Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 8 de maio de 2018

ÂNGELO DOURADO E AS CRÔNICAS NO ECO DO SUL

Recentemente participei de uma banca de defesa de Doutoramento em Letras da Universidade Federal do Rio Grande (área de concentração em História da Literatura). Marcelo França de Oliveira defendeu a tese “O Cronista Maragato: literatura e história nas crônicas de Ângelo Dourado publicadas no Eco do Sul (1896-1902)”. A tese está voltada ao campo da história política do Rio Grande do Sul, o pensamento liberal maragato e a atuação de Dourado enquanto militar e cronista na imprensa rio-grandina.
Ângelo Dourado (Salvador, 1857; Jaguarão, 1905) foi coronel-médico na coluna de Gumercindo Saraiva e um dos fundadores do Partido Federalista (1892). Projetou-se politicamente nos municípios de Bagé, Jaguarão, Santa Vitória do Palmar e Rio Grande (onde residiu), estabeleceu-se profissionalmente e participou da elite política e intelectual dessas localidades. Com a eclosão da Revolução Federalista (1893-1895) participou como médico ao lado dos federalistas e combateu os castilhistas até o final do conflito.  Ele efetuou o registro de suas observações e visões da guerra sob forma de cartas dirigidas à sua esposa. Este precioso material foi organizado por Dourado e publicado enquanto diário-epistolar no livro “Voluntários do Martírio – fatos e episódios da guerra civil” (publicado em Pelotas pela Livraria Americana em 1896), tornando-se uma das mais importantes fontes para conhecer a “revolução da degola”.
O médico baiano (que realizava operações e era oftalmologista) escreveu mais do que cartas sobre o conflito: uma vasta produção de crônicas foi publicada em jornais.  Inclusive no jornal da cidade do Rio Grande Eco do Sul (fundado em 1858). Dourado era um típico intelectual de fins do século XIX: erudito, costuma citar, em seus escritos, passagens célebres de autores clássicos da Literatura universal como Dante Alighieri, Camões, Miguel de Cervantes, Shakespeare, Lord Byron, Milton, Rousseau, Victor Hugo, além dos brasileiros José de Alencar e Visconde de Taunay. Ele manteve a sua inclinação à atividade da escrita, campo em que atuava nos mais variados segmentos, desde os trabalhos específicos concernentes à sua atividade profissional, os diversos artigos publicados na imprensa, e até mesmo obras literárias. Em decorrência do modelo estabelecido de medicina social, a figura do médico e do cientista social, nas faculdades de Medicina do século XIX, se confundem, dando origem a um tipo de intelectual com intervenção política e social. Dourado defendia princípios liberais (iluminismo-liberalismo) contra o positivismo que caracterizou os republicanos de orientação fundada em Júlio de Castilhos. Na perspectiva liberal, o Estado existe para garantir a segurança, a propriedade e a liberdade dos cidadãos, neste caso, a resistência contra a opressão era legítima para Dourado, que acusava o governo castilhista de tirânico, opressor e cerceador das liberdades. Fiel às suas convicções, afirmava não seguir homens, mas ideias, ao passo que sempre destacava, ao longo de seus escritos, valores como honra, dignidade, honestidade, que serviam de contraponto aquilo que criticava.   
A tese de Marcelo França de Oliveira desenvolve uma análise histórico-literária das crônicas do médico maragato publicadas no jornal Eco do Sul. As crônicas escritas por Dourado após os reveses sofridos na Revolução Federalista revelam certo desencanto, em decorrência da derrota, armistício e anistia. Com o tempo, o desencanto foi transformando-se em solidez discursiva, outros objetos colocaram-se à sua frente, prontos para serem analisados. O modo mais formal, sisudo, erudito, aos poucos foi ganhando novas cores e o estilo foi abrandando, adquirindo até mesmo um tom coloquial, mais ameno, no decorrer das crônicas publicadas no diário rio-grandino, mas sem perder o modo extenso, detalhistas e com críticas ao projeto de poder de Júlio de Castilhos.
A tese permite revisitar e descobrir outras facetas, a partir de escritos inéditos, de um dos personagens mais destacados nos primórdios da República no Rio Grande do Sul. 

Ilustrações: Ângelo Dourado (de barba). Acervo: Museu Benjamin Nogueira.







Um comentário:

  1. Tenho dúvidas sobre o ano da morte do Dr. Ângelo Dourado. E qual o ano que veio p o RS.

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