Cartão comemorativo do Sete de Setembro de 1860. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
A resistência
portuguesa a declaração de Independência do Brasil provocou um conflito militar
que provocou muitas mortes. Mas a resistência é um fator de criação de
identidades básicas para construir um pacto de união na superação da dialética
do senhor e do escravo (na acepção de Hegel).
Em períodos
de conflito de fronteira se acentuava a noção de união pela causa nacional
(como na Guerra do Paraguai ou na Segunda Guerra Mundial) e atenuava em
períodos de paz. Mas como era comemorada a Independência do Brasil em Rio Grande num período
não tão afastado de 1822? O jornal Diário do Rio Grande deixou registrado
algumas das atividades comemorativas que eram realizadas.
No mês de
julho de 1859, estava sendo construído com tábuas um forte que concentraria as
atividades públicas. O local era a antiga Praça do Poço, já denominada neste
ano de Praça Sete de Setembro. Mesmo local que em suas proximidades existiu o
Forte Jesus-Maria-José. Existia na cidade a Sociedade Sete de Setembro que era
responsável pelas festividades alusivas ao “37° aniversário da Independência do
Brasil”. Conforme a matéria “às 12 horas da noite do dia 6 deverão achar-se
reunidos no paço da câmara municipal todos os sócios que compõe a sociedade
Sete de Setembro e em assim todos os brasileiros residentes nesta cidade, que a
isso se quiserem prestar, para na hora indicada saírem a percorrer as
principais ruas da cidade, levando no centro o pavilhão nacional conduzido por
figuras da América e precedido de uma banda de música dando entusiásticos vivas
etc., tendo por fim este solene aparato anunciar a proximidade do majestoso dia
da nossa emancipação. Este bando será acompanhado também por coro de jovens
vestidos a caráter (figuras de América ou como for mais próprio) que cantarão
acompanhados da música o Hino da Independência em diferentes lugares da cidade
sendo um deles na praça Sete de Setembro. Ao amanhecer do dia 7, na praça Sete
de Setembro será saudada a aurora deste dia com uma salva de 21 tiros de
canhões que estarão assentados em um forte, que para esse fim se achará
elegantemente construído na dita praça,
o qual se denominará – Ipiranga. Em todas as outras praças há mesma hora
indicada, se farão subir grandes girândolas de foguetes, logo que dispare o
primeiro tiro de canhão, do forte que será o sinal para que em todas as praças
ao mesmo tempo soltem as mencionadas girândolas. Às 11 horas do dia na igreja
Matriz ao Te Deum mandado entoar pela câmara municipal deverá a ele comparecer
uma comissão de 12 membros por parte da sociedade, como determina o parágrafo
do artigo dos estatutos. À tarde percorrerão pelas ruas bandos de máscaras
acompanhados de música também vestidos a caráter. Às 7 horas da noite haverá na
praça Sete de Setembro uma suntuosa e brilhante iluminação –Diamantina –em cuja
hora, os máscaras subirão para o tablado para dançarem, cantando antes no mesmo
tablado o coro de jovens o Hino da Independência, o qual será no fim
correspondido por uma salva de 21 tiros do forte – Ipiranga. A música tocará em
coreto independente da peça da iluminação, enquanto durar a mesma. As
iluminações terão lugar nos dias 7, 8 e 9 e a sociedade convidará os habitantes
da cidade e, com especialidade, os da praça Sete de Setembro por anúncios para
iluminarem as suas casas, tornando assim mais aparatosa à festividade. O forte
– Ipiranga – no dia 7 além da salva da madrugada, salvará à 1 hora da tarde e
ao pôr do sol (...) O bando de máscaras andará precedido de um pequeno carro
triunfante conduzindo a figura da América. Em cada noite de iluminação subirá
ao ar da praça Sete de Setembro um lindo e vistoso balão, em horas indeterminadas.
Na última noite de iluminação arderá um pequeno, porém vistoso fogo de
artifício. Haverá um tablado para dançarem os máscaras e um coreto para a
música, na praça Municipal – 10 de julho de 1859” .
No ano
seguinte, o Diário do Rio Grande noticiava a chega de João Simões Lopes e
família, vindos de Pelotas, para prestigiarem as festividades do Sete de
Setembro. O editorial do Diário enfatizava “Sendo assim tudo assim, a nós
brasileiros, herdeiros e ascendentes de tantas glórias, possuidores do mais
belo e do mais rico país do mundo, cabe com estrépito, com ênfase e com o
orgulho do entusiasmo, cortejarmos com delírio o dia glorioso de nossa
nacionalidade grandiosa! ...” (7 de setembro de 1860).
As
festividades do ano de 1861 identificam outros espaços para os festejos: “Teatro
Sete de Setembro. Companhia Lírica Italiana. Sábado, 7 de setembro, recita
extraordinária em grande gala, em festejo ao glorioso aniversário da
Independência do Brasil. Logo que a orquestra tiver executado uma brilhante ouverture;
subirá o pano e cantar-se-á o Hino da Independência perante a efígie de Sua Majestade,
o Imperador, seguindo-se logo depois a ópera em 4 atos” 6 de setembro de 1861.
Sociedades ‘bailantes’ também
participavam das comemorações: “Um baile numerosamente concorrido na noite de 6
nos salões da Euterpina e duas representações líricas nas noites de 7 a 8, ambas repletas de
amadores, chamaram o aparecimento patriótico que era de esperar dos habitantes
desta cidade, que sobretudo almejam a prosperidade e o engrandecimento da
pátria, cuja emancipação política naquele faustoso dia celebravam. A imperial
sociedade Instrução e Recreio não foi indiferente a estas demonstrações. Depois
da meia noite de 6, reunidos nos salões da mesma, um grande número de
cavaleiros que ali esperavam por outros que deveriam vir do baile, saíram pelas
três horas da noite com archotes e o pavilhão nacional acompanhados de música,
e ao troar de dezenas de foguetes a percorrerem as ruas até amanhecer havendo
antes cantado o Hino da Independência nas praças Sete de Setembro e Municipal.
A Câmara mandou cantar o clássico Te-Deum, que foi concorrido como sempre; os
navios surtos no porto conservaram-se embandeirados e a noite iluminaram-se os
edifícios públicos e algumas casas” 8 de setembro de 1861.
Com
tantas referências ao Hino da Independência, fica uma curiosidade histórica: se
o Hino, por estar relacionado à D. Pedro I (apesar de não ser o único autor...),
caiu em desuso após a abdicação do Imperador em 1831, qual será a letra e a
música do Hino, que tanto a imprensa faz referência? Ou será que em Rio Grande , teve
continuidade a execução do Hino de D. Pedro I ? Será que a letra era algo
próximo a “Brava gente brasileira!/ Longe vá... temor servil:/ Ou ficar a
pátria livre/ Ou morrer pelo Brasil”?
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