Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

FORTE DE SÃO MIGUEL

As fortificações militares marcaram a formação histórica do atual município do Rio Grande. A posição estratégica da Barra do Rio Grande levou Portugal a implementar o processo de ocupação militar em fevereiro de 1737. O contexto era de guerra contra os espanhóis no Rio da Prata pela posse da Colônia do Sacramento (no atual Uruguai). Tendo início com a construção do Forte Jesus-Maria-José - projeto do Brigadeiro José da Silva Paes -, Rio Grande foi o palco da construção de várias baterias e fortificações até o ano de 1777 quando ocorre a reconquista do Rio Grande do Sul pelos portugueses frente a ocupação espanhola. Estes testemunho de um tempo de guerra entre lusitanos e espanhóis, apesar de permanecer vivo em mapas e documentos do século XVIII, desapareceu do conjunto arquitetônico local: o material perecível (barro, madeira e vegetação) não permitiu que estes testemunhos do passado chegassem ao tempo presente.
Uma maneira indireta de se aproximar do formato e funcionalidade das fortificações como o Forte Jesus-Maria-José e do Forte da Barra (dois entre cerca de dez fortificações com formatos diferenciados), é visitar o Forte  de São Miguel no Chuy.  
Os conflitos militares foram devastadores para a fortificação localizada no Uruguai (a poucos quilômetros da linha de fronteira com o Brasil) que ficou abandonada desde o final da guerra de independência do Uruguai (1825-1828) até a restauração ocorrida a partir de 1928. A construção em pedra possibilitou que parte das estruturas se mantivessem visíveis o que não ocorreu com o barro que foi a matéria-prima de construção em Rio Grande (devido a ausência de rochas na região).
O Fuerte de San Miguel está localizado a 6 quilômetros ao sul da Lagoa Mirim no Cerro de San Miguel, Chuy, no Departamento de Rocha. Um sistema de defesa básico (terra e palha) de campanha foi construído pelos espanhóis em 1734 e durou pouco tempo. Com a ocupação da Barra do Rio Grande em fevereiro de 1737, o engenheiro militar e fundador do Rio Grande brigadeiro José da Silva Paes elaborou uma planta para construção de uma fortificação em forma de polígono retangular em alvenaria de pedra e com dois baluartes nos lados menores.  Em 1740 a estrutura já apresentava quatro baluartes pentagonais e edificações internas erguidas em alvenaria e pedra. O fosso ainda não fora construído. Com a ocupação espanhola de 1763, a fortificação recebe novas obras (engenheiro Bernardo Lecocq). A construção do fosso é prevista desde 1772 e a forte assume o formato hoje conhecido em 1797.
 A documentação registra o ataque/morte sofrido por soldados que faziam a vigilância noturna da área externa: pumas e jaguares eram os responsáveis. O temor por rondas noturnas deve ter feito parte do imaginário destes soldados lançados na solidão do pampa uruguaio-rio-grandense.
Abandonado desde a década de 1820, na década de 1920 é criada uma comissão composta por militares e pelo historiador Horacio Arredondo que defenderam a reconstrução do “Fuerte” com base nas plantas originais e com técnicas de cantaria e construção utilizadas no século XVIII. Foram reconstruídas/restauradas a Casa do Comando, a casa da Palamenta, a Capela, a Cozinha e os quartéis da tropa além de toda a estrutura dos baluartes, fosso, cemitério etc. O forte foi declarado Monumento Nacional em 1937 e é administrado pelo Estado Maior do Exército da República Oriental do Uruguay. Um Museu de História Militar permite uma visualização ao turista do que seria o cotidiano de uma fortificação militar no século XVIII.

Se o material disponível fossem rochas e “se” tivesse ocorrido a manutenção destas estruturas (além de especulação imobiliária etc etc), os cerca de dez fortes/baterias que foram edificados em Rio Grande (parte sul da Barra) poderiam ser um consistente fator de atração “turística ímpar” a emoldurar o cenário paisagístico do Estuário da Lagoa dos Patos em seu encontro com o Oceano Atlântico. 

: Forte de São José da Barra do Rio Grande (eng. Militar Alexandre Montanha-1777, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro).

Forte de São Miguel.

Forte de São Miguel. 


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