Imagens do seriado Túnel do Tempo. |
*Matéria publicada no Jornal Agora em 13-09-2016.
O
seriado O Túnel do Tempo (The Time Tunnel) está completando meio século de
existência! Estreou nos Estados Unidos no dia 9 de setembro de 1966 (no Brasil
em 1968) no episódio em que os dois viajantes do tempo são lançados a bordo do
Titanic algumas horas antes da tragédia ocorrida em 1912. Viajar no tempo e
rever os eventos fascinavam os fãs que esperavam o próximo episódio.
Pessoalmente, acredito que a série foi uma das influências que me levou a fazer
o curso de Física (abandonado pelas péssimas notas no quesito matemática)
simultaneamente com o Curso História: investigar o passado parecia abrir as
portas para explicar as experiências humanas. Imaginem, somar a História com a
Física, fazer artesanalmente no próprio quarto uma máquina do tempo (como H. G.
Wells) e viajar ao passado ou ao futuro? É claro que se descobre que todo o
desdobramento da física relativística ou quântica ainda não propicia estas
viagens no tempo e que o passado não é um conjunto estático de verdades mas um
somatório de documentos fragmentados no presente. Interrogamos o passado a
partir do presente! Também se descobre que a série não é “imparcial” mas traz
uma série de visões de mundo repletas de ideologias e perspectivas políticas e
civilizatórias: estavamos na Guerra Fria que por vezes era mais quente que o
deserto do Saara!
A série foi produzida por Irwin Allen e pela
rede norte-americana ABC tendo sido produzidos 30 episódios de aproximadamente
52 minutos. Uma segunda temporada não ocorreu devido aos altos custos de cada
episódio e não pelo esgotamento do público. O roteiro geral envolve as
aventuras/viagens no tempo de dois cientistas americanos Doug Phillips e Tony Newman , que participam de um projeto secreto e
bilionário do governo dos Estados Unidos que busca realizar viagens no tempo.
Os dois acabam lançados ao passado, mas não se consegue mais trazê-los para o
presente, apesar de serem rastreados em diferentes momentos históricos. Os
enredos se passam em diferentes momentos do passado e também do futuro, com a
presença dos personagens em momentos históricos marcantes ou contato com extraterrestres.
Passeia na tela o Imperador Nero, Billy The Kid, Marco Polo etc, além de
episódios ligados a Revolução Francesa, ao ataque a Pearl Harbour, ao Álamo,
viagem à Lua etc.
O
livro “O Túnel do Tempo: um estudo de História @ Audiovisual” (Coord. Dennison
Oliveira. Curitiba: Juruá Editora, 2010) apresenta um trabalho coletivo que
realiza um amplo estudo de cada episódio da série possibilitando muitas
reflexões. Para Dennison: "Trata-se do
produto da indústria cultural dos EUA que maior e mais duradoura influência
exerceu sobre o imaginário coletivo nacional no que se refere à formação das
concepções de Tempo, História e Ciência e cujo impacto ainda hoje pode ser
descrito e analisado". Os autores do livro analisam o seriado não apenas
na dimensão da diversão e do entretenimento, mas também em sua dimensão
ideológica. Fica evidenciado que valores ligados à perspectiva do “american way
of life” contrapunha com a ditadura do bloco soviético. O poderio científico e
a corrida espacial/ETS também são temas do período em meio à corrida espacial e
a corrida armamentista nuclear.
O seriado está repleto de
noções ligadas ao progresso linear, onde a tecnologia vai sendo ampliada a cada
geração numa crença iluminista fundada na razão e na superação. São visões de
mundo questionáveis, mas que não devem tirar o sabor de recordar as tardes de
ficção científica, com fundo histórico, em frente ao televisor no Brasil dos
anos 1970-1980. Afinal, hoje falar genericamente em Túnel do Tempo é imaginar
uma viagem a eventos do passado com um sabor de realidade.
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