Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

RETORNO AO RIO APA

Navio Rio Apa. 

O Terrível Naufrágio do Rio Apa. In: Revista Ilustrada. Rio de Janeiro, n. 463, agosto de 1887. Desenhos de Angelo Agostini. 

           Na noite do dia 11 para 12 de julho de 1887, ocorreu um dos maiores sinistros marítimos da história brasileira: o naufrágio do paquete Rio Apa da Companhia Nacional de Navegação a Vapor (navio construído em Glasgow, Escócia), junto a Barra do Rio Grande. Uma tempestade que ocorreu naquela noite provocou o afundamento de mais quatro navios no litoral do Rio Grande do Sul. O número exato de mortos no Rio Apa é desconhecido, mas pode ter chegado a 126 pessoas, sendo uma das piores tragédias marítimas de toda a história brasileira.
O Rio Apa transportava, em sua maioria, militares que se deslocavam até Corumbá na Província do Mato Grosso, cujo acesso era feito até Montevidéu e dali pelo Rio da Prata, Rio Paraná e Rio Paraguai, numa extenuante viagem. O navio faria escala em Rio Grande e na tarde do dia 11 de julho aproximou-se da Barra, mas não conseguiu entrar devido ao forte nevoeiro, fundeando a quatro milhas da entrada. Às nove horas da noite a tempestade teve início estendendo-se por toda a madrugada do dia 12. A embarcação não foi mais localizada e no dia 16 começaram a aparecer cadáveres na praia. O silêncio que envolveu o afundamento e morte de quem estava a bordo perdura até hoje, porém, a tempestade é a explicação para o sinistro que comoveu o Brasil naquela época. A grande comoção provocada no Rio de Janeiro, local de onde vários mortos eram oriundos, levantou a discussão sobre a insegurança da navegação frente às tempestades que assolavam o litoral sul. Estudos sobre a ampliação da observação meteorológica e previsão do tempo no litoral brasileiro intensificaram-se após o afundamento. Acentuadas críticas também foram feitas quanto ao despreparo para enfrentar o sinistro por parte das autoridades locais. As vítimas foram aparecendo mortas, especialmente, nas praias do município de São José do Norte apresentando mutilações o que evidenciou o saque. Os corpos foram enterrados junto ao mar não sendo feito exames por legista que comprovasse a causa da morte. 
O Rio Apa era um navio a vapor que podia transportar até 160 passageiros e 40 tripulantes, possuindo 67 metros de comprimento e um calado de 8 pés. Um navio relativamente novo e em condições de enfrentar as viagens oceânicas. Porém, uma tempestade vinda do sudeste, o famoso vento “carpinteiro da praia” poderia causar o afundamento de embarcações como, historicamente, inúmeras vezes ocorreu. Em 1820, Auguste Saint-Hilaire ao adentrar a barra do Rio Grande afirmou: “Destroços de embarcações semienterradas na areia lembram terríveis desastres, e nossa alma enche-se pouco a pouco de melancolia e terror”. O Rio Apa foi vítima de uma destas intensas tempestades de ventos fortes e mar com ondas de até seis metros de altura, sendo obrigado a esperar ao largo da Barra para poder entrar no então Porto Velho do Rio Grande. A construção dos Molhes da Barra (inaugurado em 1915) e o avanço dos conhecimentos meteorológicos e acompanhamento da navegação tornou o litoral do Rio Grande do Sul muito mais seguro do que naqueles tempos. Os alertas de mau tempo permitem aos navegantes a busca de abrigo e a interrupção da navegação em áreas de risco. Atualmente, o socorro aéreo e marítimo, competência da Marinha do Brasil (5° Distrito Naval), também permite o apoio e salvamento de tripulações em risco.  
Se no próximo ano muito será escrito sobre o centenário do afundamento do Titanic, navio vítima de um iceberg que provocou o naufrágio e resultou na morte por hipotermia da maior parte dos passageiros, no Rio Grande do Sul, o maior desastre marítimo foi o do Rio Apa, cujo naufrágio foi resultado de um tradicional visitante histórico que provoca ventos gelados e mar agitado: o vento “carpinteiro da praia.”
O Naufrágio do Rio Apa. Óleo sobre tela autoria de Romualdo Gomes Magriço, 1887. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

2 comentários:

  1. Prezado Professor Torres

    Estou escrevendo um livro cujo tema aborda navios e embarcações desaparecidas no litoral brasileiro desde finais do século XIX até o final do século XX.
    O objetivo do livro é prestar uma homenagem aos tripulantes desaparecidos e contar um pouco da história das armadoras e alguns fatos e curiosidades que tenham relação com aqueles acidentes.
    A razão desse contato é verificar a possibilidade de publicar em meu livro a fotografia do vapor RIO APA, presente no artigo publicado em 30 de outubro de 2019. Na imagem publicada do referido navio não é informada a origem da mesma.
    Gostaria então de verificar essa possibilidade, certamente atribuindo os devidos créditos em meu livro.

    Atenciosamente

    Fabio Conti

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    1. Boa noite Fabio:
      Não recordo a história desta imagem. Quem me enviou e onde pesquisou? Na publicação de 2019, dada sua relevância, publiquei mesmo sem o acervo. Na última hora, fiz uma busca na internet e não obtive nenhuma referência a esta imagem (além da que publiquei...). Acredito corresponder ao navio Rio Apa e considero ser importante a sua utilização no livro que estás elaborando.
      Anexei nesta matéria de 30 de outubro de 2019 uma imagem de um quadro referente ao naufrágio do Rio Apa. Sem fidelidade histórica mas uma bela imagem artística.
      Coloque o link de outra matéria (talvez já tenhas) com outra imagem com referência ao Rio Apa:
      https://historiaehistoriografiadors.blogspot.com/2020/05/rio-apa.html
      Desejo felicidades na publicação do livro.
      prof. Torres

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