Francisco Manuel da Silva. |
Joaquim Osório Duque Estrada em 1902. |
Toda
Nação é um processo de construção. O Brasil construiu a sua nacionalidade a
partir da luta anti-colonial em relação a Portugal. Ideários de liberdade e de
soberania foram as palavras de comando dos primeiros anos após o 7 de Setembro
de 1822 quando ocorre definitivamente o rompimento dos laços de subordinação
política dos brasileiros aos portugueses. Esta Independência foi sendo
construída especialmente a partir de 1808 quando da chegada de D. João ao
Brasil e será maturada até os atos simbólicos e práticos ligados ao Fico de D. Pedro e ao Gripo do Ipiranga. Os primeiros anos do
país independente foram de guerra contra a resistência militar portuguesa em
nosso território. Mesmo na década seguinte, o decênio de 1830, a preocupação ainda
estava voltada a garantir a manutenção do país soberano e a manutenção da
integridade nacional frente aos intensos conflitos nas províncias de norte a
sul do Brasil.
O país nasce
de um ato político, por isso, precede a Nação que é uma construção contínua
fundada em trabalho social que gera a riqueza e nas simbologias que constroem o
sentimento telúrico de amor e apego a terra em que se vive. A construção da
nacionalidade e da brasilidade passa pelas simbologias como o Hino Nacional
Brasileiro. A música é um veículo por excelência para fazer transbordar o
sentimento, seja subjetivo ou coletivo. E o Hino Brasileiro não nasceu pronto,
nem foi feito em alguns dias ou semanas, ele foi uma construção que se estendeu
por cem anos. Exatamente! Um século se passou desde que Francisco Manoel da
Silva, em 1822, elaborou uma música que é o nosso Hino, num momento de luta
pela liberdade e superação da condição de Colônia tendo por Imperador D. Pedro
I. Mantendo sua tradição inicial ligado ao liberalismo, o Hino deixa de ter apenas
a música e teve uma primeira composição de letra que foi tocada no Largo do
Paço junto ao cais no Rio de Janeiro, coração político do país nascente, quando
da partida de D. Pedro I para Portugal após a sua abdicação ao trono brasileiro.
O imperador era duramente criticado por sua postura autoritária e
centralizadora do poder e a letra do Hino diz: “Os bronzes da tirania; Já no
Brasil não rouquejam; Os monstros que o escravizavam; Já entre nós não
vicejam”. Já na década de 1840 quando D. Pedro II assume o trono, a letra do
Hino é adaptada a exaltar o novo Imperador: “Negar de Pedro as virtudes; Seu
talento escurecer; É negar como é sublime; Da bela aurora, o romper”. Ocorria
nas províncias nas décadas de 1830-40, a utilização de outras letras para o Hino com
o fundo musical que vai se tornando cada vez mais popular, porém, com
utilizações regionais e linguajar muitas vezes xenófobo e de ofensa a nações ou
personagens, especialmente aos portugueses. Porém, o mais usual era apenas
tocá-lo sem referência a letra nas atividades ou nos conflitos militares, como
na Guerra da Tríplice Aliança ou nas comemorações da Semana da Pátria.
No
período republicano iniciado em 1889, muitos símbolos e personagens monárquicos
começam a ser varridos das praças e ruas, sendo trocados pelo novo imaginário
político ligado a República. Em
Rio Grande , é o caso, como tantos outros, da rua Pedro II que
passa a ser chamada de Marechal Floriano ou da rua dos Príncipes que passa a
chamar-se rua General Bacelar. Neste ano de 1889 foi lançado um concurso
público para elaboração de um Hino para o Brasil, porém, em meio a intensa
polêmica, manteve-se a música de Francisco Manoel da Silva como a melodia mais
popular. Somente no ano de 1909, em plena vigência da República Liberal, é que
a letra do Hino foi adaptada à música surgindo à belíssima poesia de Joaquim
Osório Duque Estrada que com algumas adaptações tornou-se, no ano de 1922,
oficialmente, o Hino Nacional Brasileiro.
Portanto,
foram cem anos de construção de uma nação em meio aos projetos da monarquia e
da república para chegarmos ao formato atual para o Hino que exalta a pátria,
as belezas naturais do Brasil (que foi uma principais identidades nacionais
desde 1822), a liberdade e a luta pela soberania. Foi no período histórico em que
se fazia a Independência que surgiu à melodia que perdura até hoje e que se faz
ouvir pelo planeta nos Jogos Olímpicos ou nas atividades oficiais/culturais em
que o Brasil está representado. Recentemente, na festa do Brasil nas ruas de
Nova Iorque, o Hino emocionou milhares de pessoas ali presentes. Afinal, na
junção da melodia e da letra, emanam as sensibilidades que vão dos vínculos
familiares e de trabalho, do viver cotidiano num país em que se desenvolveu o
sentimento de pertencimento e vínculo telúrico.
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