Carl Sagan na série Cosmos. |
Sagan nasceu em Nova Iorque em 9 de
novembro de 1934 e faleceu em Seatle no dia 20 de dezembro de 1996. A morte ocorreu por
pneumonia tendo por quadro mais amplo um câncer na medula óssea contra o qual
ele lutou durante dois anos. Ao longo de sua vida escreveu mais de 600 artigos
e livros além de documentários. Parte do imaginário científico dos anos 1980 está
fundamentado na série Cosmos (1980) que foi exibida em 60 países e foi
assistida por mais de 500 milhões de pessoas. Esta série de treze episódios
tendo por trilha sonora a música de Vangelis e outras preciosidades acústicas,
analisou a história da Astronomia, do surgimento da vida no planeta, das ideias
cosmológicas e das possibilidades da exploração espacial. No Brasil, a estréia
da série ocorreu há trinta anos atrás.
Doutor pela Universidade de Chicago, Sagan,
atuou como professor de Astronomia e Ciências Espaciais na Universidade de
Cornell e participou de projetos em outras instituições como a NASA, onde foi
consultor e conselheiro desde os anos 1950, atuando no programa espacial
americano. Trabalhou no Projeto Apollo que culminou com a chegada do homem a
Lua em 1969 e chefiou o Mariner e Viking, projetos pioneiros na exploração do
sistema solar. Participou das missões Voyager e da sonda Galileu. A sonda
Voyager (lançada em 1977) ainda está viajando em direção aos limites do sistema
solar, encontrando-se a mais de 20 bilhões de quilômetros da Terra. Na Voyager
foram colocados discos com informações sobre a civilização no planeta Terra. Temas
ligados à formação química e biológica de planetas do sistema solar foram
abordados por ele. Na década de 1980, Sagan idealiza e assina um documento em
conjunto com outros cientistas como Stephen Hawking e Linnus Pauling, defendendo
a continuidade do Projeto SETI (busca por vida inteligente extraterrestre
através do uso de radiotelescópios) que teve início com Frank Drake, em 1960.
Sagan desenvolveu em seus estudos muitas reflexões no campo da embrionária
Exobiologia.
No livro ‘Cosmos’, o autor faz a seguinte
reflexão: “Nosso adorável planeta azul, a Terra, é o único lar que conhecemos.
Vênus é muito quente; Marte, muito frio. A Terra é a medida certa, o paraíso
para os seres humanos. Além do mais, evoluímos aqui. Mas o nosso clima pode ser
instável. Estamos perturbando nosso pobre planeta de maneiras sérias e contraditórias.
Haverá algum perigo em dirigir o ambiente da Terra para o inferno planetário de
Vênus ou para a era glacial global de Marte? A resposta é: ninguém sabe. O
estudo do clima global, a comparação da Terra com outros mundos são assuntos
que se encontram nos estágios iniciais de desenvolvimento. São campos pobres
onde impera a má vontade. Em nossa ignorância, continuamos a empurrar e puxar,
poluir a atmosfera e a poluir a Terra, esquecendo o fato de que as
conseqüências a longo prazo são amplamente desconhecidas. (...) Nossa
inteligência e tecnologia deram-nos poder de afetar o clima. Como usaremos este
poder? Desejaremos tolerar a ignorância e a complacência afetando toda a
família humana?”. O livro é de 1980 e
três décadas depois a emissão de CO2, proveniente da queima de combustíveis
fósseis, só tem crescido frente a um processo de produção industrial cada vez
mais intenso.
Somente de 1990 a 2012 as emissões
aumentaram em 50% e continuam em
elevação. A indústria chinesa, modesta em 1980, atualmente é
a maior emissora de CO2 do planeta seguida pelos EUA, Índia, Rússia, Japão e
Alemanha. Tem sido infrutíferos os esforços da ONU para limitar a emissão de
CO2 evitando o aquecimento global superior a 2°C em relação ao início da era
industrial (na segunda metade do século XVIII). Sagan já levantava o problema do
aquecimento global e suas conseqüências para a sobrevivência da espécie humana.
Também começou a questionar um país que cresce em ritmo vertiginoso e ameaça a
geopolítica e a sustentabilidade do planeta: a China.
Em seu último livro ‘Bilhões e Bilhões’, foi
feito um relato dos diálogos finais travados entre Sagan e sua esposa, a
pesquisadora Ann Druyan. Foram dois anos de luta contra o câncer que encerraram
no dia 20 de dezembro, há 16 anos atrás: ‘É uma vigília da morte’, Carl me
disse calmamente: ‘Vou morrer’. ‘Não, protestei’. ‘Você vai vencer desta vez,
assim como já venceu antes, quando tudo parecia sem esperança’. Com uma mistura
de fino bom humor e ceticismo, mas, como sempre, sem nenhum vestígio de
autopiedade, disse ironicamente: ‘Bem, vamos ver quem tem razão desta vez’.
(...) Ao contrário das fantasias dos fundamentalistas, não houve conversão no
leito de morte, nenhum refúgio de última hora numa visão consoladora do céu ou
de uma visão após a morte. Para Carl, o que mais importava era a verdade, e não
apenas aquilo que poderia fazer com que nos sentíssemos melhor, afirma Druyan.
Em outro texto ela faz outro comentário reflexivo sobre a obra do esposo: “Em
minha estimativa parcial, ele era uma figura histórica mundial que nos
incentivou a deixar a espiritualidade geocêntrica, narcisista, ‘sobrenatural’
de nossa infância e abraçar a vastidão — amadurecer ao tomar as revelações da
revolução científica moderna de coração”.
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