Porto do Rio Grande em 1908

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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

ASTEROIDES

Fotografias de 1927 da região de Tunguska. Acervo: Museu Natural de San Petersburgo. 


        No dia 15 de fevereiro deste ano o asteroide 2012 DA14 fez a sua aproximação máxima da Terra e atingiu uma altitude inferior a dos satélites geoestacionários. A rocha possui cerca de 45 metros de comprimento e se atingisse o planeta explodiria com energia equivalente a 2,5 megatoneladas de TNT. As 17h24 (horário brasileiro de verão), o asteroide 2012 DA14 fez um verdadeiro vôo rasante e passou a apenas 27.700 km de altitude da superfície (34.100 km do centro da Terra), a segunda menor aproximação já registrada para um objeto com dimensões similares. Apesar da grande dimensão e pequena distância, não houve risco do objeto atingir a Terra. O acompanhamento deste asteroide e de outros, está disponível no endereço eletrônico www.apollo11.com, um site que recomendo para os interessados em temáticas ligadas ao espaço e a Terra. 
Para as dimensões siderais, 27.700 km é uma distância muito pequena. Um satélite geoestacionário está a 36.000 km da superfície da Terra. Estes perigosos navegadores do espaço sideral, os asteroides, são rochas irregulares que, em sua maioria, orbitam uma região do espaço entre Marte e Júpiter, chamada de Cinturão de Asteroides. Rochas pequenas são incineradas ao ingressar na atmosfera terrestre produzindo o efeito visual chamado meteoro. Porém, rochas maiores poderão chegar até a superfície ou explodirem a uma certa altitude, sendo chamados de meteoritos.
Nem sempre eles passaram pelo planeta e seguiram sua órbita. Ao longo da história geológica da Terra inúmeros choques devem ter ocorrido, como pode ser evidenciado em algumas cicatrizes na crosta terrestre. Um dos mais famosos é a cratera de Barringer no Arizona que tem 1.200 metros de diâmetro e 170 metros de comprimento, num evento ocorrido há 50 mil anos atrás. Nos tempos do registro escrito (apenas os últimos 6.000 anos de um total de 4,6 bilhões da formação da Terra), poucos eventos significativos (de grande amplitude destrutiva) foram registrados. Um deles é o Evento de Tunguska, ocorrido na Rússia em 30 de junho de 1908, as 07h17. Conforme uma das teorias, nesta data, um asteroide de 110 toneladas e 120 metros, entrou na atmosfera terrestre a 54 mil km/h e aqueceu o ar a uma temperatura de 24.000°C. A bola de fogo produzida liberou a energia de 185 bombas de Hiroshima destruindo 2.000 km de florestas na região do Rio Tunguska, uma área pouco habitada no centro-norte da Sibéria. Se o choque com o asteroide ocorresse cinco horas mais tarde, ele se daria sobre a cidade de São Petersburgo, capital da Rússia, que seria totalmente destruída.  
O interessante é que quando o olhar dos cientistas estava completamente voltado para o asteroide que cruzou o planeta no dia 15 de fevereiro, um outro caiu cerca de 16 horas antes (01:20:26 da madrugada no Brasil) provocando pelo menos 1.100 feridos na Rússia (cidade de Chelyabinsk). Os ferimentos foram causados pelo efeito de estilhaçamento em vidros e construções do ‘boom sônico’ gerado pelo seu ingresso e explosão na atmosfera. O objeto que entrou na atmosfera a cerca de 60 mil km por hora, tinha 17 metros e 10 mil toneladas de massa, liberando a energia de 500 kilotons ou até quarenta vezes a bomba de Hiroshima. Os danos causados não foram devido ao choque com o solo mas dada a sua explosão a cerca de 10 a 15 mil metros de altura.
No Rio Grande do Sul ocorreu uma queda no dia 16 de agosto de 1937 as 16h30 no atual município de Putinga (nordeste do Estado) num evento que se tornou referência para o Brasil. À descrição da queda do objeto feita no relato de testemunhas lembra muito as imagens feitas no dia 15 na Rússia: uma bola brilhante que deixava um grande rastro de fumaça seguido de uma forte explosão. Mais de 200 kg de rocha foram coletados no local e uma parte se encontra em museus.   
Recentemente, foi descoberto na Austrália uma zona de impacto de 200 km diâmetro resultado da queda de um gigantesco asteroide a 360 milhões de anos. Este foi um objeto de grande dimensão que deveria ter entre 10 e 20 quilômetros de largura, o que o torna ainda mais excepcional e letal. O perigo destes objetos espaciais, apesar de já terem sido catalogados 20 mil dos mais de 500 mil existentes, está na restrita capacidade de detectá-los até para prever com antecedência a desocupação de uma área que sofrerá um choque. Esta dificuldade está relacionada, em sua maioria, ao seu diminuto tamanho e no baixo brilho emitido. Os asteroides não tem luz própria e são constituídos por pequenas rochas escuras que ao se aproximarem da Terra são bastante ofuscados pela luz emitida pelo Sol, além de apresentarem uma rápida velocidade de deslocamento. O cenário prático para uma detecção mais eficiente será o direcionamento de vários telescópios orbitais para o rastreamento mais amplo do espaço entre Marte e a Terra, o que envolverá cifras realmente astronômicas de bilhões de dólares. 
         Um asteroide que está na lista dos mais perigosos, numa lista de quase cinco mil que são monitorados pela NASA, é o Toutatis, que cruza com o planeta a cada quatro anos e já chegou, no ano de 2004, a uma distância de apenas 4  vezes da Terra a Lua (cerca de 1,5 milhão de km). O detalhe é que ele possui um diâmetro de mais de 4 quilômetros (quase quarenta vezes o de Tunguska...). Um choque seria um problema de difícil mensuração... Outro asteroide que será muito comentado no ano de 2029 é o Apophis (diâmetro de 1,1 km), que no mês de abril deste este ano passará a somente 29 mil km da Terra. 
         Porém, o ingresso não previamente detectado deste asteroide que caiu recentemente na Rússia, está desencadeando uma grande discussão sobre as surpresas que o espaço sideral pode reservar aos terráqueos nas próximas décadas.

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