superior: chegamos ao Olimpo! Os fatores do ocaso do projeto ainda não foi analisado cientificamente, mas a sua organização inicial pode ser acompanhada na imprensa local através de informes publicitários. À expectativa e às aspirações de 60 anos atrás ficaram perpetuadas nas matérias que serão a seguir transcritas.
O jornal Rio Grande do final de julho de 1955 estampava a manchete: “Convite a homens de iniciativa. Vamos incentivar o turismo em nossa terra. O México obteve no ano passado mais dólares com turismo do que o Brasil com a exportação do café”. A matéria esclarecia os objetivos do empreendimento: “Confie nos homens que estão à frente do empreendimento e fique certo de que somente da união é que nasce a força. Fale, indique e convença também seus amigos a cooperarem conosco, pois, quanto mais vendas houver, mais rápida obra haverá; quanto mais rápida for à obra, maior crédito terá OLIMPO; quanto mais crédito tiver OLIMPO, maior valor terá o seu terreno. O capital da Imobiliária OLIMPO S.A. é insuficiente para todas as obras iniciais, que estão orçadas em Cr$ 30.000.000”.  Mais de 500 lotes haviam sido vendidos e o capital já chegava a Cr$15.000.000, e a empresa lançava uma “Proclamação ao Gaúcho Progressista” para abraçar a proposta. “Vamos atrair dólares para o Rio Grande, que também é Brasil. Economizemos nossos cruzeiros aplicando-os em nosso próprio chão. O resultado reverterá em benefício e conforto da nossa gente”. 
Conforme o jornal “o Balneário Olimpo está situado no Distrito do Cassino, município do Rio Grande, distante 5 quilômetros da estação ferroviária do Cassino; 15 quilômetros do aeroporto municipal; 25 quilômetros da estação rodoviária, do porto de mar e lacustre e consequentemente da cidade do Rio Grande; 69 quilômetros da cidade de Pelotas e 200 quilômetros da Barra do Chuí. O magnífico balneário Cassino está ligado a Rio Grande por ótima faixa de asfalto, admiravelmente conservada pela Municipalidade, por redes de luz, força e telefone. E, finalmente, pela linha da Estrada de Ferro para transporte diário de cargas e passageiros. OLIMPO dista 5 quilômetros do Balneário referido em direção ao Sul e terá como acesso, além da faixa beira-mar, a Estrada do Bolacha (já em serviço) e que dará acesso a todos os balneários do município”. 
A Imobiliária se dizia proprietária de uma área de 1.000 hectares, livre de quaisquer ônus, dispondo de 15.000 lotes de terrenos. Além da compra do terreno, a imobiliária adquiriu uma pedreira em Capão do Leão para “transformar as areias do Olimpo na moderna cidade balneária”. Além disso, “compramos uma caminhão para 6 toneladas e mais um trator com reboque. Construímos casas, galpões para operários e estamos mantendo aproximadamente 50 homens com atividade permanente na obra”. Criou-se uma Comissão Pró-Campanha com a presença de muitos industriais e comerciantes, além do apoio do Prefeito Frederico Ernesto Buchholz e o Diretor do Forum Oswaldo Miller Barlem.
A sede da Imobiliária Olimpo ficava na rua Vigário José Inácio no centro de Porto Alegre. Isto evidenciava uma contramão no processo de investimentos. Historicamente, os empreendimentos turísticos de empresários porto-alegrenses se voltaram para o litoral norte e não para o litoral sul do estado rio-grandense, o torna o Olimpo, uma experiência imobiliária/turística ainda mais interessante.  

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