As fortificações militares
marcaram a formação histórica do atual município do Rio Grande. A posição
estratégica da Barra do Rio Grande levou Portugal a implementar o processo de
ocupação militar em fevereiro de 1737. O contexto era de guerra contra os espanhóis
no Rio da Prata pela posse da Colônia do Sacramento (no atual Uruguai). Tendo
início com a construção do Forte Jesus-Maria-José - projeto do Brigadeiro José
da Silva Paes -, Rio Grande foi o palco da construção de várias baterias e
fortificações até o ano de 1777 quando ocorre a reconquista do Rio Grande do
Sul pelos portugueses frente a ocupação espanhola. Estes testemunho de um tempo
de guerra entre lusitanos e espanhóis, apesar de permanecer vivo em mapas e
documentos do século XVIII, desapareceu do conjunto arquitetônico local: o
material perecível (barro, madeira e vegetação) não permitiu que estes
testemunhos do passado chegassem ao tempo presente.
Uma maneira indireta de se
aproximar do formato e funcionalidade das fortificações como o Forte Jesus-Maria-José
e do Forte da Barra (dois entre cerca de dez fortificações com formatos
diferenciados), é visitar o Forte de São
Miguel no Chuy.
Os conflitos militares foram devastadores para a
fortificação localizada no Uruguai (a poucos quilômetros da linha de fronteira
com o Brasil) que ficou abandonada desde o final da guerra de independência do
Uruguai (1825-1828) até a restauração ocorrida a partir de 1928. A construção
em pedra possibilitou que parte das estruturas se mantivessem visíveis o que
não ocorreu com o barro que foi a matéria-prima de construção em Rio Grande
(devido a ausência de rochas na região).
O Fuerte de San Miguel está
localizado a 6 quilômetros ao sul da Lagoa Mirim no Cerro de San Miguel, Chuy,
no Departamento de Rocha. Um sistema de defesa básico (terra e palha) de
campanha foi construído pelos espanhóis em 1734 e durou pouco tempo. Com a
ocupação da Barra do Rio Grande em fevereiro de 1737, o engenheiro militar e
fundador do Rio Grande brigadeiro José da Silva Paes elaborou uma planta para
construção de uma fortificação em forma de polígono retangular em alvenaria de
pedra e com dois baluartes nos lados menores. Em 1740 a estrutura já apresentava quatro
baluartes pentagonais e edificações internas erguidas em alvenaria e pedra. O
fosso ainda não fora construído. Com a ocupação espanhola de 1763, a
fortificação recebe novas obras (engenheiro Bernardo Lecocq). A construção do
fosso é prevista desde 1772 e a forte assume o formato hoje conhecido em 1797.
A
documentação registra o ataque/morte sofrido por soldados que faziam a
vigilância noturna da área externa: pumas e jaguares eram os responsáveis. O
temor por rondas noturnas deve ter feito parte do imaginário destes soldados
lançados na solidão do pampa uruguaio-rio-grandense.
Abandonado desde a década de
1820, na década de 1920 é criada uma comissão composta por militares e pelo
historiador Horacio Arredondo que defenderam a reconstrução do “Fuerte” com
base nas plantas originais e com técnicas de cantaria e construção utilizadas no
século XVIII. Foram reconstruídas/restauradas a Casa do Comando, a casa da
Palamenta, a Capela, a Cozinha e os quartéis da tropa além de toda a estrutura
dos baluartes, fosso, cemitério etc. O forte foi declarado Monumento Nacional
em 1937 e é administrado pelo Estado Maior do Exército da República Oriental do
Uruguay. Um Museu de História Militar permite uma visualização ao turista do
que seria o cotidiano de uma fortificação militar no século XVIII.
Se o material disponível
fossem rochas e “se” tivesse ocorrido a manutenção destas estruturas (além de
especulação imobiliária etc etc), os cerca de dez fortes/baterias que foram
edificados em Rio Grande (parte sul da Barra) poderiam ser um consistente fator
de atração “turística ímpar” a emoldurar o cenário paisagístico do Estuário da
Lagoa dos Patos em seu encontro com o Oceano Atlântico.
: Forte de São José da Barra do Rio Grande (eng. Militar Alexandre Montanha-1777, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro). |
Forte de São Miguel. |
Forte de São Miguel. |
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