Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

MEMÓRIAS DO PORTO VELHO

Vista do Cais do Porto Velho por volta de 1910. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.


“Na cidade, realiza-se um comércio muito ativo: “pavilhões de todas as nações flutuam no porto (...) graças a seu comércio e seu porto, que é o único desta rica província, a cidade sofrerá, pela força das circunstâncias, uma transformação completa”. Alexander Baguet (1845).

         Alguns momentos da trajetória histórica do Porto Velho são analisados no livro de minha autoria Memórias do Cais: o Porto Velho do Rio Grande (2009). A visita do Imperador D. Pedro II, a rua Barroso, a Estação Marítima e o Porto Velho no tempo de Tamandaré são nesta matéria abordados.
      A visita do Imperador: D. Pedro II esteve na cidade em julho de 1865 rumando para frente de combate em Uruguaiana que havia sido invadida por tropas paraguaias. Em sua permanência em Rio Grande, recebeu inúmeras manifestações de apreço. Seu genro casado com a filha Isabel, o Conde d’Eu, deixou anotações em seu diário desta passagem desde a chegada do navio ao porto “por detrás de uma saliência da margem do sul vislumbrava-se a cidade do Rio Grande precedida de uma floresta de mastros”, até os detalhes sobre a vida urbana. Em conversas, Conde d’Eu foi informado que cidade tinha cerca de 14.000 habitantes e apresentava muitas casas de comércio européias. As principais mercadorias para exportação eram os couros e a carne seca. “As ruas principais, em que se vêem lojas elegantes, são três, todas paralelas à praia. Há muitas casas de azulejos, o que dá impressão de asseio e elegância. A rua mais importante apresenta hoje muitas bandeiras de consulados”. Conforme suas observações, as ruas são calçadas; mas antes de se “passarem as últimas casas da cidade, já se está num mar de areia, em que se torna muito custoso andar”. Os jornais da época estimaram que mais de 6.000 pessoas aglomeraram-se junto ao Cais da Boa Vista para observarem a chegada do Imperador e sua comitiva. Cartões postais relativos a esta passagem, ajudaram a divulgar Rio Grande na Corte Imperial.
A Rua Barroso: A rua Barroso já teve uma estética muito diferenciada da atual. Nela existia um Canalete onde transitavam canoas e caíques vindos da Ilha do Ladino, onde no século 18 existiu um forte espanhol, conduzindo produtos desta extinta ilha que foi aterrada quando da construção do Porto Novo do Rio Grande. Estes moradores cruzavam com suas embarcações o lodoso macegal que desaguava no Canalete, evitando um caminho maior que era à volta pela ponta da Macega. Para deslocamento de pedestres e de veículos de tração animal, foi construída uma ponte de madeira em arco, com altura suficiente para que embarcações pudessem circular nas águas. A ponte ficava no final da rua da Praia (Marechal Floriano) em direção à Macega área que teve ruas abertas a partir da década de 1880 (área em direção a Capitania dos Portos). O canalete foi aterrado em 1895. Em 1900, durante uma epidemia de febre amarela na cidade, foi levantada a infundada hipótese de que o aterramento do canalete era o fator para a eclosão da doença!
No tempo de Tamandaré: Inúmeros homens tiveram suas vidas voltadas para o mar seja como marítimos ou militares da Marinha. Residir próximo às águas poderia despertar vocações para o mar como foi o caso do Marques de Tamandaré. Joaquim Marques Lisboa ao relatar algumas passagens de sua infância, recordou que por volta do ano de 1818, ao olhar da janela de sua casa observava a água da Lagoa dos Patos e as embarcações muito próximas. De fato, ele morava na esquina da rua Marechal Floriano com o Beco do Chico Marques (atual rua Francisco Marques), num período anterior ao aterramento que fez surgir à rua Riachuelo e o início da definição da linha do cais.
A Estação Marítima: Nas últimas décadas do século 19 e nas primeiras do século 20, Rio Grande passou por transformações urbanas com inovações tecnológicas e consolidação do capitalismo industrial. Uma destas inovações foi à ferrovia que no Rio Grande do Sul surge na década de 1870, voltada à necessidade estratégica de defesa da fronteira com os países platinos. Gradualmente, os caminhos de ferro passam a dinamizar as atividades econômicas através da integração regional, aproximando os produtos da campanha e da zona colonial do público consumidor, ampliando a circulação de mercadorias e facilitando o deslocamento da população. Rio Grande foi um centro de convergência dos caminhos de ferro responsáveis pelo transporte de grande parte da produção da então Província do Rio Grande do Sul devido às instalações portuárias. Em 1884, foi inaugurado o opulento prédio da Estação Central do Rio Grande, ponto de passagem não apenas de mercadorias, mas, também de interação cultural entre diversas localidades gaúchas. Na década de 1880, a área circunvizinha do final da Riachuelo esquina com a Barroso foi concedida a Southern Brasilian Railway para estender um ramal ferroviário até o local modificando o projeto de uma área de lazer ou um novo mercado público. Nascia a Estação Marítima, com a área atravessada por trilhas aonde zorras conduziam produtos para os navios atracados onde hoje a balsa para São José do Norte atua.

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