Vista do Cais do Porto Velho por volta de 1910. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
“Na cidade, realiza-se um comércio muito ativo: “pavilhões de todas as nações flutuam no porto (...) graças a seu comércio e seu porto, que é o único desta rica província, a cidade sofrerá, pela força das circunstâncias, uma transformação completa”. Alexander Baguet (1845).
A visita do Imperador: D. Pedro II esteve na cidade em
julho de 1865 rumando para frente de combate em Uruguaiana que havia sido
invadida por tropas paraguaias. Em sua permanência em Rio Grande, recebeu
inúmeras manifestações de apreço. Seu genro casado com a filha Isabel, o Conde
d’Eu, deixou anotações em seu diário desta passagem desde a chegada do navio ao
porto “por detrás de uma saliência da margem do sul vislumbrava-se a cidade do
Rio Grande precedida de uma floresta de mastros”, até os detalhes sobre a vida
urbana. Em conversas, Conde d’Eu foi informado que cidade tinha cerca de 14.000
habitantes e apresentava muitas casas de comércio européias. As principais
mercadorias para exportação eram os couros e a carne seca. “As ruas principais,
em que se vêem lojas elegantes, são três, todas paralelas à praia. Há muitas
casas de azulejos, o que dá impressão de asseio e elegância. A rua mais
importante apresenta hoje muitas bandeiras de consulados”. Conforme suas
observações, as ruas são calçadas; mas antes de se “passarem as últimas casas
da cidade, já se está num mar de areia, em que se torna muito custoso andar”.
Os jornais da época estimaram que mais de 6.000 pessoas aglomeraram-se junto ao
Cais da Boa Vista para observarem a chegada do Imperador e sua comitiva.
Cartões postais relativos a esta passagem, ajudaram a divulgar Rio Grande na
Corte Imperial.
A Rua Barroso: A
rua Barroso já teve uma estética muito diferenciada da atual. Nela existia um
Canalete onde transitavam canoas e caíques vindos da Ilha do Ladino, onde no
século 18 existiu um forte espanhol, conduzindo produtos desta extinta ilha que
foi aterrada quando da construção do Porto Novo do Rio Grande. Estes moradores
cruzavam com suas embarcações o lodoso macegal que desaguava no Canalete,
evitando um caminho maior que era à volta pela ponta da Macega. Para
deslocamento de pedestres e de veículos de tração animal, foi construída uma
ponte de madeira em arco, com altura suficiente para que embarcações pudessem
circular nas águas. A ponte ficava no final da rua da Praia (Marechal Floriano)
em direção à Macega área que teve ruas abertas a partir da década de 1880 (área
em direção a Capitania dos Portos). O canalete foi aterrado em 1895. Em 1900,
durante uma epidemia de febre amarela na cidade, foi levantada a infundada
hipótese de que o aterramento do canalete era o fator para a eclosão da doença!
No tempo de Tamandaré:
Inúmeros homens tiveram suas vidas voltadas para o mar seja como marítimos ou
militares da Marinha. Residir próximo às águas poderia despertar vocações para
o mar como foi o caso do Marques de Tamandaré. Joaquim Marques Lisboa ao
relatar algumas passagens de sua infância, recordou que por volta do ano de
1818, ao olhar da janela de sua casa observava a água da Lagoa dos Patos e as
embarcações muito próximas. De fato, ele morava na esquina da rua Marechal
Floriano com o Beco do Chico Marques (atual rua Francisco Marques), num período
anterior ao aterramento que fez surgir à rua Riachuelo e o início da definição
da linha do cais.
A Estação
Marítima: Nas últimas décadas do século 19 e nas
primeiras do século 20, Rio Grande passou por transformações urbanas com
inovações tecnológicas e consolidação do capitalismo industrial. Uma destas
inovações foi à ferrovia que no Rio Grande do Sul surge na década de 1870,
voltada à necessidade estratégica de defesa da fronteira com os países
platinos. Gradualmente, os caminhos de ferro passam a dinamizar as
atividades econômicas através da integração regional, aproximando os produtos
da campanha e da zona colonial do público consumidor, ampliando a circulação de
mercadorias e facilitando o deslocamento da população. Rio Grande foi um centro
de convergência dos caminhos de ferro responsáveis pelo transporte de
grande parte da produção da então Província do Rio Grande do Sul devido às
instalações portuárias. Em 1884, foi inaugurado o opulento prédio da Estação
Central do Rio Grande, ponto de passagem não apenas de mercadorias, mas, também
de interação cultural entre diversas localidades gaúchas. Na década de 1880, a
área circunvizinha do final da Riachuelo esquina com a Barroso foi concedida a Southern
Brasilian Railway para estender um ramal ferroviário até o local
modificando o projeto de uma área de lazer ou um novo mercado público. Nascia a
Estação Marítima, com a área atravessada por trilhas aonde zorras conduziam
produtos para os navios atracados onde hoje a balsa para São José do Norte
atua.
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