Choque de um asteróide com a Terra. Acervo: NASA. |
Conforme previsões ligadas ao “Fim do Mundo” este mês de dezembro assinala o ocaso da civilização terráquea. Contrapondo esta visão, trarei alguns aspectos da discussão sobre este tema a partir do embasamento da ciência. Já escutei de algumas pessoas (que infelizmente tem diploma universitário) de que a racionalidade só serve para provocar dores de cabeça. Vou fazer uma defesa da ciência não como dogma, mas como instrumento crítico na construção do conhecimento.
Desde o
desenvolvimento dos fundamentos da racionalidade Ocidental na Grécia Antiga,
uma longa caminhada já foi trilhada no campo da história do pensamento
científico. Este pensamento não é construído por deuses, mas por homens,
fazendo parte das construções ligadas ao imaginário de cada sociedade. O que diferencia
este conhecimento em relação ao sobrenaturalismo abstrato é a busca de
fundamentos para a argumentação, respaldados em construções teóricas que almejam
ou não, a enunciação de leis a partir da experimentação e repetição de
experiências. As ciências nomotéticas ou exatas (que buscam fixar leis de
funcionamento dos fenômenos) e as ideográficas ou sociais (análise de fenômenos
sócio-culturais sem a fixação de leis), utilizam diversificados instrumentos na
elaboração do saber. Diferentes olhares sobre a sociedade permitem abordagens
funcionalistas, estruturais, materialistas, culturalistas etc, que buscam olhar
para os fenômenos sociais a partir de referenciais críticos e construir
interpretações que nunca replicam o próprio fenômeno. O que ocorre é uma
interpretação fundada no uso da racionalidade.
No campo dos
fenômenos físicos, a metodologia de investigação recorre à fundamentação
lógica, dedutiva, experimental, ligada as ciências físicas, químicas e
biológicas. A mecânica celeste desenvolvida por Johanes Kepler e fundamentada e
ampliada com a gravitação universal desenvolvida por Isaac Newton embasou
grande parte do funcionamento orbital da Terra e do sistema solar. A névoa
ligada ao desconhecido papel do Sol, da Lua e dos planetas sobre a vida na
Terra, foi dissipada através da observação científica do funcionamento dos
corpos celestes. A fase astrológica enunciadora de profecias ligadas aos fins
dos tempos já poderia ser superada a partir das revoluções científicas ligadas
ao renascimento. Os profetas vivos do apocalipse seriam eclipsados pelo saber. Porém,
o terceiro milênio, caracterizado por uma Revolução Industrial e tecnológica
avassaladora, não fez sucumbir a “picaretagem milenar dos iluminados profetas
do fim do mundo”.
Que o
planeta Terra não é eterno é óbvio. Que fenômenos de grande porte e
devastadores ocorreram ao longo dos quase cinco bilhões de anos desde a criação
da Terra, também é óbvio. Afirmar que a utilização dos artefatos nucleares que
existem sob controle de algumas potências militares, uma Guerra Nuclear,
provocaria um Inverno Nuclear que poderia levar a extinção de um grande número
das espécies vegetais e animais do planeta e de um extraordinário número de
seres humanos, também é óbvio (apesar deste cenário não fazer parte de um
horizonte breve -felizmente).
Mas predizer
que em tal data, um fenômeno de impacto e devastação global oriundo de um corpo
físico ou fenômeno extraterrestre possa ocorrer é puro exercício de ficção ou
de má-fé. Se os astrônomos detectarem que um asteróide está sendo atraído pelo
campo gravitacional da Terra e se chocará com o planeta em determinado prazo,
isto é uma informação a ser levada a sério. E não seria um fenômeno estranho ao
longo de bilhões de anos mas a chance de acontecer em nosso tempo de existência
é mínimo. A Terra não é uma esfera azul pairando estática tendo por fundo o
Cosmos. Ela foi criada a partir de uma inimaginável turbulência (contendo materiais
pesados do que um dia foram estrelas as quais também não são eternas) e até o
presente interage com os corpos que fazem parte do sistema solar.
Mas as
grandes mudanças e as mais próximas, estão no subsolo do planeta. A aparente
firmeza do solo não passa de uma ilusão pois estamos em cima de placas
tectônicas que estão em movimento tendo por base um oceano de lava. Por vezes,
em várias partes do planeta, esta lava flui em forma de fenômenos vulcânicos.
Mais comum são as placas se chocarem ou se acomodarem e provocarem os
terremotos e maremotos, fenômenos que podem ser devastadores. O planeta se
situa num cenário em que os humanos são a espécie que controla e dizima outras
espécies. Porém, muitas vezes, ao devastar certos ecossistemas provocam a difusão
mundial de doenças ou assiste a mutação de cepas de espécies não totalmente
controláveis como os vírus influenza. A devastação dos recursos naturais e não
renováveis e dos mananciais de água potável também são cenários preocupantes
frente a uma população que já supera sete bilhões de habitantes e que continua
a crescer de forma insustentável. É claro que a vantagem de um grande
cataclismo astronômico (para os amantes do fim do mundo) é a devastação global e
sem negociação, enquanto estes fenômenos antrópicos podem se estender por
décadas com tentativas de solução através do desenvolvimento de técnicas ou
grandes movimentos sazonais de grandes contingentes de população (no caso da
elevação do nível dos oceanos e da inundação dos complexos urbanos e industriais
situados junto à zona costeira dos continentes).
Por mais que
os apocalípticos tentem prever (e não consigam acertar datas), eles estão certo
numa coisa: o planeta em algum momento do futuro sofrerá uma devastadora
destruição. Não há como saber se quando isto ocorrer os seres humanos ainda estará
no planeta ou terão se destruído em guerras nucleares ou convencionais. Ou se a
aceleração do processo de aquecimento global (este um fator de curta e média
duração gravíssimo ligado a crescente emissão de CO2 na atmosfera) leve ao
desaparecimento da maioria dos habitantes após conflitos que podem lembrar o
filme “Mad Max”. Ou ainda se explosões solares sem precedentes possam assar qualquer
forma viva e fizer os oceanos ferverem na maior panela de pressão que possa ser
imaginada. Multifacetados são os cenários...
É preciso
lembrar que as formas de vida são passageiras e evolutivas, a espécie humana é
uma destas formas que se constituiu como hominídeos a menos de cinco milhões de
anos e como homo sapiens a pouco mais de 50 mil anos. São tempos breves em
relação ao tempo cósmico que se estende por mais de 14 bilhões de anos. Os
planetas, as estrelas e as galáxias, não são perenes mas estão situadas em
dinâmicas de criação e destruição, num processo chamado “Big Bang” cuja
fronteira final de expansão pode ser eterna.
O que nos
espera no próximo dia 21 de dezembro de 2012, o dia do “Fim do Mundo”. Alguns
argumentos e contra-argumentos para o fim e especialmente para o não fim do
mundo neste dia, tratarei na próxima matéria.
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